A compreensão aprofundada da exposição aos riscos climáticos deve ser uma prioridade para o setor segurador, a quem cabe a responsabilidade de ser proativo na antecipação dos impactos, trabalhando tanto ao nível da sua mitigação como à adaptação necessária aos fenómenos climáticos extremos.

A título de exemplo, se olharmos para os últimos 20 anos e analisarmos os 25 eventos climatéricos mais graves, 18 ocorreram nos últimos 10 anos. Perante este facto, percebemos ainda que cada evento grave ocorrido no período entre 2013 e 2022 gerou, em média, para a Fidelidade, um prejuízo 60% superior ao dos eventos graves ocorridos entre 2003 e 2012.

Este agravamento dos prejuízos fica ainda mais evidente quando verificamos que os 4 eventos mais graves ocorreram nos últimos 10 anos: em 2013 (tempestade Gong), 2017 (incêndios florestais de 15 e 16 de outubro), 2018 (Tempestade Leslie) e 2019 (Tempestades Elsa e Fabien). Apenas o 5º evento mais grave dos últimos 20 anos não ocorreu desde 2013: ventos fortes na região oeste em dezembro de 2009.

As alterações climáticas representam um desafio abrangente, que transcende fronteiras e setores. No segmento empresarial, as seguradoras têm assumido compromissos públicos e estabelecido parcerias estratégicas com organizações comprometidas com a redução de emissões. Além de proporcionar cobertura contra riscos climáticos, estas parcerias incentivam práticas empresariais sustentáveis, contribuindo assim para uma economia mais verde e resiliente.

De forma paralela, as seguradoras têm feito investimentos significativos em tecnologias avançadas, como a georreferenciação, que permite uma análise minuciosa dos riscos em diferentes localidades. A tecnologia desempenha um papel crucial, com a utilização de análises de dados avançadas, modelagem climática e ferramentas de avaliação de riscos que permitem uma compreensão mais aprofundada dos cenários climáticos futuros.

Essa visão mais clara capacita as seguradoras a antecipar melhor os riscos e a desenvolver estratégias mais eficazes de adaptação a eventos climáticos extremos, numa atuação que tem de ser, necessariamente, sistémica. É crucial envolver todos os stakeholders – quer sejam entidades públicas ou privadas – que, porque apenas em conjunto será possível dar uma resposta atempada e eficaz aos desafios com que já nos deparamos hoje e que tenderão a aumentar.

Tendo acesso a uma quantidade tão grande de dados, o setor segurador tem a responsabilidade acrescida de impulsionar o conhecimento coletivo de modo a assegurar a resiliência das sociedades. Para além de que tem a responsabilidade de dar os incentivos certos aos agentes económicos no sentido de promover a transição necessária e urgente, numa perspetiva, acima de tudo, construtiva e que consciencialize para a mudança, tendo certamente resultados mais sólidos e sustentáveis que uma abordagem punitiva e restritiva.

As empresas e os particulares terão de alterar os seus comportamentos, e a promoção de ofertas que fomentem esta mudança – por exemplo, reduzir a utilização de veículo próprio, controlar o consumo energético numa empresa ou incorporar materiais e estruturas mais resilientes nos edifícios – serão alavancas poderosas para um futuro mais sustentável.

Os esforços de sustentabilidade do setor, não se concentram, então, apenas na gestão de sinistros, mas também na adoção de um papel proativo, liderando esforços para o aumento da literacia do clima e da premente necessidade de redução do grave gap de proteção existente – segundo os dados da EIOPA, regulador europeu dos seguros, apenas 5% das perdas geradas por catástrofes naturais se encontra segura em Portugal ao dia de hoje.

Em conclusão, o setor segurador é impactado e, em paralelo, pode contribuir para a resposta aos desafios das alterações climáticas. As seguradoras devem continuar a liderar os esforços proativos na construção de um futuro mais sustentável, garantindo a resiliência e coesão da sociedade, sem esquecer a inclusão social dos que são mais desfavorecidos e que, simultaneamente, mais necessitam de proteção.

A combinação de estratégias inovadoras, parcerias estratégicas e o compromisso contínuo com a sustentabilidade posiciona as seguradoras como agentes determinantes na resposta global às alterações climáticas.