Esta quarta-feira, 9 de abril, entram em vigor as tarifas “recíprocas” anunciadas na passada semana por Donald Trump e que colocaram os mercados e o sistema de comércio mundial numa situação de stress como não se via desde a pandemia. A UE já avançou com a resposta, tal como a China, isto apesar de, ao contrário de Pequim, Bruxelas se mostrar aberta ao diálogo com os parceiros norte-americanos.
O ‘Dia da Libertação’ aclamado por Trump resultou numa série de sessões profundamente negativas nos mercados globais, com destaque para os EUA numa fase inicial e para a Europa esta semana, com os investidores a digerirem os impactos negativos que as barreiras à entrada nos EUA impostas a mais de 100 países teriam na economia global.
O sell-off nas praças de Nova Iorque parece ter terminado por enquanto, isto depois de o S&P 500 desvalorizar cerca de 5 biliões de dólares (4,6 biliões de euros) em dois dias. Na Europa, o cenário é semelhante, com os principais índices a recuperarem das pesadas perdas que acumularam nas últimas sessões e que reverteram os ganhos das semanas anteriores.
Os alertas de uma recessão – tanto nos EUA como na economia global – não tardaram. O JPMorgan reviu rapidamente a probabilidade de uma recessão a nível mundial de 40% para 60%, com o seu CEO a lembrar a provável subida na inflação associada a este abrandamento económico, um cenário altamente penalizador.
O Goldman Sachs subiu duas vezes numa semana a probabilidade estimada para uma recessão nos EUA, atribuindo agora 45% de hipóteses de tal cenário se confirmar. A UBS vê agora “uma recessão significativa” como o cenário mais provável nos EUA, avisando também os mercados que as dívidas das empresas já estão a sofrer com a política de Washington.
O premium pago pelas empresas, tanto as high-grade como as junk, arrisca chegar a 170 e 650 pontos base (p.b.), respetivamente, máximos não vistos desde a pandemia, escreveu o departamento de análise económica do banco numa nota publicada esta segunda-feira.
Respostas distintas
A UE já garantiu que irá responder ao protecionismo de Trump, embora tentando manter sempre uma porta aberta ao diálogo com Washington. O Velho Continente “está sempre preparado para um bom negócio”, afirmou von der Leyen na segunda-feira, ao mesmo tempo que propôs levantar as tarifas aos bens industriais norte-americanos.
Trump já disse que os europeus têm de comprar 350 mil milhões de dólares (320,7 mil milhões de euros) em energia aos EUA se querem ver os 20% de tarifa desaparecer, ou seja, o valor do défice comercial em bens dos norte-americanos na relação com a UE.
Numa média ponderada, a UE cobra 1,6% de tarifa aos bens não agrícolas provenientes dos EUA, embora com exceções nos carros, por exemplo, onde a tarifa é de 10%. A administração Trump alega que a tarifa efetiva (incluindo outras supostas barreiras como o IVA, na lógica norte-americana) cobrada é de 39%.
Em Pequim, a postura é ligeiramente diferente. A China avançou quase de imediato com 34% de tarifas sobre os produtos importados dos EUA, igualando a taxa imposta por Washington aos bens chineses (que já pagavam 20% à entrada) e garantindo que não sucumbirá à pressão de Trump.
“A China irá lutar até ao fim se os EUA estiverem investidos em manter-se do lado errado”, afirmou o ministro do Comércio chinês, acrescentando que o país está “determinado em tomar contramedidas” contra o que classifica de “chantagem” norte-americana. Trump já respondeu, ameaçando com mais 50% de taxas sobre as importações chinesas (o que colocaria a taxa efetiva em 104%), opção que os responsáveis chineses ilustram como “um erro em cima de outro erro”.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com