Há pouco mais de treze anos escrevi um pequeno texto no extinto “Metro” com este mesmo título: “Ser culto para ser livre. A frase é de José Martí e podia ser vista por cima da montra de uma livraria mesmo em frente aos jardins do Palácio Real em Madrid. Na altura, pretendia destacar que o pouco desejo de conhecer e aprender acaba por limitar o indivíduo no longo prazo.

Novamente a caminho de Madrid a frase voltou-me à memória, mas agora associada à literacia financeira. Talvez seja um exagero, mas considero a iliteracia financeira um dos maiores flagelos das sociedades. A forma como as boas ou más decisões financeiras condicionam a vida de todos continua a ser muito desvalorizada.

Entendo que a literacia financeira se joga em dois planos, como uma moeda de duas faces. Uma delas passa por temas mais técnicos como o cálculo de juros, noções acerca de fluxos de caixa, crédito, inflação, poupança, investimento, sistema financeiro, impostos e muitos outros. A outra dimensão é mais conceptual exigindo a plena compreensão de que tudo o que se relaciona com dinheiro impacta a nossa liberdade.

O exemplo mais óbvio é o do endividamento, que nos pode condicionar em demasiadas escolhas, algumas delas críticas para a nossa felicidade como manter ou não um emprego ou um relacionamento, deixar de arriscar num negócio, mudar de cidade ou de vida! Boas ou más decisões financeiras são, frequentemente, meio caminho andado para a felicidade ou… para um inferno.

Esta noção mais holística de que a literacia financeira rima com liberdade está praticamente arredada da mente da maioria e está mais do que na hora de lhe darmos a plena atenção, de preferência desde a infância.