Zona euro, EUA, China – ninguém parece escapar aos efeitos negativos das tarifas decretadas por Trump e à guerra comercial assim iniciada, pelo menos a julgar pela avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI), que cortou 0,5 pontos percentuais (p.p.) à projeção de crescimento para a economia global este ano. Portugal não é exceção, embora tenha visto uma revisão em baixa de apenas 0,3 p.p. este ano e no próximo, sendo que o Governo aproveitou para destacar a projeção acima do inscrito no Orçamento do Estado (OE) para o saldo orçamental deste ano.
Na atualização de primavera das projeções macroeconómicas divulgada esta terça-feira, o FMI alerta para uma perda de 0,5 p.p. no crescimento global este ano, que se ficará assim pelos 2,8%, e de 0,3 p.p. em 2026, em comparação com as previsões feitas em janeiro. O crescimento para este ano já teria sido revisto em baixa por 0,1 p.p., refletindo sobretudo as tarifas de 25% sobre o aço e alumínio e a primeira ronda de tarifas acrescidas impostas à China. Contudo, o anúncio de 2 de abril e o ziguezague que se seguiram causaram ainda mais dificuldades.
Portugal viu a projeção para o crescimento cortada em 0,3 p.p. para ambos os anos, isto em comparação com o exercício de previsões de janeiro. A economia nacional deve, portanto, crescer 2% este ano e 1,7% no próximo.
Por outro lado, o Fundo antecipa um saldo orçamental este ano mais positivo do que os 0,3% previstos pelo Governo no OE2025, apontando para 0,5%. Para o Executivo, tal demonstra “a solidez da trajetória orçamental”, que se mantém em linha com os acordos estabelecidos com Bruxelas ao abrigo das novas regras orçamentais europeias.
Ainda assim, o cenário global é bastante menos otimista do que para Portugal. A zona euro regista assim um corte de 0,5 p.p. na previsão de crescimento para este ano, enquanto os EUA sofrem um corte de 0,9 p.p. este ano, com um crescimento projetado de apenas 1,8%, fortemente afetados pelo seu protecionismo – que coloca as tarifas médias em níveis não vistos há mais de 100 anos, conforme destaca o relatório.
A China também deve registar um efeito negativo considerável da escalada de hostilidades com os EUA. O PIB deverá avançar 4% em 2025 e em 2026, revisões em baixa em relação aos 4,6% e 4,5% anteriormente estimados em janeiro, isto apesar do carryover forte de 2024 e das medidas de estímulo orçamental.
Além dos impactos na economia real e nas contas públicas, a forte correção nos mercados globais após o anúncio de 2 de abril do presidente norte-americano arrisca a estabilidade financeira, dado o “repricing agressivo dos ativos de risco”, lê-se no relatório. Em particular, ativos sobreavaliados, a elevada alavancagem de inúmeras instituições financeiras (sobretudo não financeiras) e a volatilidade de vários governos no mercado soberano são riscos claros sobre as perspetivas financeiras globais, detalha o FMI.
Em sentido inverso, a inflação deve recuar menos do que se previa inicialmente, sobretudo nas economias mais avançadas. O FMI espera agora uma inflação global de 4,3% este ano e de 3,6% no ano seguinte, embora com revisões em alta mais significativas nas economias mais desenvolvidas, nomeadamente nos EUA e no Reino Unido.
A economia norte-americana viu a previsão de inflação revista em alta em 1,0 p.p., refletindo “as dinâmicas de preço teimosas no setor dos serviços”, além do impacto das tarifas nos preços domésticos. Já no Reino Unido, a revisão deve-se a “aumentos one-off em preços regulados”. Para a zona euro, não há alterações à previsão de 2,1% de inflação este ano e 1,9% no próximo, enquanto Portugal deve fechar com 1,9% e 2,1%, respetivamente.
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