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Spinumviva e fait divers, a espinha dorsal desta campanha

A polémica em torno da empresa Spinumviva voltou e promete atormentar Luís Montenegro nas duas últimas semanas antes da ida às urnas. Politólogos antecipam que os partidos andarão ao sabor de casos e casinhos revelados pela comunicação social. Temas quentes como a saúde e a habitação serão discutidos mas q.b porque partidos não veem vantagem em abordar problemas “estruturais”. Menos destaque ainda terá a Defesa e até a Imigração (embora a AD tenha começado por aí mesmo com a notícia de que 4.500 imigrantes ilegais terão de abandonar o território nacional. Politólogo Adelino Maltez acusa os líderes dos principais partidos de “birras ideológicas” e defende que deviam ir para esta campanha com um acordo de regime para resolver os principais problemas do país.
contraproposta irrecusável
O primeiro-ministro, Luís Montenegro (E), recebe o secretário-geral do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos (D), para um encontro no âmbito das negociações do Orçamento do Estado para 2025, na residência Oficial de S. Bento, em Lisboa, 3 de outubro de 2024. MIGUEL A. LOPES/LUSA
5 Maio 2025, 07h00

Há muito que os partidos estão em campanha eleitoral, mas oficialmente começou este domingo, dia 4, duas semanas antes da ida às urnas. É o sprint final do caminho até às eleições legislativas de 18 de maio que arrancou num momento de maior tensão política entre a Aliança Democrática (AD) e oposição, em particular entre os principais candidatos a São Bento, e no dia do debate que juntou todos os partidos políticos com assento parlamentar, na RTP.

A contribuir para o acentuar da crispação está o regresso da polémica Spinumviva, caso que esteve na origem da queda do Governo há quase dois meses, com a divulgação dos nomes das empresas que fizeram negócio com Luís Montenegro. Depois de adormecido durante umas semanas, o assunto voltou à ordem do dia e vai marcar o debate político das próximas duas semanas, podendo ficar para segundo plano temas quentes como a saúde, a habitação, e até a defesa, antecipam politólogos ouvidos pelo Jornal Económico (JE).

Os novos dados sobre a Spinumviva constam da nova declaração de interesses que o ainda primeiro-ministro entregou, por obrigação, na Entidade da Transparência, há uma semana, um dia antes do debate com Pedro Nuno Santos. A notícia, avançada pelo Expresso, motivou duras acusações entre socialistas e social-democratas nos últimos dias. Montenegro “atrasou ao máximo aquilo que era uma obrigação declarativa” para que “os nomes não fossem conhecidos até à data das eleições”, concluiu o secretário-geral do PS. O PSD defendeu-se centrando o caso na questão da fuga de informação que diz ser “crime”, tendo chegado ao ponto de sugerir, pela voz do deputado Hugo Carneiro, uma investigação criminal para verificar o registo de chamadas dos deputados e apurar quem foi a fonte do jornalista do semanário.

Enquanto isso, a estratégia de Luís Montenegro é não falar da empresa que o assombra, nem das polémicas relacionadas com a mesma, e focar-se “nos problemas que realmente importam às pessoas”, disse-o, quando questionado sobre as declarações de Hugo Carneiro. Um esforço que não evitará que a oposição agarre o tema, “à falta de melhores argumentos”, afirma ao JE o politólogo José Palmeira, não largará o tema,

“Os partidos da oposição vão continuar a cavalgar o assunto. Mas é duvidoso que tenham grande ganho de causa com isso se atendermos de facto ao que têm sido os estudos de opinião que, de uma forma geral, dizem que os eleitores não estão a valorizar muito essa questão”, assinala o professor na Universidade do Minho. José Palmeira lembra que, muitas vezes, os partidos andam a “reboque” da comunicação social, pelo que deverão continuar a dar relevância ao que for sendo noticiado relativamente à empresa criada pelo primeiro-ministro ou outros assuntos “circunstanciais”.

Na ótica de José Palmeira, o facto de a Spinumviva ter ‘renascido’ no debate político é, também, “uma prova do conforto do Governo em relação às suas políticas”. “Se houvesse questões relativas à ação governativa dos mais diversos setores que fossem debilitantes para a AD, certamente que os partidos da oposição se agarrariam a elas”, sublinha o professor.

É certo que os pontos críticos, Saúde à cabeça e Habitação, serão abordados durante a campanha. Mas apenas pela rama porque PS e PSD “não veem grande vantagem” em discutir problemas estruturais que não podem ser resolvidos num ano e nos quais também os socialistas não estão isentos de responsabilidade, analisa Palmeira, observando que matérias como a Defesa e a Imigração não parecem estar muito presentes no debate político porque nenhum destes temas divide (agora) PS e AD  – embora a coligação PSD/CDS tenha arrancado a campanha eleitoral por aí mesmo, na sequência da notícia de que a AIMA vai notificar 4.500 imigrantes ilegais para abandonarem o país.

“Aquilo que vai estar mais presente na campanha são questões conjunturais que surgem no dia-a-dia, ou que são levantadas pela comunicação social ou que os partidos tragam”, resume Palmeira, antevendo que a oposição explore casos como a possível morte de uma pessoa devido ao apagão da semana passada.

Adelino Maltez também não perspectiva que a campanha seja dominada pelos problemas que interessam ao dia-a-dia dos portugueses. “Não querem é falar do que interessa. Onde é que vão arranjar dinheiro para pagar as Forças Armadas? Que tipo de reforma do Serviço Nacional de Saúde vão empreender?”, questiona o politólogo, constatando que PS e PS “não têm uma solução”. “Têm líderes que são tipos ‘suficiente +’. Não convencem. Portanto, é uma campanha morna. Vai dar mais ou menos na mesma coisa”, atira.

Maltez vai mais longe e acusa os principais partidos de cobardia e de “birras ideológicas” por não concertarem posições: “A verdade que nenhum dos dois diz aos portugueses é que são os dois, juntos, que têm de resolver as coisas mais importantes. São cobardes. Deviam ir para a campanha com um acordo de regime sobre estas matérias.

A governabilidade do país é, de resto, a grande incógnita destas legislativas, como já o era há um ano. Embora a sondagem mais recente, da Pitagórica, coloque os social-democratas com 34,8% e com possibilidade de, juntamente com a Iniciativa Liberal, formar a tão desejada maioria, a generalidade dos estudos mostra PS e PSD taco-a-taco. Mas até agora nenhum dos líderes se comprometeu com um cenário de governabilidade, designadamente garantindo a aprovação do Orçamento do Estado.

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