Num universo simplista, em que os hospitais públicos, privados e público-privados sofrem de uma concorrência pouco saudável, mantém-se fundamental recentrar o discurso e a ação no foco essencial: o cidadão. Um utente nunca deixa de ser um cliente, pelo que é essencial saber servi-lo como tal, dando-lhe alternativas de qualidade, e escolha livre consoante a sua necessidade.

Apesar de serem estruturalmente distintos, a saúde pública e a privada têm apresentado uma complementaridade comum. Por um lado, temos um serviço institucionalizado pelo Estado, em que o Público tem o dever constitucional de servir a comunidade, na maioria das vezes de forma gratuita. A condição primordial é que este preste um serviço de qualidade, acessível a todos. No outro lado do espectro, temos um serviço regularizado por entidades privadas que, apesar de ter o mesmo objetivo que o Público, só é acessível a determinada condição económica, ou por via indireta (seguros de Saúde).

Existem várias perspetivas para abordar esta realidade, mas devemos começar por quem usufrui dos serviços hospitalares, assim como por quem os presta. Do lado de quem usufrui, espera qualidade acima de tudo, que se traduz em celeridade de resposta e confiança no serviço. Do lado de quem presta, é essencial haver uma gestão pormenorizada dos serviços e, acima de tudo, dos recursos humanos – médicos, enfermeiros e técnicos auxiliares. É nestes recursos humanos que assentam todas as características assinaladas – qualidade, celeridade e confiança.

Infelizmente, em Portugal, assistimos a um serviço de saúde pública onde há uma enorme qualidade dos recursos humanos, mas que pela sua gestão ineficiente, descuidada e excesso de carga de trabalho, são milhares de utentes portugueses que esperam meses, ou até mesmo anos, por uma consulta, deixando-se ficar com um serviço de saúde de qualidade, sem dúvida, mas lento e descuidado, levando a que haja pouca confiança.

Qual é a solução? Copiar os bons exemplos. Vejamos o caso de França, em que a cobertura do Seguro Nacional de Saúde foi expandida a todos os cidadãos, há mais de 20 anos, por parte do sistema nacional de saúde do país. A Alemanha, parte dos 15 países com o melhor Sistema Nacional de Saúde da Europa, que se rege por um sistema público-privado, financiado por contribuições estatutárias, que lhes permite diminuir o custo e o tempo de espera dos utentes. Os Países Baixos que, ao implementar um seguro básico de Saúde obrigatório, garantem a subsistência de um serviço de melhor qualidade, através do pagamento de impostos.

Num modelo que priorize a eficiência, estabelecer objetivos para o curto/médio prazo pode tornar-se benéfico, de forma a diminuir substancialmente os tempos de espera, aumentar as chamadas de acompanhamento com cuidados pessoais e criar guias hospitalares de fácil utilização, para os hospitais públicos. Também o foco nos resultados hospitalares deve tornar-se uma prioridade, de forma a reduzir a taxa de readmissão hospitalar e, por sua vez, o intervalo entre pacientes. A introdução de OKRs (Objectives & Key Results), para monitorizar e acompanhar a eficácia dos profissionais de Saúde (médicos, enfermeiros e TAS), com o fim de aumentar e multiplicar o resultado de tratamentos e curas para os pacientes.

Resta-nos a esperança de que o novo caminho que está a ser tomado pelo SNS, com a nomeação de um CEO, que deverá implementar uma estratégia de organização focada numa correta gestão, seja a resposta necessária. Temos bons recursos humanos no ativo, pelo que urge uma organização em que possam pôr as suas competências a render em prol do utente/cidadão.