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Tarifas: Soja brasileira ganha quota no mercado chinês face à tensão com os EUA

Um total de 40 navios descarregou este mês 700 mil toneladas de soja proveniente do Brasil no porto de Ningbo, no leste da China, um aumento de 32% face ao mesmo período de 2024, de acordo com a televisão estatal chinesa CCTV.
29 Abril 2025, 19h58

A China está a voltar-se para o Brasil para compensar a quebra nas compras de produtos agrícolas dos Estados Unidos, no contexto da guerra comercial lançada por Donald Trump, segundo a imprensa local.

Um total de 40 navios descarregou este mês 700 mil toneladas de soja proveniente do Brasil no porto de Ningbo, no leste da China, um aumento de 32% face ao mesmo período de 2024, de acordo com a televisão estatal chinesa CCTV.

“Depois de a China reduzir as compras aos EUA, os navios com soja brasileira começaram a chegar um atrás do outro”, escreveu o canal, numa conta na rede social Weibo.

A operação é mais um sinal de que a China está a reduzir a dependência das importações agrícolas dos EUA, após cancelar, na semana passada, encomendas de 12.030 toneladas métricas de carne de porco norte-americana – o maior cancelamento desde maio de 2020.

Washington subiu até 145% as tarifas sobre produtos chineses nas últimas semanas. Pequim retaliou com taxas adicionais de 125% sobre produtos norte-americanos e suspendeu as compras de produtos agrícolas.

O ministro da Agricultura e Pecuária brasileiro, Carlos Fávaro, assegurou que o Brasil vai aproveitar todas as oportunidades geradas pela guerra comercial entre Pequim e Washington.

“Não gosto de comemorar crises, de comemorar qualquer instabilidade, que é o caso. Os Estados Unidos começam a tomar medidas que desestabilizam de forma brutal as relações comerciais mundiais e não devemos celebrar isso. Agora, nas crises geram-se oportunidades. E o Brasil está atento às oportunidades e vai ampliar”, declarou.

Fávaro destacou ainda a abertura dos mercados de gergelim e sorgo da China para as empresas brasileiras – resultado de um acordo assinado em novembro – como uma oportunidade significativa.

O Brasil tem beneficiado das disputas comerciais entre as duas maiores economias do mundo desde a primeira guerra comercial, iniciada durante o primeiro mandato presidencial de Donald Trump (2017-2021). Desde então, a China aumentou as compras de soja ao país para reduzir a dependência dos EUA.

Em 2024, a China importou um total de 105 milhões de toneladas de soja, das quais 22,14 milhões provinham dos EUA, representando 21,1% do total – uma queda de 13,3% face a 2018.

Durante o mesmo período, as importações chinesas de soja do Brasil atingiram 74,65 milhões de toneladas, representando 71,1% do total, de acordo com dados das alfândegas chinesas.

O Brasil desempenha assim um papel cada vez mais importante na segurança alimentar da China, sendo responsável por mais de 20% das importações agrícolas e pecuárias do país asiático.

A segunda maior economia mundial alimenta quase 19% da humanidade com apenas 8,5% das terras aráveis do planeta. Em comparação, o país latino-americano detém quase 7% das terras aráveis para apenas 2,7% da população mundial.

Esta simbiose traduz-se num excedente comercial para o Brasil de 51,83 mil milhões de dólares (cerca de 46 mil milhões de euros) nas trocas com a China – uma das poucas relações deficitárias para Pequim no comércio externo.

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