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Suspensão da vacina da AstraZeneca pode prejudicar recuperação da economia alemã, dizem economistas

“Do ponto de vista económico, os problemas com a vacina AstraZeneca acontecem num momento altamente desfavorável”, disse o economista-chefe do Commerzbank, Joerg Kraemer, apontando para um número crescente de novas infeções por Covid-19 na Alemanha.
16 Março 2021, 12h53

A decisão da Alemanha em suspender a vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford e produzida pela AstraZeneca poderá atrasar o progresso no alcance da imunidade coletiva e adiar a tão esperada redução das medidas de confinamento necessárias para uma recuperação robusta da economia no segundo trimestre, disseram economistas consultados pela “Reuters”.

O ministro da saúde alemão, Jens Spahn, descreveu a suspensão da vacina da AstraZeneca como uma “precaução”, fazendo com que a Alemanha fosse o mais recente de vários países europeus, incluindo Portugal, a fazer uma pausa após relatos de distúrbios de coagulação do sangue em alguns recetores.

A decisão do governo teve por base uma recomendação do instituto independente ‘Paul Ehrlich’ – autoridade alemã encarregada de avaliar as vacinas.

“Do ponto de vista económico, os problemas com a vacina AstraZeneca acontecem num momento altamente desfavorável”, disse o economista-chefe do Commerzbank, Joerg Kraemer, apontando para um número crescente de novas infeções por Covid-19 na Alemanha.

“A questão crucial agora é por quanto tempo o uso da vacina AstraZeneca permanecerá suspenso”, acrescentou Kraemer.

Os países da UE que suspenderam as vacinas da AstraZeneca aguardam autorização da Agência Europeia de Medicamentos que se deverá pronunciar ainda esta terça-feira, dia 16 de março.

Num cenário em que os decisores políticos sejam forçados a recuar com medidas de desconfinamento, a recuperação da economia poderá ficar atrasada. O economista-chefe do ING, Carsten Brzeski, disse que a suspensão da vacina  da AstraZeneca aumentava os riscos de que a recuperação económico pudesse ser adiada para o terceiro trimestre. “A decisão é uma mudança de perspetiva – pelo menos no curto prazo”, disse Brzeski.

Brzeski sublinhou que a medida não atrasou apenas “o que já era uma implementação lenta da vacinação”, mas também aumentou o “ceticismo geral sobre a vacina entre os alemães, já que um número significativamente menor de pessoas agora pode estar disposto a tomar a vacina AstraZeneca voluntariamente”.

O segundo confinamento da Alemanha interrompeu a recuperação da maior economia da Europa, mas os dados recentes do primeiro trimestre sugerem que não haverá uma “queda drástica” no produto interno bruto semelhante ao registado durante o primeiro confinamento, disse o instituto nacional de estatística alemão.

A economia alemã sofreu uma queda, sem precedentes, de 9,7% no segundo trimestre de 2020 devido ao impacto do primeiro confinamento. Ainda assim, no terceiro trimestre a recuperação foi evidente, com um crescimento recorde de 8,5% no terceiro trimestre e continuou a expandir em 0,3% no quarto trimestre, apesar de as restrições implementadas para conter uma segunda onda de infeções.

Segundo um estudo instituto económico alemão ‘ZEW’ conduzido antes da decisão de adiar a vacina, revelou que o sentimento dos investidores na Alemanha aumentou mais do que o esperado em março, aumentando a perspetiva de uma recuperação ampla.

Dados recentes da Alemanha mostram um quadro de uma economia a duas velocidades, na qual os fabricantes voltados para a exportação estão bem, mas que os serviços domésticos estão a sofrer com as medidas de confinamento impostas no início de novembro e apertadas em meados de dezembro.

“O otimismo económico continua a crescer. Os especialistas esperam uma recuperação ampla da economia alemã”, disse o presidente do ZEW, Achim Wambach, através comunicado.

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