Usar o humor para aliviar a tensão ou quebrar barreiras é apanágio do ser humano desde que percebeu que o uso da palavra não tem de ser literal. Também será consensual (será mesmo?) dizer que promove a empatia e a conexão emocional, para além de ser “o melhor remédio”, segundo um velho adágio. Isto sem esquecer que pode ser um poderoso meio de exercer a crítica social, expondo hipocrisias e injustiças sem causar indigestões. Tudo questionável, claro, dado o humor ter meandros e nuances que podem escapar até ao comediante mais rodado.
Rodagem é o que não falta a Fábio Porchat – um dos fundadores do projeto “Porta dos Fundos” – e ao espetáculo que idealizou em 2021, já no pós-pandemia. “Histórias do Porchat” passou por Angola, França e Irlanda e aterrou em Portugal para uma digressão até dia 2 de novembro. Fábio está expectante, mas muito tranquilo. Porquê? “Porque o público português me recebeu muito bem desde a primeira vez que me apresentei aqui. Sempre me abraçou por todo o país, e sempre riu muito em todos os meus espetáculos. Então isso me deixa muito tranquilo de saber que os portugueses estão abertos à risada”, confessa ao JE.
As histórias que compõem o espetáculo têm a sua génese nas experiências que foi vivendo durante as suas viagens no Brasil e pelo mundo. Aos 41 anos, e com uma costela globetrotter, não lhe falta material para transformar em humor. Mas será que ainda vai testar piadas? “É um show de stand-up em que já fiz mais de 300 apresentações, 270 mil pessoas. Ele já é testado, já vem quente, pronto para as pessoas darem risada. Isso é bom porque, majoritariamente, aqui em Portugal, o público é português”. Este detalhe é, para Fábio, muito curioso, pois poderíamos ser levados a pensar que boa parte do público seria brasileiro. “Claro que há brasileiros, mas sempre que eu pergunto, fico sabendo que 75% do meu público é português e tem 25% de brasileiros. Mas, o mais importante é que dá certo”, garante ao JE.
Não sabemos se as “risadas lusitanas” poderão provocar um fenómeno semelhante àquele que foi registado em final de maio, em Lisboa, quando a energia de Taylor Swift e das mais de 120 mil pessoas que assistiram aos dois concertos da artista norte-americana na capital portuguesa, geraram o equivalente a um “sismo” de 0,8 na escala de Richter. Mas quisemos saber se, quando viaja, Fábio gosta de sair da sua zona de conforto.
Bem, a verdade é que gosta de programar, “saber exatamente o que tem de ser feito naquele país com antecedência”. Mas também gosta de estar aberto a possibilidades, a deixar-se levar pelo acaso. Ou seja, também gosta de “ter espaço para poder sentar num restaurante que você sente vontade de ir ali na hora, conversar com pessoas”. Até porque, garante ao JE, é isso que faz as boas histórias. “Sempre que volto de viagem, nunca me lembro dos monumentos que visitei, mas das experiências que vivi. E é isso que acabo trazendo comigo”.
Na breve pausa das filmagens para uma nova série que a RTP vai exibir em 2025, Fábio Porchat responde a última pergunta do JE. Um humorista pode ser disruptivo ou nem por isso? “O humorista tem de fazer rir, ponto! Como é o seu tipo de humor aí você é que tem de decidir aquilo que você gosta, aquilo que você acha graça, aquilo que você sabe fazer”. E deixa algumas pistas. “Você tanto pode fazer rir com uma piada de ‘pum’, como fazer rir com uma piada política; você pode jogar luz sobre determinados assuntos espinhosos, como o racismo, a religião. Ou você pode simplesmente falar de relacionamento entre marido e mulher, e brincar com questões mais comezinhas do dia a dia”.
Moral da história? “O comediante busca o riso acima de tudo. E, se ainda por cima, conseguir fazer com que o público pense a respeito daquilo, melhor!” O aviso está dado. O público que se prepare para as rajadas de humor de Porchat.
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