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“Sustentabilidade deixou de ser uma tendência” e passou a ser “condição de viabilidade do setor automóvel”

Lucas Constâncio, diretor geral da Glassdrive® Portugal, explicou ao JE quais são as alterações que o setor tem feito para se tornar mais sustentável e como esta se tem deixado de ser tendência e passado a ser uma condição.
26 Novembro 2025, 21h43

A sustentabilidade está cada vez mais presente na agenda das empresas e dos consumidores. Um dos setores que tem atravessado uma transformação profunda no que toca a este assunta é o automóvel.

Lucas Constâncio, diretor geral da Glassdrive® Portugal, explicou ao JE quais são as alterações que o setor tem feito para se tornar mais sustentável e como esta se tem deixado de ser tendência e passado a ser uma condição.

A marca tem uma das maiores redes nacionais de substituição e reparação de vidro em todo o tipo de viaturas, contando com cerca de 130 centros em Portugal Continental e Ilhas.

Como é que o setor automóvel tem evoluído na sustentabilidade ambiental?

O setor automóvel tem atravessado uma transformação profunda no que diz respeito à sustentabilidade, impulsionado pela regulação europeia, pela inovação tecnológica e pelas exigências atuais dos consumidores. Aliado a isto, nos dias de hoje já não se fala apenas em veículos mais eficientes ou elétricos, mas sim em toda a cadeia de valor, o que compreende desde a produção de componentes ao transporte, passando pela reparação e pela reciclagem.

A Glassdrive®, marca do Grupo Saint-Gobain em Portugal, tem assumido um papel pioneiro nesta mudança. Nós priorizamos sempre a venda de produtos de origem europeia e de fabricação própria, onde dentro do grupo é controlado não só a qualidade dos materiais, como o impacto ambiental em todas as etapas do processo, o que também colabora para menores emissões de carbono no transporte devido as distâncias, quando comparado com outros fabricantes fora do continente.

Sempre que possível, a Glassdrive®, privilegia a reparação de para-brisas em vez da substituição, uma prática com impacto ambiental significativo. Reparar em vez de substituir permite poupar até 280 litros de água, evita a emissão de 31 kg de CO₂ e reduz a produção de cerca de 15 kg de resíduos por cada vidro. Estes números demonstram que pequenas escolhas, multiplicadas em escala, podem ter um grande impacto na sustentabilidade global do setor automóvel.

O que pode ser feito/melhorado?

Apesar dos progressos, o setor automóvel ainda tem muito espaço para melhorar. O principal desafio é a padronização das boas práticas ambientais, pois ao ser um setor altamente fragmentado, com um grande número de oficinas independentes, nem sempre é possível garantir que todas seguem critérios consistentes de eficiência energética, gestão de resíduos e utilização de energia verde.

Na Glassdrive®, a nossa prioridade é clara: a rede, que funciona em grande parte através de franchising, enfrenta o desafio de alinhar todos os centros com os mesmos padrões de sustentabilidade. Para isso, temos vindo a investir em formação, monitorização e metas ambientais comuns, além de iniciativas como a distinção internacional Glassdrive Champions, que valoriza e reconhece os franchisados que implementam boas práticas. Outro ponto a melhorar é a sensibilização do consumidor. Afinal, muitos clientes ainda não sabem que reparar um para-brisas é uma escolha mais sustentável do que substituí-lo. Portanto, informar e educar o cliente é essencial para transformar a sustentabilidade numa prática diária em todo o setor.

Como está a evolução da sustentabilidade e a viabilidade desta para o futuro?

A sustentabilidade deixou de ser uma tendência para se tornar uma condição de viabilidade do setor automóvel. Consideramos que empresas que não integrem práticas ambientais e sociais nos seus modelos de negócio, dificilmente conseguirão manter-se competitivas a médio e longo prazo.

A Saint-Gobain é o único grupo na indústria do vidro que tem presença em toda a cadeia de valor – desde a extração de areia até à produção e comercialização, uma oportunidade única de trazer transparência ao mercado, uma vez que controlamos o processo desde a produção, passando pela distribuição até substituição do vidro.

Iniciativas como a reciclagem de vidro automóvel, que permite poupar até 300 kg de CO₂ por cada tonelada reaproveitada e 850 kg de areia, provam que a economia circular já está a ser aplicada com resultados visíveis.

 O país está pronto para atingir as metas de sustentabilidade estabelecidas?

