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Sauditas tentam limpar manuais escolares e sermões do ódio a judeus e cristãos

O príncipe herdeiro saudita quer alterar a perceção muçulmana sobre outras religiões. Mas o país, nomeadamente a população, não parece preparado para secundar os Emirados e o Bahrein na sua aproximação a Israel.
23 Setembro 2020, 17h20

A Arábia Saudita já disse que não irá seguir as decisões dos Emirados Árabes Unidos e do Bahrein, que estão a agir ativamente para normalizarem as relações diplomáticas e económicas com Israel, mas o príncipe herdeiro saudita está a exercer influência para que o tradicional odio contra judeus e cristãos que marca os manuais escolares e os sermões nas mesquitas seja estancado.

Segundo a imprensa israelita, o governo da Arábia Saudita está a pressionar as autoridades para alterar a perceção pública sobre os judeus e os cristãos – o que seria feito não só nos manuais escolares e no ambiente geral retrado nos órgãos de comunicação social, mas também (essencial no mundo muçulmano) na abordagem que os imãs das mesquitas fazem à questão das diferenças religiosas.

São muitos os exemplos de livros escolares onde as histórias que denigrem judeus e outros não-muçulmanos – chamados de ‘porcos’ e ‘macacos’ – são abundantes, mas Mohammed bin Salman quer combater estes extremismo.

“O governo saudita também decidiu proibir a depreciação de judeus e cristãos nas mesquitas”, disse o analista saudita Najah al-Otaibi, citado pelo jornal ‘The Times of Israel. “A retórica antijudaica era comum nas orações de sexta-feira dos imãs nas mesquitas em todo o mundo”.

O jornal conta mesmo a história de uma surpreendente reviravolta: um pregador da cidade, Abdulrahman al-Sudais (o imã da Grande Mesquita de Meca, a cidade santa) desencadeou este mês uma tempestade nas redes sociais quando falou sobre as relações amigáveis ​​do profeta Maomé com os judeus, defendendo assim uma tolerância religiosa que esteve sempre ausente das suas prédicas.

Entretanto, Marc Schneier, um rabino norte-americano com relações conhecidas com governantes árabes, disse, citado por vários jornais do país, que “no que tem a ver com o estabelecimento de relações entre a Arábia Saudita e Israel, é uma questão não é ‘se’, mas ‘quando’”.

Mas os dois lados do problema sabem que a aproximação formal entre sauditas e israelitas continua a ser  muito difícil, desde logo porque a opinião pública na Arábia Saudita é declaradamente favorável aos palestinianos. Qualquer desvio desta postura poderia ser desfavorável ao governo e colocar em causa a figura do príncipe herdeiro.

Dados de uma rara sondagem de opinião pública saudita publicada no mês passado pelo Washington Institute for Near East Policy sugerem que muitos cidadãos sauditas não são a favor de um acordo com Israel: apenas 9% dos sauditas aceitam que o relacionamento entre os dois países venha a ser normalizado – e mesmo esses parecem considerar como aceitável apenas a hipótese de estabelecimento de relações ao nível dos negócios, dos contactos desportivos e pouco mais.

Seja como for, aindas está na memória de muitos o momento em que Mohammed al-Issa, clérigo saudita que lidera a Liga Mundial Muçulmana, viajou para a Polónia para fazer parte dos eventos que marcam os 75 anos da libertação do campo de extermínio nazi de Auschwitz.

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