A grande agitação recente na China foi o anúncio da aplicação de novas sanções norte-americanas a empresas do país por um suposto auxílio à Rússia na Guerra da Ucrânia. Ficou óbvio que Washington, DC, tentou, uma vez mais, assenhorear-se da ordem global e impor sua vontade a todos os países do mundo.

Numa ordem unipolar, como aquela que observamos após o final da Guerra Fria, esta imposição até seria exequível. No entanto, no mundo atual, com o histórico de dois pesos e duas medidas constantemente aplicados pelo Ocidente, esta possibilidade inexiste. Afinal, a Guerra na Ucrânia é para liberar os territórios ocupados pela Rússia ou se trata mais de um confronto terceirizado para preservação de hegemonia?

Está claro que Washington não pretende um fim à guerra na Ucrânia até o final do ciclo eleitoral deste ano. De fato, para Washington, a Ucrânia se tornou um ativo útil: guerra a um inimigo histórico dos Estados Unidos, recuperação da dependência europeia na defesa e no comércio, e tudo isso sem o custo político de soldados norte-americanos mortos em combate. Washington conseguiu, ainda, demonizar a China, criar o medo de uma “invasão iminente” russa na Europa e ainda por cima incrementar as vendas de armas e outros equipamentos à Europa e Ásia.

O fato é que a Europa empobreceu com esta guerra e a Rússia, contrariamente, até cresceu. Os erros de estratégia, por parte dos Estados Unidos e da NATO, têm elevado o custo do conflito a um patamar cada vez maior que o contribuinte europeu necessariamente arcará com enorme dificuldade. Se a Ucrânia perder – o que é uma possibilidade real, diante das falhas na contraofensiva, um exército idoso e uma tragédia demográfica que demorará décadas para recuperar – a conta do pós-guerra e do rearranjo global será elevadíssima.

Bruxelas já deveria saber que sanções não funcionam e ter compreendido que a Guerra na Ucrânia e o apoio irrestrito ao governo de Netanyahu são contraproducentes para o futuro da Europa. As sanções impostas a Beijing prejudicam os mercados globais, que precisam, desesperadamente, recuperar-se economicamente. O mundo precisa de mais globalização e menos de sanções.

Os desafios são imensos e crescentes do dia seguinte ao fim da Guerra na Ucrânia. Refletir e repensar estratégias constituem elementos fundamentais para garantir à Europa relevância numa nova ordem internacional que se consolida cada vez mais. Esta é a realidade.