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Tarifas com impacto de 4,6 mil milhões de dólares na indústria automóvel

A Volkswagen é a que mais sofre com as medidas tarifárias dos Estados Unidos, dado o seu elevado grau de exposição ao mercado norte-americano. Entre tarifas diretas e dos componentes, a taxa ascende aos 27,5%.
4 Agosto 2025, 10h17

As tarifas vão previsivelmente deixar um buraco nas contas das maiores construtoras de automóveis: só nos grupos que detalharam esse impacto nos balaços do primeiro semestre do ano, são contabilizados 4.635 milhões de euros. O número sub-avalia o impacto, dado que o universo de construtores é maior. Mesmo assim, quase todos os grupos que apresentaram contas nas últimas semanas, tanto norte-americanos como europeus, já reportam o impacto nos lucros e nas receitas.

Os Estados Unidos são um mercado importante para as marcas europeias e um dos maiores do mundo: 15,9 milhões de veículos ligeiros foram vendidos nos Estados Unidos em 2024, enquanto 10,6 milhões de automóveis de passageiros e SUV foram vendidos na União Europeia no mesmo ano, de acordo com dados da Marklines e da associação europeia de fabricantes ACEA.

O grupo Volkswagen, que além da marca própria, inclui outras como a Seat/Cupra, Audi ou Porsche, regista o maior golpe económico com as tarifárias: o grupo alemão, o maior em volume de vendas da Europa, observou que o impacto tarifário nas contas no primeiro semestre do ano foi de 1.300 milhões de euros.

Recorde-se que Donald Trump impôs em abril uma tarifa sobre as importações de carros para os Estados Unidos, que, somadas às de componentes, representavam uma sobretaxa de 27,5% para os veículos exportados para aquele país. A Volkswagen possui fábricas ao sul da fronteira, no Estado mexicano de Puebla e, além da marca Audi, fabrica o modelo Q5 numa fábrica em San José Chiapa, também no México.

Como fabricante de grandes volumes, é mais difícil transferir os custos extraordinários para o preço dos veículos. No total, o grupo registou um lucro líquido atribuível aos acionistas de 4.005 milhões de euros no primeiro semestre do ano, 36,6% abaixo do registado no mesmo período do ano anterior. As suas receitas também foram afetadas, registando uma quebra de 0,3%, para 158.364 milhões de euros, com as vendas nos Estados Unidos a caírem 9,8%.

Na mesma linha, refere uma análise do jornal ‘El Economista’, está a Stellantis, o grupo multinacional que concentra nos Estados Unidos as suas marcas Chrysler, Jeep, Dodge/RAM, bem como as europeias Fiat, Alfa Romeo ou Peugeot. Além dos problemas internos do fabricante, as tarifas significaram uma perda de 300 milhões de euros, que o grupo espera ver aumentados para 1.500 milhões no final do ano. Isso fez com que registasse perdas de 2.300 milhões de euros no primeiro semestre do ano.

A empresa, nascida após a fusão em 2021 da Fiat-Chrysler e do Grupo PSA, é a segunda fabricante em volume de vendas na Europa, com a América do Norte como segundo mercado. Possui centros de produção nos Estados Unidos, no México e no Canadá – mercados onde os seus negócios caíram 26% no primeiro semestre do ano, para 28.200 milhões de euros. As remessas para os clientes caíram 23%, para 647 mil unidades. No primeiro semestre do ano, o volume de negócios do conglomerado, que concentra 14 marcas e uma joint venture com a Leapmotor, caiu 13%, para 74.300 milhões de euros.

Outros grupos europeus que quantificaram o impacto das tarifas no primeiro semestre são a Mercedes-Benz, que o estimou em 362 milhões de euros, e a Volvo Car, que registou uma redução não monetária de 11,4 mil milhões de coroas suecas (1,017 mil milhões de euros). O fabricante sueco está a regionalizar a produção: o modelo XC60 foi transferido para a fábrica em Charleston (EUA) e o EX30, até agora produzido na China, está a ser montado em Ghent, na Bélgica.

A Ferrari, que conseguiu aumentar o lucro líquido em 9%, para 837 milhões de euros, alertou que eliminou o risco de 50 pontos-base nas suas margens percentuais, estabelecidas após a introdução das tarifas de abril “como resultado do recente acordo sobre níveis mais baixos alcançado entre os EUA e a UE”.

Mesmo assim, há fabricantes como a BMW, que sem detalhar o impacto que os impostos tiveram nas contas, espera que a margem EBIT de sua Divisão Automóvel diminua aproximadamente 1,25 ponto percentual devido às tarifas.

No lado de lá do oceano

Os grandes grupos automobilísticos norte-americanos também já foram afetados pela política comercial do presidente ‘local’. Além da Stellantis, a General Motors e a Ford têm fábricas no México, onde produzem modelos que são vendidos em toda a América do Norte, tendo por isso que incorporar sobretaxas sobre as importações de componentes, muitos dos quais cruzam o Rio Grande várias vezes.

A Ford, que apresentou os seus resultados na passada quarta-feira, estimou o impacto das tarifas nos lucros operacionais para o segundo trimestre em 800 milhões de dólares (691 milhões de euros). No primeiro semestre do ano, o lucro líquido do fabricante do Mustang caiu uns impressionantes 86,2%, para 435 milhões de dólares, afetado pela política tarifária do governo Trump, a que se acrescentam perdas na divisão de veículos elétricos num contexto também marcado pela eliminação de incentivos federais para este tipo de automóveis.

A Ford, que tem uma fábrica perto da Cidade do México, registou durante os primeiros seis meses de 2025 um aumento da faturação de 0,2% para 90.843 milhões de dólares. O lucro operacional ajustado (EBIT) de janeiro a junho foi de 3,2 mil milhões, uma redução de 41,8%. Para o ano inteiro, a Ford estima que as tarifas subtrairão às contas cerca de dois mil milhões.

A General Motors registou um impacto de 1.100 milhões de dólares (965 milhões de euros) nas contas do segundo trimestre do ano. O grupo dono da marca Chevrolet possui fábricas nos Estados mexicanos de San Luis Potosí e Guanajuato. As tarifas sobre a produção fora das fronteiras dos EUA significaram uma queda anual de 35,4% nos lucros no segundo trimestre, que se ficaram pelos 1,895 mil milhões de dólares.

Enquanto se aguarda um acordo comercial definitivo entre o México e os Estados Unidos, após uma nova extensão de 90 dias acordada na semana passada, e com as tarifas sobre o Canadá a pararem nos 35%, os fabricantes norte-americanas já anteciparam um maior impacto nos resultados. A General Motors, por exemplo, estimou que as tarifas podem custar entre quatro mil e cinco mil milhões de dólares até 2025.

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