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Tarifas provocaram pior dia dos mercados desde a pandemia. Só o S&P 500 perdeu 2,5 biliões

Naquele que considera ter sido “o maior choque do lado da oferta deste século”, o analista António José Duarte destaca ao JE que as novas tarifas “deverão aumentar os custos para as empresas e para os consumidores, alimentando receios de um fraco crescimento económico e afetando diretamente o desempenho das empresas”.
4 Abril 2025, 10h51

O anúncio das novas tarifas por parte de Donald Trump fizeram com que esta quinta-feira tivesse sido o pior dia nos mercados desde o início da pandemia e só o S&P 500 perdeu sozinho quase 2,5 biliões de dólares em apenas uma sessão.

“Os mercados foram fortemente impactados pelo anúncio da implementação de novas tarifas pelos Estados Unidos, tendo registado ontem o pior dia desde o início da pandemia, com o S&P 500 a perder quase 2,5 biliões de dólares num só dia”, referiu ao JE o analista e economista António José Duarte.

Naquele que considera ter sido “o maior choque do lado da oferta deste século”, este analista considera que as novas tarifas “deverão aumentar os custos para as empresas e para os consumidores, alimentando receios de um fraco crescimento económico e afetando diretamente o desempenho das empresas”.

O resultado já se faz sentir e até pode ajudar os EUA a reduzir o custo do refinanciamento da sua dívida: “Este cenário tem levado os investidores a um movimento global de sell-off de ativos como ações, procurando refúgio em ativos com menor volatilidade, como as obrigações de dívida soberana. Esta procura tem contribuído para uma queda nas suas yields — no caso americano, já abaixo dos 3,7% a dois anos, com uma descida de quase 100 pontos base desde que o tema das tarifas foi colocado em cima da mesa — o que parece alinhar-se com o objetivo dos Estados Unidos de reduzir o custo de refinanciamento da sua dívida”.

O que podem esperar os investidores para os próximos dias. António José Duarte vaticina que as próximas sessões serão marcadas por correções, sobretudo de natureza setorial, aguardando-se também a resposta dos principais blocos comerciais sendo já possível identificar dois aspetos que importa monitorizar.

“Em primeiro lugar, as tarifas e o seu anúncio aumentaram de forma significativa as expectativas de inflação nos Estados Unidos no curto prazo — com estimativas a apontarem para os 5% — o que dificultará seriamente o esforço da Reserva Federal para manter o objetivo de 2%”, destaca o economista.

Assim e caso essas expectativas se desancorem efetivamente, “o choque inicial do lado da oferta provocado pelas tarifas poderá desencadear efeitos secundários, como espirais de salários e preços e custos persistentemente elevados, tornando cada vez mais difícil o restabelecimento da estabilidade sem um recurso a um aperto monetário agressivo”, sublinha.

Por outro lado e em segundo lugar, “os spreads de crédito para empresas mais endividadas dispararam nas últimas semanas, refletindo um claro reajustamento dos mercados face ao risco, o que tornará mais difícil por um lado o acesso ao crédito e por outro a uma desvalorização dos ativos por via do aumento do custo da dívida e consequente acréscimo do retorno exigido pelos acionistas. Este aumento da perceção de risco traduz-se, inevitavelmente, num acréscimo das taxas de desconto aplicadas à valorização desses ativos”.

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