Começando por constatar o óbvio:
- É verdade que no nosso panorama político, mesmo com a fragmentação partidária, as lideranças de governo são protagonizadas pelo PS ou pelo PSD. Portanto, para haver uma mudança de rumo teria de ser com uma vitória do PSD.
- É verdade que o PS está muito, muito fragilizado. Nem precisamos de fazer grande esforço em explicar, porque, de qualquer perspetiva que se olhe, encontramos muitos argumentos.
- É verdade que para formar Governo, com o precedente aberto pela Geringonça, já não basta ganhar as eleições. Entramos, e creio que bem, numa era de Governos com suporte em maiorias parlamentares. Pedro Nuno Santos já afirmou que com ele voltaria a reeditar a Geringonça.
- O PSD já disse que não fará nenhum acordo político com o Chega e não governará se perder, nem que seja por um voto.
Posto isto, o PSD de Luís Montenegro pode ter-se limitado em margem de manobra pós-eleições. Para governar Portugal tem que ganhar as eleições de forma expressiva e conseguir formar uma maioria parlamentar, sem o Chega. Eu vejo isso muitíssimo difícil.
Os governos socialistas, em linhas gerais, querem absorver “Tudo” pelo Estado e governar esse “Tudo” com os impostos dos portugueses. De uma forma simplificada, temos visto que os Governos socialistas são muito centralizadores, controladores, paternalistas, limitando o país.
Um governo de direita é um modelo mais aberto, flexível e liberal. Terá de passar por baixar a carga fiscal dos portugueses, das empresas e reformar o Estado de forma a precisar de menores contribuições. Usar mais a iniciativa privada e tornar-se um Estado mais regulador do que gestor.
Temo que o PSD esteja a deitar por terra uma grande oportunidade de mudança.
Por um lado as sondagens mostram que o PSD não está a conseguir convencer os portugueses de que é uma grande aposta para a mudança de políticas. Isso é fundamental para ganhar com boa margem e formar uma maioria de direita, sem o Chega. Ora bem, mas se ganhar sem essa vantagem clara, precisa do Chega. Como disse que não faz acordos com o Chega, pode ganhar mas a vitória de nada lhe serve.
Como cidadão, este panorama não me deixa agradado, não só pela questão política, mas pela questão humana. Somos todos diferentes, é verdade, mas na construção de uma sociedade somos todos úteis, e os portugueses que optam por votar no Chega não podem ser considerados portugueses… diferentes.
Talvez o Chega precise de uma responsabilidade desta envergadura para ganhar sensatez. Eu não voto no Chega, mas isso não me impede de considerar que todos contam em democracia, essencialmente se todos querem, efetivamente, o mesmo para os portugueses.