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“Soluções como o renting flexível garantem necessidades de mobilidade”, garante responsável da ALF

A crise dos chips e a dificuldade na aquisição de viaturas obrigou as locadoras a soluções inovadoras. O renting flexível é a solução para os clientes até à chegada do carro novo, afirma Pedro Pessoa, vice-presidente da direção da ALF – Associação Portuguesa de Leasing, Factoring e Renting
10 Março 2022, 08h05

O que é expectável relativamente ao comportamento da indústria da gestão de frotas tendo em conta que 2022 será um ano de recuperação, mas continuam a existir empresas fragilizadas pela pandemia?
As previsões das autoridades para a evolução da economia fazem crer numa recuperação do crescimento económico em Portugal, em linha, aliás, com as expetativas geradas pela aplicação dos fundos do Plano de Recuperação Resiliência (PRR) e pelo esperado fim da pandemia. Será importante analisar o desenrolar de outra camada de incerteza, essa sim que se espera que prolongue os seus efeitos ainda de uma forma evidente em 2022, especificamente, a crise de semicondutores que afeta a indústria desde meados do ano passado. Apesar de termos uma expetativa positiva para 2022, será necessário aguardar pelo desenrolar desta série de variáveis, merecendo igualmente atenção a formação do novo Governo e a aplicação dos fundos comunitários. Em todo o caso, o renting tem mostrado ser bastante resiliente em contextos mais adversos e não esperamos que este ano seja diferente.

O que foi feito pelas gestoras de frotas para se defenderem no último ano perante a redução da atividade económica? Houve extensão de contratos para prazos muito longos ou renegociações?
O ano passado foi marcado por uma ligeira recuperação no mercado automóvel, sendo que a frota gerida pelas rentings aumentou 1,1% para mais de 120 mil viaturas ligeiras. As nossas associadas de renting têm estado ao lado dos seus clientes ao longo desta pandemia, tal como já estiveram aquando da crise económica e financeira do início da década passada, e fizeram de novo um esforço para responder às necessidades das empresas, trabalhando em soluções conjuntas como é exemplo a extensão dos contratos existentes com os seus clientes. Como resultado das limitações verificadas nesta fase na aquisição de viaturas novas, os clientes que recorrem ao renting encontram soluções como o renting flexível que permitem garantir as necessidades de mobilidade do cliente até à chegada do carro novo.

A opção por veículos eletrificados para as empresas está em crescimento? Quando é que os eletrificados ultrapassarão os veículos com motores de combustão?
Claramente, o renting tem sido dos principais produtos para acesso a viaturas elétricas e tem-se observado essa tendência, paralela com o crescimento da diversidade de modelos novos. A atual frota em renting ainda tem primazia de veículos a gasóleo, mas com uma tendência decrescente acompanhada com uma curva de crescimento da contratação de viaturas elétricas. Quanto ao ponto exato de inflexão, o mercado tem as suas próprias dinâmicas, pelo que não é possível apontar com absoluta certeza o momento dessa transição para um mercado maioritário de veículos eletrificados, no entanto, essa transição deverá ser gradual e progressiva, tendo de ser obrigatoriamente acompanhada pela evolução e expansão da infraestrutura de carregamento pública. De qualquer modo, é importante ter em conta que as normas Euro VI asseguram eficiência bastante elevada nos veículos de combustão interna, pelo que não deverão ser desconsiderados de uma mobilidade mais sustentável e do cumprimento de Portugal com as metas ambientais, sobretudo perante um parque automóvel bastante envelhecido, como é o português. Numa altura em que a mobilidade sustentável é uma prioridade, além dos incentivos fiscais que incidem sobre os veículos híbridos e elétricos, o tema do incentivo ao abate deveria ser novamente reavaliado pelo governo. Substituir veículos com mais de 10 anos por veículos novos tem um impacto muito significativo nas emissões de CO2, o que não está a ser devidamente ponderado.

O receio do TCO para veículos elétricos e eletrificados está estabilizado? O mercado reage bem na recompra destes veículos?
A quota de veículos eletrificados no renting tem vindo a consolidar-se, correspondendo à previsibilidade que o sector assegura aos seus clientes. O eventual receio de desvalorização do veículo e do desgaste das baterias é mitigado pelo produto de renting, onde a locadora assume esses riscos. É ainda cedo para poder aferir com certezas como se vão posicionar os valores de mercado dos veículos elétricos usados com o tempo, no entanto as indicações dos primeiros anos são muito positivas.

