O fim desta pandemia continua incerto, quase uma miragem. Os seus efeitos na economia real nacional têm sido trágicos e devastadores, com o Estado a optar por investir os parcos recursos que nos têm sido dados pela Europa em si próprio, restando quase nada para a necessária recuperação da economia ou para travar a crise social que começa a instalar-se.

Estamos perante uma das maiores crises financeiras conhecidas, com um défice de 8,4% do PIB este ano, a dívida pública a disparar para 133,8% da riqueza anual nacional e o Estado mais endividado do que nunca. E um dos setores que esta pandemia mais tem afetado é o Turismo, justamente aquele que nos ajudou a sair da última crise. A todos os agentes desta atividade – hotelaria, restauração, comércio local, operadores turísticos, transportes, etc. – está a sair bem cara esta pandemia.

Em 2019, as receitas do Turismo no território nacional ascenderam aos 18 mil milhões de euros. Segundo dados do Banco de Portugal, hoje conhecidos, a queda nos primeiros oito meses do ano (até agosto) foi de mais de 55,8% nas receitas, sendo que os efeitos da pandemia só se fizeram sentir mais a partir de março.

Ainda assim é de assinalar que, apesar da quase inexistência de turistas estrangeiros, registou-se uma subida do turismo interno em zonas como o Norte, Centro e Alentejo, em detrimento do Algarve, Lisboa e Porto. Consumiu-se mais turismo rural e de natureza, do que de litoral e das áreas metropolitanas, as principais regiões turísticas do país. Esta alteração dos padrões de consumo no Turismo, com a procura dos destinos mais próximos de casa, mais isolados, com menor densidade populacional, terá vindo para ficar. Contudo, no bolo global e sem setor externo, representa muito pouco e, na verdade, o país não está, nem estava preparado para esta alteração.

As estatísticas do Banco de Portugal vêm agora revelar o quanto ficou por ganhar e as perdas efetivas em relação ao ano passado do montante que representam as receitas dos turistas estrangeiros em Portugal. As receitas do turismo de janeiro a agosto representaram 5,6 mil milhões de euros, e em 2019 no mesmo período tinham sido de 12,8 mil milhões de euros, menos 7,2 mil milhões de euros injetados na economia local.

A diferença é abissal. São 7,2 mil milhões de euros gastos a menos em Portugal, pelos efeitos da Covid-19 na implementação de medidas para travar o contágio da doença, nomeadamente, o confinamento social e a limitação à circulação de pessoas, sobretudo da Europa, EUA e Brasil – principais mercados emissores – que ao não viajarem para o estrangeiro, ou ao fazê-lo de forma mais comedida, despenderam menos.

Os receios quanto ao futuro e à evolução da pandemia, em conjunto com a crise económica que se instalou, trazem uma enorme perda de poder de compra para as famílias. Tenho insistido nos meus escritos que necessitamos de aproveitar muito bem os muitos milhares de milhões de euros que a Europa está a pôr à nossa disposição. Impõe-se mesmo muita sabedoria, rigor e critério na aplicação deste dinheiro, na medida em que é um apoio determinante para combater esta crise económica e social e transformá-la numa nova oportunidade para o futuro de todos os portugueses.

Projetar o período pós-crise e a nossa recuperação económica, em que o Turismo é só um exemplo, é determinante para o nosso futuro coletivo. A nossa missão deve ser mitigar e vencer os efeitos da pandemia, preparar o futuro para a prosperidade, para o desenvolvimento socioeconómico. O apoio da Europa será importantíssimo para superar esta conjuntura e o nosso esforço é fundamental para dela sair com êxito.