Portugal tem feito progressos importantes, nomeadamente no setor energético, onde a quota de energias renováveis é já bastante significativa. Este avanço cria condições favoráveis para acelerar também a transição noutros setores, como o automóvel. No entanto, há desafios estruturais que se mantêm, como é o caso da modernização da frota automóvel, a expansão das infraestruturas de carregamento elétrico e a educação da população para escolhas mais sustentáveis.

Acreditamos que Portugal está no caminho certo, mas que a concretização das metas depende da articulação entre empresas, Estado e as diversas comunidades.

No caso do setor automóvel, estamos a falar de um setor muito sensível a preço, pelo que a palavra-chave para evoluirmos neste cenário é a colaboração.  Já existe uma tendência de se incluir metas de sustentabilidade nas negociações e opções como a reparação em vez da substituição, a reciclagem de componentes e a integração de frotas elétricas são passos fundamentais para alinhar o país com os objetivos nacionais e europeus de descarbonização.

Como estamos face ao resto do mundo neste setor?

Portugal acompanha as tendências internacionais em matéria de sustentabilidade automóvel, beneficiando da integração no espaço europeu, que é uma das regiões do mundo mais exigentes a nível ambiental, tal como tem vindo a ser discutido em diversos quadrantes face à legislação europeia.

A grande vantagem competitiva da Glassdrive é integrar o Grupo Saint-Gobain, presente em dezenas de países e com práticas de sustentabilidade partilhadas a nível global. Isso permite trazer para Portugal soluções já testadas e comprovadas noutros mercados, acelerando a transição e garantindo que o país não fica atrás nas metas ambientais. No entanto, é importante reforçar que mesmo considerando que Portugal ainda tem margem para avançar, está bem posicionado e conta com uma rede global que permite acompanhar e adotar rapidamente as melhores práticas internacionais.

O que é que o grupo tem feito no setor da sustentabilidade automóvel? Casos concretos?

Como referido anteriormente, a Glassdrive tem colocado a sustentabilidade no centro da sua atuação no setor automóvel, com medidas concretas e de impacto direto. A prioridade dada à reparação de para-brisas em vez da substituição é um exemplo claro, pois desta forma conseguimos evitar a produção de novos vidros e permite poupanças ambientais muito relevantes: menos 280 litros de água consumidos, menos 31 kg de CO₂ emitidos e menos 15 kg de resíduos produzidos por cada reparação realizada.

Estamos à procura de diferentes modelos de economia circular, como por exemplo fluxo de retorno e reutilização de embalagens de madeira e cartão, utilizando-se a mesma embalagem até 3 vezes. Outro exemplo que podemos partilhar é reciclagem de vidro automóvel, prática já aplicada nos centros Glassdrive, onde os fragmentos recolhidos são reaproveitados em novos processos industriais, poupando até 300 kg de CO₂ por tonelada e reduz a extração de matérias-primas como a areia.

Além disso, a Glassdrive tem investido em tornar os seus centros mais sustentáveis. Como exemplo, alguns dos centros Glassdrive® já instalaram painéis solares, que serão utilizados com vários fins, sendo um deles carregar veículos elétricos e alimentar assim a sua infraestrutura.

A sustentabilidade para a Glassdrive não se limita ao ambiente: a marca integra também uma forte dimensão social. Um exemplo é a parceria da Glassdrive® do Barreiro com a Cooperativa RUMO, através da qual foram integrados jovens no ambiente profissional, promovendo a inclusão profissional.

Por fim, a Glassdrive tem investido em medidas de gestão sustentável de recursos, como a substituição do papel por panos laváveis MEWA, que são reutilizados em circuito ecológico, assegurando maior eficiência e menos resíduos.

Que mais pode a reparação automóvel fazer para se tornar mais sustentável?

O setor da reparação automóvel tem um papel central na transição para a sustentabilidade e a experiência da Glassdrive mostra que ainda existem muitas oportunidades para avançar. Devemos, enquanto setor, continuar a valorizar a reparação em detrimento da substituição, sempre que tecnicamente seja viável, pois é uma prática que não só reduz custos para o cliente, como tem benefícios ambientais claros. Outra questão é a adoção generalizada de energias renováveis nos centros. A gestão de resíduos também deve ser reforçada, com a expansão da reciclagem de vidro automóvel e a valorização de outros materiais. A digitalização de processos é igualmente importante, pois consumimos menos papel, o que significa maior eficiência e menor impacto ambiental.

Por último, a formação contínua das equipas e a sensibilização dos clientes são determinantes. Explicar ao consumidor porque é que reparar um vidro é mais sustentável do que substituí-lo é um gesto simples que multiplica o impacto positivo.


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