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Sporting: “De imediato, impõe-se a reestruturação financeira da dívida”, realça Samuel Fernandes de Almeida

Samuel Fernandes de Almeida, fiscalista da Vieira de Almeida e conhecido sportinguista, aponta ainda caminhos a médio prazo como a venda do ‘naming’ do estádio e até a colocação de novo empréstimo obrigacionista.
28 Fevereiro 2019, 19h24

No prospeto de colocação da admissão à negociação na Bolsa de Lisboa de 28 milhões de ações, correspondentes a 41,79% do capital da sociedade desportiva “leonina” e que são detidas pelo clube e pela Holdimo, o Sporting salientou que “à data do prospeto, o fundo de maneio da Emitente e os saldos de caixa e equivalentes de caixa não são suficientes para cobrir as suas necessidades de fundo de maneio nos próximos 12 meses (saldo entre os recebimentos e pagamentos de ativos e passivos correntes), necessidades estas que se estimam em cerca de 65 milhões de euros, dos quais 41 milhões de euros até 30 de junho de 2019”.

Ouvido pelo Jornal Económico, Samuel Fernandes de Almeida, fiscalista da Vieira de Almeida e conhecido sportinguista, acredita que a SAD está a sentir “uma forte pressão de tesouraria que exige respostas breves, nomeadamente em termos de reestruturação financeira”. Aponta ainda caminhos a médio prazo como a venda do ‘naming’ do estádio e até a colocação de novo empréstimo obrigacionista.

Viu com preocupação a informação de que os saldos de caixa no Sporting não são suficientes para cobrir as necessidades de fundo de maneio nos próximos 12 meses?

Acompanho com preocupação a situação financeira e desportiva do clube, fragilizada no último ano com a perda de ativos, manutenção de uma massa salarial muito significativa e ausência de prémios da Liga dos Campeões. Dificilmente um clube português pode ter um orçamento de mais de 70 milhões de euros e ou não vender ativos, ou não participar regularmente na Liga dos Campeões. O Sporting perdeu no verão passado essas duas ferramentas, pelo que a sociedade desportiva naturalmente que está a enfrentar algumas dificuldades.

 

O que podem os sócios do clube esperar quando estas necessidades são estimadas, pelo próprio Sporting, em cerca de 65 milhões de euros, dos quais 41 milhões de euros até 30 de junho de 2019?

Estes valores foram há pouco tempo divulgados em conferência de imprensa pela direção, sendo que já no tempo da Comissão de Gestão se falava em passivo de curto de mais de 40 milhões de euros. Trata-se de uma forte pressão de tesouraria que exige respostas breves, nomeadamente em termos de reestruturação financeira. Apesar de entender que toda a gestão de expectativas e comunicação tem sido muito deficiente, quero acreditar que a informação ora divulgada não encerra nenhuma especial novidade, antes decorrendo das obrigações de informação impostas pela Comissão de Mercado de Valores Mobiliários. Questiono-me se não teria sido de escalonar o timing desta operação de colocação em bolsa para depois de concluída uma parte da reestruturação em curso.

Creio, todavia, que se mostra crucial que a direção aponte claramente as soluções que tem em mente e que anuncie com brevidade o projeto desportivo que tem em mente. A comunicação e gestão das expectativas é decisiva num clube desportivo.

A insuficiência de recursos, estimada para o final de abril de 2019, coloca o Sporting em que posição?

Creio que não chegaremos a esse ponto e que o clube honrará seus compromissos sem necessidade de alinear ativos desportivos.

Antecipação de receitas, venda de ativos ou novos patrocínios: qual a solução mais viável para que o Sporting ultrapasse esta situação?

Para o imediato, creio que se impõe a reestruturação financeira da dívida e como uma das medidas a antecipação de receitas poderá ser a mais viável. Creio que o ‘naming’ do estádio e a médio prazo a colocação de novo empréstimo obrigacionista poderá ajudar a minimizar estes impactos. A venda de ativos sempre foi um instrumento de gestão de equilíbrio financeiro dos clubes portugueses, algo que o Sporting continuará obrigado a fazer, contudo não poderá hipotecar o projeto desportivo do clube e criar uma espiral de maus resultados. Agora parece-me claro que o Sporting terá de emagrecer o plantel e a massa salarial.

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