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Semapa: pasta & papel dominam exportações, cimentos resistem

No ano passado, a Semapa conseguiu atingir um volume de exportações de 1.664,9 milhões de euros, cerca de 75,8% do volume de negócios global da holding criada por Pedro Queiroz Pereira para a área industrial na pasta & papel (The Navigator Company), cimentos (Secil) e ambiente (ETSA).
16 Março 2019, 08h00

Do output deste conglomerado industrial, a maior fatia é da responsabilidade da celulose e dos eucaliptos, da transformação da fibra em pasta, e da sua posterior conversão em papel, com acrescidas mais valias, deste o UWF (não revestido), para impressão de superior qualidade, até à mais recente aposta no tissue. Pelo caminho ficou, mas com apreciável encaixe para o grupo, a aposta na fábrica de pellets nos Estados Unidos, que se revelou como mais uma operação de grande encaixe financeiro para o empresário que criou o grupo, após a alienação verificada no final de 2017.

No ano passado, a Navigator contribuiu com 77% para o volume de negócios da Semapa e, ainda mais importante, com 83% para o respetivo EBITDA. Segundo um ranking a que o Jornal Económico teve acesso, elaborado pela consultora PricewaterhouseCoopers, referente ao final do exercício de 2015, os últimos que estão publicamente disponíveis, a The Navigator Company estava posicionada em 51º lugar da tabela das empresas do setor a nível mundial, listadas em função do respetivo volume de negócios. Nessa lista, a líder do setor da pasta & papel a nível global é a norte-americana International Paper, que atingiu em 2015 um volume de negócios de cerca de 22,4 mil milhões de euros, enquanto a Navigator surge com um volume de negócios de 1.769 milhões de dólares (ver gráfico ao lado). Portanto, a uma longa distância, mesmo que seja previsível que nos últimos anos a partir dessa data a empresa até há pouco liderada por Diogo da Silveira tenha subido algumas posições nesta lista.

Mas não é na vertente da faturação que mais sobressaem os dotes da The Navigator Company. Por exemplo, nesse mesmo ano de 2015, a empresa portuguesa de pasta & papel estava classificada em 20º lugar a nível internacional do setor no que respeitava a lucros. Um feito que a torna mais apetecível perante os grandes tubarões do próprio setor ou com uma vertente exclusivamente financeira. E esta potencial voracidade poderá ser ainda mais impulsionada se atentarmos num outro indicador da Navigator: em termos de EBITDA em função do total de vendas conseguido nesse mesmo exercício de 2015, a Navigator conseguiu chegar à fasquia dos 25%, sendo apenas ultrapassada por quatro empresas que se encontravam à sua frente em faturação no ranking elaborado pela PwC: a Hengan International, de Hong Kong (com o EBITDA a valer 28% do respetivo volume de negócios); a unidade mexicana da Kimberly-Clark (40%); e as brasileiras Suzano (51%) e Fibria Celulose (VCP+Aracruz), com o EBITDA a representar 57% do respetivo volume de negócios.

E apesar destas recentes mudanças na liderança executiva da empresa, os diversos especialistas do setor contactados pelo Jornal Económico consideram que o futuro da Navigator passa pelo crescimento por via aquisitiva. Com investimentos em curso em Portugal na vertente da produção de papel e de tissue nas suas diversas unidades industriais, parece evidente que o próximo passo do grupo para o crescimento passa pela aquisição de fábricas especializadas na conversão de bobines de papel em produtos acabados com maior valor acrescentado e mais margem de lucros junto dos consumidores. E também mais perto desses consumidores finais, para reduzir custos de produção, nomeadamente ao nível dos transportes. E neste sentido, as maiores probabilidades de surgirem investimentos da The Navigator Company nos próximos tempos, tendo em conta um relativo desafogo e disponibilidade de cash no balanço passa por Espanha, em particular na Catalunha, como o Jornal Económico avançou em primeira mão a 29 de outubro de 2017, ou em França, como diversas fontes nos adiantaram durante esta semana. Precisamente onde existem unidades industriais com solidez financeira e know how na produção de produtos acabados e convertidos de papel, como tissue, e que se encontram localizados muito mais perto dos grandes mercados consumidores europeus, como a própria França, a Alemanha, a Itália e toda a Europa Central, por exemplo.

