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Se compra da Nowo falhar “não muda de todo o plano estratégico”, garante CEO da Vodafone

O presidente executivo (CEO) da Vodafone Portugal faz, em entrevista à Lusa, um balanço “muito positivo” do mandato e diz que se compra da Nowo falhar, isso “não muda de todo o plano estratégico” que a operadora tem.
21 Abril 2024, 10h25

Luís Lopes diz que o melhor é “aguardar a decisão definitiva após a consulta às partes interessadas todas”, depois de o projeto de decisão da Autoridade da Concorrência (AdC) ter sido negativo.

“Sou um otimista por natureza e, portanto, acredito que até à decisão ser definitiva é sempre possível mudar uma decisão”, admite o CEO da Vodafone, que assumiu estas funções em abril do ano passado.

“Faço um balanço muito positivo deste primeiro ano e do ponto de vista profissional a Vodafone fez um percurso que eu considero bastante positivo neste ano”, acrescenta, referindo que a empresa tem uma estratégia de crescimento, de enfoque no cliente e na simplificação de processos com os seus clientes.

Nestas três vertentes “considero que fizemos um progresso bastante positivo”, prossegue.

“Atingimos um milhão de clientes fixos, somos o operador que mais cresceu quota de receitas neste período, alargámos o 5G a mais de 95% da população, continuámos a investir e desenvolver as nossas infraestruturas, melhorámos o serviço ao cliente, reduzimos as reclamações, portanto, genericamente considero um ano bastante positivo para a Vodafone”, sintetiza Luís Lopes.

A liderança da Vodafone Portugal traduz-se também no regresso do gestor, que já trabalhou nas operadoras concorrentes, a Portugal depois de “uma década” a residir no estrangeiro.

“É um país que tem obviamente um peso muito importante para mim, pessoalmente”, pelo que também “foi um marco que considero francamente positivo” o de poder “regressar” a Portugal, assume.

E é ao assumir o mandato que também acompanha o processo de compra do quarto operador de telecomunicações, a Nowo.

“É um processo que quando cheguei já estava a iniciar-se” uma investigação aprofundada, recorda.

“Iniciámos o processo de pedido de parecer à Autoridade [da Concorrência] em novembro de 2022, a Autoridade em abril de 2023 emitiu um parecer a dizer que tinha que ir para investigação aprofundada e, portanto, iniciou-se esse período no mesmo momento em que eu cheguei aqui à Vodafone Portugal” e neste período de um ano “andámos em discussões, conversas e debates com Autoridade relativamente à interpretação” que a AdC “faz do impacto desta operação de concentração na concorrência em Portugal”, recorda.

E neste âmbito há um “desacordo relativamente ao impacto que achamos que essa operação tem, a Nowo é uma operação com uma quota de mercado muito pouco significativa em Portugal”, aponta, referindo que a concentração “resultaria num operador de telecomunicações que teria a mesma posição relativa, teria uma quota de mercado ligeiramente superior à que tem hoje a Vodafone”.

Ou seja, “estamos a falar de menos de dois pontos percentuais, não consideramos” que seja “uma operação que traga preocupações de natureza concorrencial”, mas pelo contrário, “consideramos uma operação que poderia trazer vantagens para os clientes (…)”, até porque a Nowo opera uma rede que precisa de investimentos e que está desatualizada, diz.

Aliás, “tínhamos como plano poder migrar os clientes todos para redes de última geração, nomeadamente a rede de fibra da Vodafone e, por isso, nesse sentido, achávamos que esta operação teria era mérito para o país e não prejudicial do ponto de vista concorrencial”, explana Luís Lopes.

E qual é o plano B se a operação falhar? “Aqui não há um plano A nem um plano B, nós achávamos que esta operação tinha estas vantagens (…), se a operação não se concretizar, não muda de todo o plano estratégico que a Vodafone tem”, assevera o CEO.

“Vamos manter o mesmo plano que tínhamos (…), a operação não é uma operação transformacional para a Vodafone Portugal, estamos a falar de uma operação relativamente pequena, comparativamente com a operação da Vodafone Portugal”, reforça o gestor.

Questionado sobre o 5G, Luís Lopes diz não conseguir “precisar “o número” de quanto é que a Vodafone Portugal investiu nesta tecnologia, mas uma coisa é certa, a construção da rede tem sido o “principal investimento nos últimos dois anos” da empresa, chegando a pouco mais de 95% da população.

“E isso é uma coisa importante porque nós, fruto de termos tido um leilão bastante extenso em tempo, ou seja, deve ter sido dos leilões de espectro mais extensos – marcou um período em que havia alguma maior animosidade com o regulador setorial – e começámos já tarde a fazer desenvolvimento de 5G”, ou seja, a indústria em Portugal, sublinha.

Contudo, “a resposta da indústria foi muito positiva, fizemos fortíssimos investimentos nestes dois anos logo a seguir” à atribuição do espectro “e com isso conseguimos recuperar muito terreno perdido em termos de infraestrutura, comparativamente com outros países europeus”.

E o que falta? “Os últimos 5%” de cobertura de 5G, remata.

“Vamos continuar a investir” na expansão do 5G, que é “uma grande oportunidade” para o setor empresarial “poder continuar na senda da digitalização, da alteração de muitos dos seus processos com maiores automatismos e, portanto, acreditamos que um primeiro passo é ter a cobertura do 5G”.

O segundo passo, acrescenta, “é conseguir ter maior utilização de 5G, em particular como processo transformacional da própria indústria, da própria produtividade da economia cá em Portugal e, portanto, continuaremos a trabalhar nesse sentido”, salienta.

Aliás, “temos vários exemplos em que conjugamos tecnologias 5G, inteligência artificial para trazer algumas dessas melhorias para junto de algumas indústrias em concreto e achamos que esse é o caminho para continuarmos a garantir que o que nós trazemos é valor para os clientes”, até não se pretende vender a nova tecnologia porque é nova, mas tem de ser algo “que represente uma mais-valia” para os clientes.

Sobre se teme a entrada do quinto operador, Luís Lopes diz que já há muitos serviços e ofertas no mercado português e que a operadora está preparada.

“Não vejo que que a Digi vá trazer nada de novo relativamente a isso e, portanto, nesse aspecto, estamos bem preparados para receber novos entrantes, novos operadores”, conclui.

Sobre o concurso para a cobertura das zonas brancas que está a decorrer, a Vodafone está interessada como utilizadora dessas redes que vão ser contruídas.

“Portanto, levar a marca Vodafone nos sítios onde essas redes forem construídas como clientes de quem construir essas redes”, diz o CEO.

“Achamos que o investimento continua a ser um investimento difícil, apesar de todas as comparticipações que estão associadas a esse concurso”, pelo que “achamos bem, que esse concurso faz sentido existir, mas não seremos, em princípio, uma entidade que vá construir rede”, conclui Luís Lopes.

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