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Tarifas: Trump anuncia pausa de três meses em algumas tarifas

A China está fora do grupo de países que vão poder contar com uma pausa 90 dias na imposição de novas tarifas. A decisão é surpreendente e terá a ver com a pressão a que Trump está internamente sujeito. Taxa para Pequim sobre para os 125%.
9 Abril 2025, 18h48

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cedeu na sua guerra tarifária, ao anunciar que deixará as tarifas em 10% para todos os países nos próximos três meses, exceto no que diz respeito à China. Pequim, com que decidiu focar a batalha comercial, poderá contar com tarifas de 125% para pagar a sua “falta de respeito”, refere a imprensa norte-americana. Os mercados de ações responderam positivamente de imediato: o Nasdaq segue a subir 8,6%, o S&P 500 6,9% e o Dow Jones 5,6%.

Até ao fecho desta edição, a União Europeia no seu conjunto ainda não tinha reagido à suspensão por três meses decretadas pelo presidente dos Estados Unidos – o que é aliás prática comum (a demora) no bloco dos 27.

A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse à imprensa norte-americana que o nível das tarifas da China foi aumentado porque Pequim decidiu “imprudentemente” retaliar. E afirmou que os Estados Unidos continuarão com negociações país a país, sendo o nível tarifário reduzido para 10% durante as negociações. Trump disse por seu turno, nas redes sociais, que, Com base na falta de respeito que a China demonstrou aos mercados mundiais, vou aumentar a tarifa cobrada à China pelos Estados Unidos da América para 125%, com efeito imediato.”

Para além da influência dos mercados – os índices de ações norte-americanos estão debaixo de forte stress desde o início da semana, o petróleo desceu a mínimos de quatro anos e os títulos da dívida norte-americanos sofreram um forte aumento – a pressão interna sobre Trump tem sido avassaladora. Alguma dela vinda de onde o presidente menos esperava.

De facto, há dias, Elon Musk – que para todos os efeitos é membro da administração norte-americana – apelidou de “idiota” um dos conselheiros de Donald Trump, Peter Navarro, encarregado do Comércio, que fez comentários depreciativos ao dono da Tesla, chamando-o de “montador de automóveis” e não de “fabricante de automóveis”. Navarro é “mais burro do que um saco de tijolos”, escreveu Musk nas redes sociais. Musk tentou – e não conseguiu – convencer o presidente dos Estados Unidos a conter as tarifas globais que introduziu na semana passada. Dias depois, o bilionário disse que alguns países deviam contar com tarifas zero-por-zero, ou seja, defendeu uma espécie de acordo de livre comércio entre os Estados Unidos e alguns países. Curiosamente, defendeu isso mesmo com a União Europeia, ainda antes de a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, ter avançado com essa mesma proposta depois de Trump ter lançado uma tarifa de 20% sobre as importações vindas do bloco dos 27.

Já o secretário do Tesouro, Scott Bessent, acaba de insistir que a decisão de Trump não resulta da pressão do mercado, mas segundo a imprensa norte-americana, parece estar a ser difícil passar essa mensagem. Ou seja, no limite, este ‘voltar atrás’ resulta numa derrota clara da estratégia do presidente norte-americano, apesar de a questão das tarifas ser uma promessa da campanha para as presidenciais. “Ele e eu tivemos uma longa conversa no domingo, e essa foi a estratégia dele o tempo todo”, disse há pouco.

De algum modo, o secretário do Tesouro, Scott Bessen, já tinha antecipado a possibilidade deste volte-face. “Provavelmente chegaremos a um acordo com os nossos aliados. Eles têm sido bons aliados militares, mesmo que não tenham estado na frente económica”, disse há dias. Mas também disse que tinha esperança que a China acabasse por aceitar a abertura de negociações entre as duas maiores economias do mundo, o que não aconteceu. O que aconteceu foi precisamente o contrário: a China ‘inundou’ os mercados com 50 mil milhões de dólares em títulos da dívida norte-americana, o que fez os juros subirem de forma abrupta. Os Estados Unidos regressam esta quarta-feira ao mercado – sendo com certeza expectativa do presidente que haja um alívio dessa subida.

O representante comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer, pareceu ter sido apanhado de surpresa no Capitólio, onde participava numa reunião do Comissão de Meios e Recursos da Câmara. Greer defendeu a estratégia tarifária, sem se aperceber – ou sem ninguém lhe ter dito – que Trump tinha decidido uma ‘pausa’ de três meses. O representante democrata à Comissão, Steven Horsford, questionou-o sobre a matéria até acabar por o expor a um certo ridículo, segundo a imprensa norte-americana. “Parece que o seu chefe acabou de lhe puxar o tapete e suspendeu as tarifas, os impostos sobre o povo americano. Não há estratégia, você descobriu isso há três segundos, sentado aqui”, disse Horsford.

Os democratas do Senado acabaram de realizar uma conferência de imprensa sobre o anúncio de Trump e a política do seu governo na matéria. A senadora Kirsten Gillibrand disse: “Por causa desse caos, dessa incompetência e desse descuido, ele eliminou trilhões de dólares da economia dos EUA”. Ao seus lado dela, o líder da minoria no Senado, Chuck Schumer, disse que “não há como desfazer o dano. A crise de Trump está sobre nós, e o que quer que ele tente fazer no futuro não desfaz esse dano”. “Sabemos que Donald Trump não pensa bem nas coisas. Mas em algo tão vital como a economia dos Estados Unidos, a quantidade de dinheiro que as pessoas têm no bolso, os seus meios de subsistência, em algo tão vital como isto – sim, deixa-nos boquiabertos com o que ele está a fazer. Trump acha que tudo isto é um jogo.” Do seu lado, governador da Califórnia, Ed Newsom, democrata, disse nas redes sociais: “Trump cedeu. Ele vai mudar de ideia novamente. Aos nossos parceiros internacionais: a Califórnia é um parceiro estável e confiável. Queremos os vossos negócios”.

Entretanto, o futuro chanceler alemão, Friedrich Merz, já reagiu à notícia, dizendo que “os europeus estão unidos na defesa dos seus interesses, e isto mostra que a abordagem funciona melhor. Deveríamos ter tarifas de 0% em todo o comércio transatlântico, e então o problema estaria resolvido”.

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