É comum ouvirmos discutir os impactos que as mudanças ambientais têm, na saúde das populações e nos seus sistemas de saúde. De facto, somente na Europa as mortes por causas relacionadas com “ondas de calor” aumentaram 33% entre 2000 e 2018 e é projetado que os custos associados às urgências hospitalares e a internamentos relacionados com estas causas tripliquem até 2050.

Efetivamente, mesmo não conseguindo quantificar os impactos temos todos presente que a crise ambiental impacta a nossa saúde. Mas o que por vezes desconhecemos é a forma como este sector tem um impacto significativo no ambiente.

Na maioria dos países ocidentais, os respetivos sectores da saúde contribuem em 5% para as suas emissões globais de “green house gas” (GHG) e a pegada ecológica do sector global da saúde emite a mesma quantidade de GHG que 514 fábricas movidas a carvão emitiriam.

Estas emissões não advêm só do consumo de energia dos hospitais, mas também de pequenos gestos do dia a dia que se acumulam. Por exemplo, sete horas de anestesia com desflurano (2l/min) equivalem aproximadamente, em termos de emissões de GHG, a 15.700 km de viagem de carro e uma dose de aerossóis corresponde a uma viagem de carro de 280 quilómetros.

De uma forma geral, podemos dizer que os sistemas de saúde contribuem para a crise ambiental diretamente, através das deslocações dos seus profissionais e pacientes, através da utilização massiva de itens que não são reutilizáveis, através da utilização de gases nocivos e falta de sistemas apropriados de ventilação e filtragem de gases, ou até, através das dietas alimentares preconizadas, e indiretamente, através do consumo de energias poluentes e da utilização de produtos gerados de forma poluente.

Algumas iniciativas surgem já no sentido de colmatar esta situação, mas sem dúvida que será necessária a participação de todos os intervenientes do sector para que ações mais concretas sejam postas em prática.

Na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP26) 50 países, entre eles Portugal, comprometeram-se a: realizar auditorias ambientais a todas as unidades de saúde; desenvolver um Plano Nacional de transformação do sector de saúde num sector com baixo impacto ambiental e facilitar o acesso a fundos para essa transformação.

O principal objetivo é que estes 50 países adaptem os seus sistemas de saúde de forma a chegarem a uma situação de emissões neutras de GHG, mas até ao momento apenas 14 países projetaram legislação no sentido de assumirem esse o compromisso oficial até 2050.

Entre esses 14 encontram-se vários países europeus de onde nos chegam excelentes exemplos, como é o caso do University Hospital Basel (Suíça) que tem como objetivo ser neutro nas emissões de GHG em 2050 e para o efeito criou uma comissão ambiental no seu seio, reportando diretamente ao Conselho de Administração.
Nos últimos anos, o trabalho conjunto dessa comissão e de todos os profissionais do Hospital, já conseguiu reduzir o consumo total de energia de 2019 para 2020 em 3%, reduzir a utilização de materiais descartáveis em 12% e de desperdícios em 6%, entre os anos de 2017 e 2020 e durante 2020 conseguiram reduzir a comida desperdiçada em 5471 kg. Além disso, neste momento o hospital só adquire energia renovável.

Como este, muitos outros exemplos existem, de sistemas de saúde que estão a tomar as rédeas da situação, de formas mais ou menos organizadas. Devemos apoiar-nos nesses exemplos e torná-los mais expressivos em todo o mundo.

Afinal como disse Tedros Ghebreyesus: “Os hospitais em todo o mundo são fontes constantes de produção de carbono, através da utilização de recursos significativos e equipamentos sorvedores de energia. Isto é talvez irónico, considerando que como profissionais clínicos o nosso compromisso é “first, do no harm”. Os locais onde tratamos os doentes deveriam estar na vanguarda da proteção ambiental e não a aumentar as doenças provocadas por problemas ambientais”.