A startup norte-americana Bounce, que criou uma app para encontrar sítios onde se pode guardar malas de viagem, mudou a sede dos Estados Unidos para Portugal, num investimento anual de cerca de 150 mil euros. Da cidade de São Francisco para a de Lisboa, o fundador e CEO da Bounce avança ao Jornal Económico (JE) que a decisão está a valer cada cêntimo e que os “cérebros” da tecnologia facilitaram o processo, porque se fossem contar com o Startup Visa por esta hora ainda estariam do outro lado do Atlântico.
“Decidimos deixar São Francisco e vir para a Europa porque é um mercado estratégico para nós, onde queríamos começar a expandir. Lisboa era a cidade perfeita para nos instalarmos. Por várias razões: em primeiro lugar, vemos Lisboa como um dos principais hubs tecnológicos e emergentes da Europa. O talento altamente qualificado do país, o talento incrível que se está a mudar para cá, bem como os incentivos do Governo ao investimento em startups e no sector da tecnologia, são fatores que contribuem fortemente para isso”, afirmou Cody Candee.
Questionado sobre quais os incentivos do Governo a que se refere e se a Bounce beneficiou dos mesmos, Cody Candee respondeu que se aperceberam de que o Executivo português implementa medidas para impulsionar e desenvolver o ecossistema, o que lhes pareceu “um ótimo sinal” de que o país está a fazer um caminho “na direção certa”. “Ainda não recebemos nenhum incentivo governamental direto para a Bounce, mas ficaremos atentos aos programas relevantes”, admite o fundador e CEO.
No entanto, nem todo o processo foi rosas, sobretudo no que toca ao famoso programa Startup Visa, de concessão de vistos ou autorizações de residência para imigrantes empreendedores que querem desenvolver projetos e criar startups com profissionais altamente qualificados. Mais de 700 dias depois, a Bounce continuava sem resposta ao programa do IAPMEI. “Infelizmente, tivemos uma experiência negativa, porque contámos com o programa para a realocação dos nossos colaboradores, no entanto, esperámos mais de dois anos e nunca tivemos uma resposta. Se não tivéssemos encontrado aqui em Portugal tantos profissionais de excelência, provavelmente teríamos de ter desistido do sonho de mudar a nossa sede global para Portugal”, contou ao JE.
Ironia das ironias, Cody Candee viu-se obrigado a recorrer ao visto para pensionistas. “No final, eu, enquanto fundador, recorri ao visto D-7, destinado a pessoas reformadas”, lamenta.
Dois pisos para 50 pessoas
O novo escritório da Bounce – na Rua de São Bento, em Lisboa – tem 600 m², dois pisos e uma zona exterior com um espaço para trabalhar no rooftop (uma espécie de estufa). “Queríamos escolher um escritório com instalações onde os nossos colaboradores se sentissem entusiasmados e motivados para trabalhar”, explica o empresário norte-americano. O investimento compensou? “Valeu muito a pena”, garante.
A Bounce pretende agora alargar a equipa em Lisboa, composta por 25 dos 55 funcionários. Ao longo dos próximos meses, vai contratar trabalhadores para as áreas de Engenharia, Growth (“Crescimento”), Dados, Produto, Design e Vendas. “Queremos contratar profissionais talentosos e qualificados que sejam apaixonados pela nossa missão e com orientação para a resolução de problemas”, sintetiza o CEO.
Hoje, os turistas podem utilizar a aplicação da Bounce em 15 cidades portuguesas, entre as quais Lisboa, Porto, Faro, Albufeira, Lagos, Peniche e Funchal. No total, há 250 lojas nas quais é possível, através da Bounce, deixar a mala e aproveitar o turismo e negócios da capital e das outras zonas costeiras ou cosmopolitas.
Globalmente, esta plataforma digital de armazenamento de bagagens está disponível em nove mil estabelecimentos em quase 1.500 cidades, nomeadamente Londres, Paris, Singapura ou Sidney. Na prática, a Bounce permite que os turistas guardem as malas durante 24 horas em espaços comuns na cidade onde se encontram, pagando uma taxa diária mínima de 5,90 dólares – um preço que a startup considera acessível, porque os clientes costumam armazenar os seus pertences, em média, durante mais de três horas e assim evitam o custo de 2 ou 3 dólares por hora geralmente cobrados pelos rivais.
Cody Candee acredita ainda que a empresa tem uma vertente de apoio às micros e PME, porque faz com que o pequeno comércio possa funcionar como um espaço de armazenamento e ter mais uma fonte de rendimento. É como se uma livraria decidisse aproveitar um cubículo que não utiliza e lhe desse uma nova vida. Como é que se garante a segurança nestes sítios? “Exigimos que cada local armazene os teus artigos em segurança fora do alcance dos clientes normais desse local. Se algo acontecer, oferecemos uma garantia BounceShield de 10 mil dólares para que possas estar descansado enquanto viajas”, esclarece a empresa.
A expansão na Europa surge na sequência de uma ronda de investimento que enche os olhos a muitos empreendedores: 12 milhões de dólares (cerca de 11 milhões de euros). O financiamento série A, anunciado há precisamente um ano, foi liderado pela sociedade de capital de risco Andreessen Horowitz, de Sillicon Valley, e contou ainda com os antigos investidores da General Catalyst, que apenas quatro meses antes tinham encabeçado uma ronda de 2 milhões de dólares (perto de 1,8 milhões de euros) na Bounce.
Fundada em 2019 por Cody Candee e Aleksander Rendtslev, no estado da Califórnia, a empresa de travel tech – concorrente da LuggageHero e, em certa medida, da portuguesa Luggit – angariou até ao momento cerca de 15 milhões de dólares (aproximadamente 13,6 milhões de euros). As próximas metas são claras: lançar a app em mais cidades portuguesas, chegar aos principais destinos de viagens no mundo nos próximos doze meses e, quiçá, voar para a China.
Conteúdo reservado a assinantes. Para ler a versão completa, aceda aqui ao JE Leitor
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com