Um estudo recente da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) mostra que as dinâmicas demográficas dos países da União Europeia (UE) são justificadas em grande parte pelo nível de vida relativo inicial e o diferencial de crescimento face à média da UE e retira conclusões para Portugal. Neste artigo abordo apenas uma pequena parte das conclusões e propostas, na área da saúde. A decomposição das dinâmicas demográficas de Portugal em 1999-2022 revelou fatores não económicos (além dos estimados) favoráveis na maioria das componentes. Na taxa de mortalidade, o valor médio de 1,032% no período (11ª posição na UE, cujo valor foi de 1,012%) repartiu-se entre 1,102% por fatores económicos e – 0,070% por fatores não económicos, que impediram um valor ainda mais acima da média da UE. Esses fatores não económicos revelam características estruturais de redução da mortalidade, que o estudo atribui principalmente à qualidade dos nossos cuidados de saúde na média do período alargado de análise, onde pouco pesarão os problemas do Serviço Nacional de Saúde (SNS) nos últimos anos
Este fator positivo parece contrariar fatores negativos relevantes apontados noutros estudos que baixam a esperança de vida dos portugueses, como o pouco exercício físico (face aos padrões da UE), maus hábitos alimentares e, em geral, a falta de prevenção e literacia em saúde, levando a uma alta incidência de mortalidade por doenças evitáveis e uma esperança de vida saudável inferior à média da UE. Assim, para mantermos uma mortalidade abaixo da média da UE por fatores não económicos é preciso repor a qualidade do SNS, o que requer investimento e, sobretudo, melhor gestão. Os resultados serão ainda melhores se houver uma forte aposta na literacia e prevenção em saúde, também crucial para o envelhecimento ativo (e a economia), sendo proposto um imposto especial sobre açúcar, sal, conservantes artificiais e edulcorantes nocivos em alimentos (sólidos e líquidos) processados – outros componentes nocivos não referidos no estudo, como gorduras trans industriais, deverão ser também contemplados –, a consignar ao SNS e à aposta na prevenção. Esta medida deve ser tida em conta pelos governantes, carecendo ainda de uma formulação mais concreta a cargo de especialistas nas áreas da saúde e fiscalidade. Em paralelo, precisamos de reformas que elevem o crescimento económico e o nível de vida, o que, segundo o estudo, também baixa a mortalidade.