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Sementes de violência

O atentado de que Donald Trump, candidato republicano às presidenciais norte-americanas, foi alvo veio recordar o que estava aparentemente esquecido, convenientemente atirado para os fundilhos dos livros de história ou era simplesmente desconhecido: os Estados Unidos são um país profundamente violento. A incrível disseminação de armas pessoais, o histórico de mortes e atentados com motivações políticas e a agressividade confessada da agenda externa do país, não dão margem para que disso se duvide.
EPA/DAVID MAXWELL
21 Julho 2024, 14h00

Dizem os sábios que o coletivo americano se formou no espírito de fronteira, uma mistura de empreendedorismo mais ou menos suicidário, vontade de enriquecimento rápido e coragem um pouco desmiolada, que resultou na criação de um país imenso, com fronteiras porosas determinadas pelo livre arbítrio da vontade individual, e no extermínio das populações autóctones. Foi desse espírito que nasceu a vontade de independência e a primeira revolução do Ocidente – que impediu os ingleses de continuarem a aventura nas Américas e ofereceu aos franceses um exercício preliminar para a sua própria revolução, uns poucos anos mais tarde. Marie-Joseph Paul Yves Roch Gilbert du Motier, mais conhecido por Marquês de La Fayette, foi o “herói das duas guerras” que se dedicou a aprender de um lado para ensinar do outro.

A imensidão do território obrigou à importação de mão de obra escrava, como se os negros de África (que para lá haveriam de voltar criando a Libéria, em 1847) se tratassem de uma commodity (que eram de facto), uma mera maquinaria agrícola que era preciso alimentar com víveres em vez de manter funcional com lubrificante. Era um sistema economicamente eficaz (muitos anos depois, o economista francês Thomas Piketty haveria de dar-se ao trabalho de o dissecar), confortável para todos os stakeholders e indiscutível: os espíritos libertários dos fundadores da independência nada tinham contra, em princípio.

O assassínio como opção
Foi este espírito individualista – que se reservava o direito de promover a justiça individual por muito que ela fosse sumária (disparava-se primeiro e perguntava-se depois) – que resultou na morte de Abraham Lincoln, o primeiro presidente norte-americano assassinado no exercício de funções e que não constava que fosse especialmente dedicado às artes performativas apesar de ter disso morto enquanto via a peça de teatro “Our American Cousin”. Para servir de explicação pelo assassínio estavam as metástases da Guerra Civil (1861-1865, o ano da morte de Lincoln) – uma fratura que, mais de 150 anos depois, os norte-americanos ainda não conseguiram resolver e que responde pelo assassínio de Martin Luther King (1929) e de Malcom X (1925), entre milhares de outros homens – alguns deles às mãos da simiesca Ku Klux Klan, à qual os extremistas não resistem a regressar sempre que isso se afigure necessário.

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