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Sistemas de saúde versus sistemas de doenças

Gostaria de ver um sistema verdadeiramente de saúde, que ajudasse mais os utentes a terem saúde, pela positiva, mais focado na prevenção e na promoção de estilos de vida saudáveis. E pouparíamos muito dinheiro aos contribuintes.
8 Julho 2019, 07h15

Por vezes pergunto-me se os autodenominados sistemas de saúde que por aí andam não serão antes sistemas de doenças, isto é, sistemas muitíssimo mais especializados em tratar sintomas de doenças do que em promover hábitos saudáveis e preventivos.

Entre os fatores mais importantes para uma vida longa e saudável estão:

1 – Uma boa higiene do sono;

2 – Um estilo de vida ativo, não sedentário, e com uma adequada exposição solar;

3 – Uma dieta equilibrada que hidrate e nutra adequadamente o organismo com os nutrientes essenciais e que evite a sua intoxicação;

4 – O cultivo de emoções positivas.

No entanto, os recursos utilizados para a promoção de decisões acertadas quanto a estes fatores são uma parcela reduzida dos recursos dos sistemas de saúde. E, pasme-se, mais de ¾ dos recursos são utilizados nos 2 últimos anos de vida dos utentes. Então qual é o principal objetivo do sistema de saúde? Não seria mais económico e promotor do bem-estar um sistema de saúde que se centrasse essencialmente na ajuda ao utente em fazer escolhas acertadas para ter uma vida longa e saudável? Comparando com os incêndios florestais, parece-me que estamos a investir quase só no combate, deixando para trás o ordenamento do território e a prevenção.

Queremos um sistema de saúde que trate de nós depois de passarmos uma vida inteira sedentária, comendo batatas fritas, bebendo refrigerantes, fazendo noitadas e fumando? Ou queremos um sistema que nos ajude desde pequenos a dormir bem, que nos explique como é importante caminhar regularmente, que nos estimule a bebermos mais água e menos refrigerantes? Como escreveu o Dr. Hiromi Shinya, cirurgião pioneiro em técnicas colonoscópicas modernas, «Melhorar o estilo de vida quotidiano é muito melhor do que apostar na eficácia da cirurgia ou dos medicamentos» (In “A Enzima Prodigiosa”, Arena, 2014, p.23).

Já agora, convido-o a fazer um auto-exame. Toma frequentemente algum medicamento anti-inflamatório? Sabe quais os efeitos secundários? Sabe se ajuda a provocar hiper-permeabilidade intestinal? E leu a bula? Quanto gasta por ano? E nesses 12 meses, usou curcuma (açafrão-daterra) na cozinha? Sabia que é o principal anti-inflamatório da natureza, e que se o usar regularmente vai melhorar o intestino, os pulmões, o coração e diminuir as chances de ter Alzheimer, Parkinson e cancros? Podemos fazer um exercício semelhante para analgésicos, ansiolíticos, antibióticos, antidepressivos ou anti-inflamatórios.

O problema é que a nutrição é menos lucrativa do que a indústria farmacêutica. Infelizmente demasiada gente abusa dos anti-inflamatórios (sem saber sequer os efeitos secundários) e nem ouviu falar da curcuma. Demasiada gente abusa dos analgésicos e nem sabe que pode estar, com isso, habilitando-se a fazer hemodiálise ou um transplante renal. Gostaria de ver as câmaras municipais que ajudam na comparticipação dos medicamentos de idosos (e os partidos que prometem fazer o mesmo) distribuírem também folhetos informativos sobre dicas para dormir bem e sobre quanta água deverá beber por dia, ou sobre a importância dos alimentos fermentados e probióticos. Gostaria de ver um sistema verdadeiramente de saúde, que ajudasse mais os utentes a terem saúde, pela positiva, mais focado na prevenção e na promoção de estilos de vida saudáveis. E pouparíamos muito dinheiro aos contribuintes.

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