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TAP: dinheiro em caixa dá para pagar contas até ao início de junho

435 milhões de euros que a TAP tinha em tesouraria deverão esgotar-se no próximo mês. Acionistas privados pedem garantia estatal para financiamento no banco chinês ICBC, tal como o JE avançou.
25 Abril 2020, 15h00

O chairman da TAP, Miguel Frasquilho, já tinha alertado para o problema numa audição realizada em sede de Comissão Parlamentar, afirmando, no início da atual crise, que a tesouraria da TAP só aguentaria “dois ou três meses”. O limite desse prazo coincide com o final de maio e o início de junho. Através de um documento interno da TAP, a que o Jornal Económico (JE) teve acesso, sabe-se que a companhia tem vivido com o saldo remanescente dos 435 milhões de euros que tinha em caixa (depois de ter efetuado amortizações de empréstimos).

De acordo com o referido documento interno, sabe-se que “a TAP chegou ao final de 2019 com uma posição de liquidez de cerca de 435 milhões de euros, o montante mais alto na sua história, grande parte do qual foi utilizado, precisamente, para reembolso da dívida à banca portuguesa, nos primeiros meses do ano”.

O mesmo documento explica que depois da privatização a TAP “aumentou a sua capacidade de caixa dos 137 milhões para mais de 435 milhões de euros”, adiantando que “os impostos pagos aumentaram 28%, passando dos 257 milhões para os 328 milhões de euros”.

Neste sentido, e atendendo à aproximação do fim da sua capacidade de tesouraria, numa carta enviada pela TAP à Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC), assinada pela comissão executiva, a companhia informa que “solicitou no passado dia 19 de março, à Parpública, a prestação de uma garantia no âmbito de duas possíveis operações de financiamento, conforme propostas recebidas, respectivamente, do Haitong Bank e do ICBC Spain – Industrial and Commercial Bank of China”. Esta informação confirma a notícia avançada em primeira mão na última edição do Jornal Económico.

A proposta do Haitong visa a realização de “uma emissão de obrigações da TAP, com subscrição particular – um private placement – num montante até 200 milhões de euros, com uma possível tomada firme do Haitong de até 50% do valor da emissão, no máximo de 100 milhões de euros, com maturidade entre sete e 10 anos, com juro correspondente a OT/PGB, acrescido de 40-70 pontos base e garantia a prestar pela República Portuguesa”.

Relativamente à proposta do ICBC Spain, a TAP solicitou ao Estado que estudasse a viabilidade de efetuar uma emissão de obrigações, “a subscrever e ou a sindicar pelo ICBC, num montante até 150 milhões de euros, com maturidade de três anos, um juro de 425 pontos base, acrescido da Euribor a três meses e com uma garantia a prestar pela República Portuguesa”.

Segundo a carta da TAP, estas propostas “apresentam condições financeiras extremamente competitivas, em particular no atual contexto, e requerem a prestação de uma garantia pelo Estado português”. No dia seguinte à solicitação feita à Parpública – portanto, a 20 de março -, o JE sabe que a TAP deu indicações a várias entidades de que precisaria de 350 milhões de euros até junho, para fazer face às necessidades geradas pela crise.

Depois do acionista da holding Atlantic Gateway, que controla 45% da TAP, e presidente do Grupo Barraqueiro, Humberto Pedrosa ter revelado, em entrevista ao JE, que a TAP tinha “pedido ajuda, tal como fizeram todas as companhias aéreas no mundo, que têm pedido ajuda aos Governos e aos Estados onde estão sedeadas”, o seu sócio, David Neeleman, em declarações posteriores à agência Lusa, revelou que a companhia aérea contactou “investidores europeus e de outras geografias no sentido de obter suporte financeiro adicional”, admitindo que, “de modo geral, os investidores mantêm o interesse em financiar a TAP, tendo apresentado propostas de financiamento bastante interessantes e competitivas, com garantia do Estado”. Além da garantia do Estado, a TAP pediu a isenção e diferimento do pagamento de impostos e da Segurança Social, das taxas aeroportuárias, entre outras. Também solicitou o uso das bases aéreas do Montijo, Sintra e Monte Real para parquear aviões.

Os acionistas privados da TAP consideram que a companhia tem condições para prosseguir o seu relançamento, apesar das alterações internacionais provocadas pela crise da pandemia da Covid-19. Decorreram “quatro anos sobre a assinatura do Memorando de Entendimento (MOU) entre o Estado português e a Atlantic Gateway sobre a reconfiguração da privatização”, durante os quais “a TAP percorreu um caminho de transformação, orientado pelos objetivos do seu Projeto Estratégico”, adianta o documento interno da TAP a que o JE teve acesso.

“A transformação significativa da TAP ao longo destes últimos quatro anos permitiram torná-la numa companhia de referência: a TAP passou de 11 milhões para 17 milhões de passageiros (um aumento de 61%); aumentou a sua frota de 75 para 105 aviões (mais 40%), com forte investimento na renovação dos aviões; aumentou de 81 para 95 aeroportos de destino (mais 17%) e de 110 mil para 137 mil voos (mais 25%); e de 37% para cerca de 50% dos assentos em termos de Available Seat Kilometre (ASKs) de e para a Europa, a partir de Lisboa, o que aconteceu de 2018 em diante, recuperando a posição estratégica de liderança no seu hub”, adianta o documento interno.

Entre outros indicadores de gestão atualizados, também é referido que a TAP aumentou de 545 mil para 1,2 milhões de assentos no Lisboa-Porto por ano e de 896 mil para 1,2 milhões de assentos na rota da Madeira (mais 31%). Nos voos para os Açores, a TAP aumentou a oferta de 278 mil para mais de 650 mil assentos. “A receita da companhia aumentou 35%, passando de 2,5 mil milhões para 3,3 mil milhões de euros. E a dívida líquida consolidada (Dívida Líquida Ajustada/EBITDAR) passou de um rácio de 12 vezes para 6,4 vezes, confirmando a capacidade de desalavancagem da TAP num cenário de forte investimento, transformação e crescimento do negócio”, refere.

“Importa relembrar que, em novembro de 2015, a TAP tinha a frota mais antiga da Europa, devia 900 milhões de euros à banca, com 80% desse montante a vencer em menos de um ano, tinha dívidas a fornecedores de 183 milhões de euros e tinha apenas 79 milhões de euros em caixa, não tendo recursos para pagar os salários do mês seguinte”, conclui.

Artigo publicado no Jornal Económico de 24-02-2020. Para ler a edição completa, aceda aqui ao JE Leitor

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