No relatório e contas referente a 2018, recentemente divulgado, os responsáveis da empresa consideram que, no negócio de pasta, “sem anúncios de aumentos significativos de capacidade de produção de pasta para mercado nos próximos três anos e alavancadas no potencial crescimento da procura de pasta, designadamente pela China e sua expansão de capacidade de tissue, é expectável que as taxas de utilização de capacidade aumentem e permitam manter o nível do preço da pasta hardwood em níveis historicamente elevados”.

“A Navigator implementou com sucesso o aumento de preços anunciado em Novembro na generalidade dos seus produtos. Em simultâneo, a empresa está a arrancar com a sua nova fábrica de tissue em Cacia, que iniciou a produção de bobines em Setembro. O forte esforço comercial desenvolvido ao longo de 2018 permite perspetivar uma boa colocação da nova produção junto dos clientes, estando a empresa empenhada em crescer a sua quota de mercado acima do crescimento médio de mercado”, prevê a Navigator.

Já no caso do papel UWF, “espera-se em 2019 uma revitalização da procura na Europa nos primeiros meses do ano, principalmente nos mercados do centro, sul e este europeus”, enquanto na Europa ocidental, “os produtores têm vindo a implementar com sucesso o aumento de preço de UWF de 4% a 8% desde o início de janeiro”.

“Este enquadramento globalmente positivo para 2019 poderá, no entanto, sofrer com o acréscimo de alguns custos, em particular ao nível da energia, mantendo-se a preocupação com a evolução das taxas de câmbio, em particular do EUR/USD e EUR/GBP. Ao nível do ambiente internacional, as políticas favoráveis ao protecionismo e os seus efeitos colaterais poderão criar fatores adicionais de incerteza”, assinala a administração da empresa.

Cimentos valem 16% da faturação,Hotel Ritz e outros ativos fora da Semapa

A área dos cimentos não tem tido um desempenho tão brilhante. Fechou o ano passado com um volume de negócios de 482 milhões de euros, uma quebra de 3,4%. Apesar de estar presente na Tunísia, Líbano, Angola e Brasil, a participada do grupo para o setor, a Secil, contribuiu com apenas 16% para o volume de negócios consolidado do grupo. Mas tem conseguido resistir à quebra que há mais de dez anos se fez sentir no mercado interno da construção e das obras públicas.

“Em Portugal, as expectativas para 2019 são positivas. Os indicadores macroeconómicos apontam para um crescimento embora o nível de investimento público, condicionado pela gestão do défice seja um fator limitativo”, refere o relatório e contas da Semapa relativo a 2018. O mesmo documento acrescenta que, “após um crescimento estimado de 3,5% na produção do setor da construção em 2018, as previsões apontam para uma ligeira aceleração do seu ritmo de produção, antecipando-se um acréscimo real de 4,0% na atividade do setor em 2019”.

Nas frentes externas, a procura de cimento deverá diminuir no Líbano, enquanto no Brasil se prevê uma melhoria das condições. Há expectativas positivas para a Tunísia e para  Angola.

A Semapa detém ainda uma pequena empresa na área do ambiente, a ETSA, que faturou no ano passado menos de 25 milhões de euros. Valeu apenas 1% do volume de negócios e do EBITDA da holding. Uma mais recente aposta é a Semapa Next, uma unidade de negócio de capital de risco do grupo, em associação com a norte-americana Techstars, para apoiar e acelerar startups globais a partir de Lisboa.

Fora da Semapa, as herdeiras de Pedro Queiroz Pereira têm ainda interesses conhecidos na área hoteleira, turística e imobiliária, com projetos como a Quinta da Vialonga, Costa Terra (Grândola) e Herdade dos Fidalgos (Coruche), sendo de destacar o grande ativo do Hotel Ritz, no centro de Lisboa.

Artigo publicado na edição nº1978 de 1 de março do Jornal Económico

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