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TargTex, a startup portuguesa que está a criar um gel para curar tumores cerebrais

A empresa, que recebeu investimentos da Portugal Ventures e da Comissão Europeia, conseguiu curar “os ratinhos” e está agora à espera de ‘luz verde’ para testar o seu “Reumon Gel do glioblastoma multiforme” em humanos.
20 Fevereiro 2020, 10h06

O glioblastoma multiforme (GBM) é um dos tumores cerebrais mais agressivos, porque a doença progride rapidamente e a completa remoção cirúrgica só é possível nalguns pacientes. Nos últimos 20 anos foram aprovados apenas três medicamentos para esta patologia e, mesmo depois do diagnóstico, os tempos médios de sobrevivência são entre 15 a 18 meses. Há uma startup portuguesa que quer trazer mais esperança às pessoas e novidades à Medicina.

Liderada pelo investigador João Seixas, a TargTex recebeu recentemente um investimento de 50 mil euros da Comissão Europeia, através do programa SME Instrument, por estar a desenvolver um hidrogel que se aplica no cérebro para remover o GBM. A empresa conseguiu, em laboratório, eliminar o tumor dos cérebros dos ratos com essa “espécie de Reumon Gel” e tem a solução patenteada, mas em 202 irá precisar de levantar mais capital numa ronda série A (na ordem dos 15 milhões de euros). “Se tudo correr bem nunca estaremos no mercado em menos de 13 ou 15 anos. Estamos a falar de vidas humanas. Temos de testar a longo prazo e ter a certeza de que os pacientes não morrem da cura, como acontece muitas vezes”, diz João Seixas ao Jornal Económico (JE).

Neste momento, a TargTex está a tentar demonstrar que o seu produto pode ser testado sem riscos em humanos, mas deverá demorar ainda dois anos até obterem ‘luz verde’  para tal. “O que é verdadeiramente desafiante é que nos estamos comparar com medicamentos que estão no mercado sem serem eficazes e nós temos uma abordagem diferente. Não estamos a criar um comprimido ou um injetável mas sim um gel, uma espécie de pomada”, afirma.

Em termos de procedimento é simples: o neurocirurgião, quando está a fazer o procedimento cirúrgico para remoção do problema oncológico, irá aplicar essa pasta com uma seringa. “Fica na cavidade do cérebro de onde se retirou o tumor. A nossa abordagem foi desenvolvida em parceria com neurocirurgiões para que a administração seja simples e altamente manuseável sem trazer complicações de maior no bloco operatório. Os fármacos que existem no mercado para este tumor não o curam, apenas prolongam a vida dos pacientes por mais alguns meses”, garante o gestor.

A TargTex foi uma das empresas nas quais a Portugal Ventures investiu no ano passado. Em meados de julho, a startup com sede em Torres Vedras foi uma das oito novas no portefólio da sociedade pública de capital de risco (a par com a Azitek, Beamian, CellmAbs, Chemitek, Fyde, Lovys e Noocity), que representaram mais de cinco milhões de euros de investimento em parceria com a rede Ignition Capital Network e outros investidores estrangeiros que fizeram um coinvestimento de 2,8 milhões euros. O valor que a TargTex recebeu deste ‘bolo’ não é conhecido, mas o CEO referiu que o objetivo deste montante era que a equipa conseguisse que o projeto chegasse “à fase de humanos”.

Como é que se desenvolve um produto farmacêutico?

Doutorado em Química organometálica, João Seixas explica o moroso processo: “Há toda uma fase de investigação em laboratório, em que nós mostramos uma série de parâmetros em que o nosso potencial fármaco pode vir a ser eficaz contra determinada doença. A eficácia é testada nuns modelos animais, ratinhos. Temos de conseguir curar a doença nele ou, pelo menos, melhorar. Depois, entramos na fase de ensaios clínicos em humanos”, esclarece ao JE.

Porém, esse patamar dos humanos comporta três fases: a 1 (em que é necessário mostrar segurança e testar o composto em doses pequenas numa amostra de pacientes), a 2 (em que se faz um aumento nesse número de pessoas) e a 3 (testes de segurança específicos).

A spin-off – composta ainda por Pedro Cal e Gonçalo Bernardes – nasceu de um projeto de Inteligência Artificial desenvolvido em 2015 no Instituto de Medicina Molecular (IMM), mais concretamente no laboratório do professor Gonçalo Bernardes. A ideia era trabalhar com um algoritmo que identificasse alvos terapêuticos para novos fármacos mas acabou a investigação acabou por deixar o seu do mais computacional.

“Ou seja, evoluiu para um sentido mais prático e translacional. Este algoritmo descobria alvos para moléculas de interesse e nós, com uma ou duas que descobrimos ma literatura, começámos a fazer ensaios. Depois, conseguimos demonstrar que uma molécula que tínhamos no laboratório era muito eficaz para uma doença específica, o GBM”, explicou o ex-investigador da empresa de biotecnologia Alfama e da espanhola GlaxoSmithKline.

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