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Sinais de pico de bolha bolsista

A melhor forma de nos precavermos contra os efeitos nefastos de um crash que pode vir a acontecer em breve é aumentar o investimento em capital humano, liberalizar a economia através da diminuição das taxas de impostos sobre os rendimentos do trabalho e sobre os lucros das empresas, regular os mercados bancário e financeiro de modo a prevenir qualquer gestão irresponsável que acarrete danos a depositantes e contribuintes, diminuir a despesa pública, estimular a poupança das famílias e o investimento das empresas, desenvolver o conceito de economia circular, e criar mecanismos de poupança pública.
7 Dezembro 2020, 07h15

São vários os sinais de que podemos estar próximos dum pico de bolha bolsista a nível mundial. Tal bolha tem sido alimentada, desde 2008, por uma expansão de magnitude inédita dos balanços dos bancos centrais, algo que ficou conhecido internacionalmente por quantitative easing. Que sinais são esses:

1 – Capitalização bolsista desconectada do PIB. Um primeiro sinal de bolha vem das próprias bolsas. O quociente “Capitalização Bolsista das Empresas High Tech dos EUA / PIB EUA” ronda os 43%, o que é um quociente 26% superior ao verificado no auge da bolha tecnológica de 2000. Se tomarmos a capitalização bolsista total em vez da tecnológica apenas, o panorama não é muito diferente: a “Capitalização Bolsista Total dos EUA / PIB EUA” ronda os 179%, o que constitui o valor mais alto de sempre, 25% acima do valor no auge da bolha tecnológica de 2000. Resta destacar, entre tantos outros sinais que poderiam ser destacados, que novembro de 2020 foi o melhor mês para o Índice Dow Jones desde janeiro de 1987, mês que precedeu em 9 meses a segunda-feira negra de 1987.

2 – Sobre-endividamento generalizado. Um segundo sinal de bolha diz respeito ao sobreendividamento de um número enorme de países, governos, empresas e famílias. São já 3 os países com uma posição bruta de endividamento superior a 200% do PIB, e 18 países acima dos 100%, incluindo quase todos os pesos pesados da economia mundial: Japão (266%), Itália (162%), EUA (131%), França (119%), Canadá (115%) e Reino Unido (108%).

3 – Bizarrices financeiras. Tem sido anormal o número de fenómenos pouco razoáveis que se têm acumulado nos mercados financeiros nos últimos meses: uma torrente de ofertas públicas iniciais de ações (IPO), grande concentração de mercado num único setor e em poucas ações, papéis de segunda classe com capitalizações enormes, desempenhos fantásticos de ações de empresas suspeitas de fraude, reações exageradas a desdobramentos de ações economicamente irrelevantes, recompras de ações (share buybacks), volumes de negociações muito altos em instrumentos especulativos, entre outras.

4 – Níveis de confiança persistentemente baixos. 11 meses depois do início da pandemia, os níveis de confiança continuam abaixo dos níveis pré-pandémicos. Algo de semelhante aconteceu nos meses que antecederam o início da Grande Depressão (1929).

Todos estes sinais tornam significativa a probabilidade de um crash bolsista até ao fim de 2021. O facto de as taxas de juros estarem historicamente baixas faz com que os instrumentos à disposição dos bancos centrais para reagirem a um crash sejam particularmente ineficazes.

A melhor forma de nos precavermos contra os efeitos nefastos de um crash que pode vir a acontecer em breve é aumentar o investimento em capital humano, liberalizar a economia através da diminuição das taxas de impostos sobre os rendimentos do trabalho e sobre os lucros das empresas, regular os mercados bancário e financeiro de modo a prevenir qualquer gestão irresponsável que acarrete danos a depositantes e contribuintes, diminuir a despesa pública, estimular a poupança das famílias e o investimento das empresas, desenvolver o conceito de economia circular, e criar mecanismos de poupança pública.

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