E a propósito do interesse pelo mercado em segunda mão, como estão as expetativas no negócio dos usados?
A escassez de veículos novos faz com que a procura de usados tenha disparado nos últimos dois anos e, acompanhando essa procura, acontece a natural subida de preços. Isso é verdade em Portugal, mas também na grande generalidade dos países da Europa. É importante perceber que a Covid19 também teve um impacto no aumento da procura, em particular nos segmentos mais baixos, já que muitas pessoas que se deslocavam em transportes públicos procuraram ter o seu carro com medo da infeção, isto sem também negligenciar os efeitos da subida da inflação que se fazem sentir por toda a Europa. No entanto, é importante entender que estes efeitos de subida de preços que resultam de desequilíbrios temporários não se vão manter para sempre, e esclarecer que os contratos novos que estão a ser produzidos agora colocarão veículos usados nos mercados daqui a quatro anos e é por isso ilusório acreditar que se podem alinhar os valores residuais dos contratos novos com os valores de venda dos usados atuais, sem aumentar significativamente o risco de perdas financeiras no futuro.

O que está a ser motivo de constrangimento na gestão e frotas: a crise dos chips e menor possibilidade para disponibilizar viaturas; o receio de uma recuperação dos negócios com acidentes de percurso, caso da eventual subida dos juros; ou alterações fiscais a nível do OE2022 que será aprovado proximamente?
O sector automóvel sofreu em 2021 grandes constrangimentos no fornecimento de semicondutores, situação com reflexo negativo nas cadeias de produção da indústria a nível mundial. A contratação de viaturas novas em renting refletiu essa escassez de veículos novos, razão pela qual não recuperou ainda para níveis pré-pandemia. Há, contudo, a ressalvar o crescimento da frota total gerida face a 2020, resultado do esforço das rentings para apoiar e colmatar as necessidades dos clientes através do recurso a renting de viaturas usadas e ao prolongamento dos contratos existentes. Todas as questões abordadas anteriormente, desde a escassez de semicondutores, à formação do novo Governo, e consequente aprovação de um novo Orçamento de Estado, e a evolução da pandemia, irão ter um impacto na evolução do mercado de renting. Naturalmente que as alterações fiscais e o possível aumento da taxa de juros nos preocupam, mas o sector automóvel em Portugal está habituado a lidar com alterações constantes. No entanto, é importante relembrar que uma das razões que leva os clientes a optar pelo renting é precisamente o aconselhamento por parte das gestoras de frotas, que permite identificar as viaturas mais adequadas não só para a função a que se destinam, mas também de acordo com o seu enquadramento fiscal. Também a implementação de um sistema de incentivo ao abate de viaturas antigas e altamente poluidora seria apoiar a renovação do parque automóvel nacional, para a qual as nossas associadas de renting tanto contribuem.

O chamado pipeline gigante de encomendas que têm as gestoras é verdadeiro ou fictício, considerando que há dificuldade na compra de automóveis?
O pipeline é verdadeiro e resulta simplesmente do atraso na entrega dos carros novos. Se a cadência de entrega diminui drasticamente, mas não diminui na mesma proporção a cadência de entrada de encomendas, é natural que o pipeline aumente. Todos queremos voltar a níveis normais, mas isso apenas acontecerá com a normalização das entregas. As nossas associadas de renting, colocam maioritariamente encomendas às marcas que resultam de pedidos de clientes, não há nada de fictício nas carteiras de encomendas.

O mercado da gestão de frotas está a alargar-se no caso das empresas ou está a competir pelos mesmos clientes?
Como comprovam os números relativos aos contratos nos últimos anos pré-pandémicos, é crescente o número das empresas, e também já de particulares, que optam pelo renting para gestão das suas frotas. De 2015 a 2019 registou-se uma subida de 30% na produção de viaturas novas, de 28.547 para 37.402 veículos. A pandemia trouxe uma inversão natural ao ritmo de crescimento, facto que condiciona a análise no momento atual. Se compararmos ainda as taxas de adoção de renting com países como a Alemanha, Holanda ou Reino Unido, vemos que existe ainda caminho para crescer e expandir a base de clientes em Portugal. n

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