A atividade dos contabilistas continua dificultada por burocracia e redundâncias, denunciam vários agentes do sector, numa altura em que este vive uma fase de transformação e aceleração que deveria permitir aos seus profissionais focarem-se cada vez mais na essência da atividade, o acompanhamento aos empresários.
Esta foi uma das ideias fortes da mesa redonda “Futuro da Contabilidade”, promovida esta segunda-feira pelo JE com o apoio da PLMJ, e no qual foram debatidos desafios e tendências para a área. As preocupações ambientais, sociais e de governança (ESG) são um dos temas incontornáveis no futuro da contabilidade, mas o paradigma de burocracia excessiva em Portugal dificulta esta evolução.
Isaque Ramos, advogado e sócio da área de Fiscal da PLMJ, começou por destacar o “tempo que se leva a cumprir obrigações fiscais” em Portugal, que o Banco Mundial estima, através de um questionário aos empresários, em 243 horas anuais. Isto “compara com 50 horas na Estónia ou 95 na Lituânia”, acrescentou, colocando o nosso país em linha com economias como o Zimbabué ou a Índia e abaixo de alguns países africanos de língua portuguesa, como Moçambique ou Cabo Verde.
Isto cria ineficiências na prática, argumenta Armando Inocentes, partner do Grupo Moneris, que relembra um “conjunto de redundâncias que poderiam ser eliminadas” no que respeita à obrigação de reporte financeiro das empresas. Pegando nas palavras da bastonária Paula Franco, responsável pelo discurso de abertura da sessão, o partner da Moneris defendeu que os contabilistas “continuam a trabalhar muito para o Estado”, num ambiente em que “a questão da contabilidade [está] intrinsecamente ligada à fiscalidade”.
Para Luís Batista, verifica-se, de facto, que “o papel do contabilista é uma evolução face a uma postura mais conservadora e tradicional que tinham, muito por intervenção externa”, o que se materializa no profissional “deixar de ter uma posição passiva” para acompanhar mais de próximo os negócios dos seus clientes.
Tal, continua, exige uma postura mais pró-ativa, de “tomar iniciativa de interlocução com os clientes, alargar perspetivas”, até porque o contabilista é, muitas vezes, reforçado pelo facto de ser “a única pessoa que contacta regularmente [com a empresa] vinda de fora”, dando alguma racionalidade aos negócios.
Neste capítulo, as soluções tecnológicas ao serviço da contabilidade têm ganhado uma importância acrescida, não só pelo contexto pandémico, mas também pelos ganhos de eficiência que permitem.
Cláudio Carneiro, business manager da Cloudware, destacou isso mesmo, recordando precisamente o papel que teve a sua empresa no sentido de permitir que o contabilista vá organizando o seu tempo focando-se nas tarefas que constituem o núcleo da sua atividade, especialmente na “confusão enorme” que se gerou durante a Covid-19 relativa às medidas de apoio ao tecido empresarial.
Além do acompanhamento das operações dos clientes, os ganhos tecnológicos permitem acelerar outras dimensões da vida das empresas, incluindo “facilitar a abertura do negócio”, sublinhou Mário Moura, diretor executivo da Mário Moura Contabilidade, ou impactar em novas realidades como os criptoativos e blockchain ou os critérios ESG, que têm vindo a crescer a um ritmo assinalável.
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