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Consultoras de gestão lidaram com incerteza na pandemia a “dois tempos”

Dada a relação próxima com os clientes, o sector de consultoria refletiu a experiência pandémica das empresas com quem trabalha, tendo-se posicionado como um parceiro chave para a adaptação dos negócios ao “novo normal”.
16 Outubro 2021, 18h00

O impacto da pandemia foi transversal a quase todas as áreas de atividade, com aquelas onde o contacto presencial se afigura indispensável a enfrentarem as consequências mais adversas das restrições pandémicas, ao passo que o os sectores mais desmaterializados e inovadores se adaptaram rapidamente e, nalguns casos, até conseguiram uma maior projeção e crescimento durante o período pandémico. A consultoria de gestão, trabalhando com as mais variadas áreas de atividade, experienciou estes diferentes impactos, sendo que o sector em si mostrou uma capacidade de adaptação que o beneficiou no médio prazo.
Dada a incerteza que revestiu os primeiros meses de pandemia, a resposta do sector de consultoria fez-se a várias velocidades e em diferentes campos, explicam ao JE os sócios e gestores de várias das principais empresas desta área em Portugal.

“Foi claramente uma resposta a dois tempos. Um primeiro, onde a incerteza que a pandemia trouxe levou uma parte considerável das organizações a fazerem uma pausa nos projetos que tinham planeados”, começa por referir Miguel Cardoso Pinto, líder da EY Parthenon, continuando.
“Num segundo momento, ficou evidente que a realidade nunca voltaria ao status quo pré-pandemia, pelo que as organizações perceberam que, em vez de esperarem por uma maior definição do futuro, era importante defini-lo. Isto levou a um aumento considerável de projetos, muitos deles inovadores ou orientados a transformações consideráveis dos seus negócios.”
Dada a natureza da atividade de consultoria, esta é bastante influenciada pelo comportamento dos seus clientes, com as consultoras a incorporarem grande parte dos desafios que enfrentam as operações das empresas que recorrem a serviços de consultoria. Paulo André, managing partner da Baker Tilly, lembra precisamente este aspeto, em que empresas clientes em áreas que aceleraram consideravelmente durante a pandemia ou, pelo menos, conseguiram manter um nível relativamente estável de atividade tiveram um impacto bastante distinto na consultoria do que clientes em sectores mais tradicionais.

“As indústrias mais tradicionais ressentiram-se da redução da atividade, baixaram vendas e afrouxaram o ritmo dos projetos ou adiaram a sua implementação, o que teve um impacto negativo na atividade das consultoras. […] Por outro lado, negócios digitais, assentes na exploração de uma tecnologia, escaláveis e pouco dependentes de restrições de transporte ou logística cresceram e prosperaram”, afirma, argumentando que “as consultoras que tiveram clientes em carteira com estas características aumentaram os seus serviços ou puderam fazer algum offset com a diminuição de serviços para clientes de indústrias mais tradicionais”.
Assim, e dada a variedade de situações em que se encontraram os seus clientes, as consultoras viram-se obrigadas a desenvolver respostas em várias vertentes, explica Cristina Sousa Dias, partner da BDO.
“De forma sintética diria que o mercado de consultoria respondeu em três grandes vertentes: intensificou comunicação com clientes com opiniões e troca de experiências sobre como ultrapassar os desafios, assessorou na melhor forma de usufruir dos apoios disponíveis e apresentou muitas oportunidades de desenvolvimento do negócio”, detalha.

Este esforço por parte das consultoras fortaleceu a relação que estabelece com os clientes, considera Miguel Afonso, partner e head of markets da KPMG, dado que estes compreenderam “que a capacidade de resposta dos consultores, a sua resiliência, proatividade e capacidade de adaptação eram chave para apoiar as organizações neste período de grandes desafios”.
“Por outro lado os clientes também perceberam que existem um conjunto de matérias onde o outsourcing pode ser a chave para o futuro deixando de ficar tão dependentes da sua capacidade interna, o que pode ser crítico numa situação similar”, acrescenta, o que permite concluir que “o mercado reagiu bem muito também fruto da forma como as equipas responderam às necessidades e desafios dos clientes.”

Ainda assim, os desafios foram muitos e não se esgotaram com o maior controlo sanitário experienciado a partir do primeiro trimestre deste ano.
“De uma forma geral, apesar do primeiro semestre de 2020 ter assistido ao adiamento ou cancelamento de alguns projetos, o mercado de consultoria manteve-se resiliente ao impacto da pandemia, em termos de turnover e da força de trabalho. 2021 iniciou-se com um backlog considerável de grandes programas de transformação que, ou vieram de 2019, ou foram iniciados agora”, detalha Gabriela Teixeira, Consulting Lead Partner da PwC.

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