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Sobe a tensão entre tropas israelitas e a força de paz da ONU no Líbano

Forças de paz são ‘escudos humanos’ para o Hezbollah, diz Netanyahu – que acusa os militares da Unifil de, não saindo do lugar onde estão ‘desobedecendo às ordens’ de Israel, se prestarem a usados pelo Hezbbolah.
Israeli Prime Minister Benjamin Netanyahu speaks during a ceremony to show appreciation to the health sector for their contribution to the fight against the coronavirus disease (COVID-19), in Jerusalem June 6, 2021. REUTERS/Ronen Zvulun
14 Outubro 2024, 07h30

A retórica repete-se por todos os campos de guerra de Israel, e as forças de manutenção da paz no Líbano (da ONU) não escaparam: são também, na ótica do governo de Benjamin Netanyahu, escudos humanos para que elementos do Hezbollah consigam escapar com vida às forças de defesa de Israel (IDF). E como tal, são, ainda na ótica de Israel, inimigos que devem ser atacados e, na medida do possível, removidos.

A tensão já começou há vários dias, mas este fim-de-semana evoluiu. Os militares israelitas alertaram a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) para evacuar o sul do Líbano, enquanto realiza operações aéreas e terrestres contra militantes do Hezbollah, mas as forças de paz até agora recusaram sair. Netanyahu disse, citado pelos jornais israelitas, que a recusa em sair “tem o efeito de fornecer escudos humanos aos terroristas do Hezbollah”. Ou seja, a Unifil é neste momento “refém do Hezbollah”.

“Lamentamos o ferimento dos soldados da Unifil e estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para evitar esse ferimento. Mas a maneira simples e óbvia de garantir isso é simplesmente sair da zona de perigo”, disse o primeiro-ministro israelita num vídeo dirigido ao secretário-geral da ONU, António Guterres, recentemente proibido de entrar em Israel.

Os militares ordenaram que as forças de paz se movessem 5km para o norte, o que efetivamente os impediria de cumprir a sua missão, salientam as agências noticiosas internacionais. Mesmo não tendo saído do lugar que ocupavam, as forças da ONU interromperam as patrulhas por causa dos ataques aéreos e terrestres.

A Unifil é uma missão de cerca de 9.500 soldados de várias nacionalidades e foi criada após a invasão do Líbano por Israel em 1978. Desde então, nunca mais houve condições de acabar com a missão, uma vez que a vizinhança do Estado hebraico nunca foi totalmente pacífica. Desde 2006, a força da ONU tenta monitorizar um cessar-fogo que encerrou uma guerra de 33 dias entre Israel e o Hezbollah. A presença de Israel novamente em solo libanês dá-se, segundo o executivo de Netanyahu, precisamente para fiscalizar e repor aquilo que na altura foi acordado.

Quarenta nações contribuintes da Unifil disseram este fim-de-semana que “condenam veementemente os recentes ataques” contra as forças de paz. “Tais ações devem parar imediatamente e devem ser adequadamente investigadas”, dizia uma declaração conjunta. Inesperadamente, uma das vozes mais audíveis da crítica a Israel vem da parte da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que disse que os ataques às forças de paz da ONU no Líbano são inaceitáveis. A Itália é um contribuinte significativo para a missão da ONU. Em conversa telefónica com Netanyahu, Meloni pediu a “implementação total” da Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU sobre o Líbano e enfatizou a necessidade urgente de uma diminuição da tensão na região.

Indiferente aos pedidos vindos de todo o lado, as IDF voltaram este domingo a atacar a Unifil, que relatou novas violações israelitas contra as suas posições, incluindo o que descreveu como a entrada forçada de tanques israelitas pelo portão principal das suas instalações.

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