Com a entrada em vigor das novas taxas aduaneiras a aproximar-se (6 de julho), crescem as tensões entre a China e os EUA, intensificadas pela promessa chinesa de uma resposta à altura e pela ordem do presidente Trump para alargar os planos tarifários a novas importações chinesas, no equivalente a mais 200 mil milhões de dólares. Apesar de a tarifa ser menor do que a inicialmente anunciada (10% em vez de 25%), a hostilidade não diminuiu e as estimativas apontam para prejuízos que podem reduzir o crescimento económico chinês em 0,2%.

São, pois, naturais as promessas de retaliação da China, mas o que não nos parece possível é serem feitas no mesmo território das taxas aduaneiras, já que o montante das importações chinesas oriundas dos EUA (130 mil milhões de dólares em 2017) está muito aquém da ordem de grandeza das importações norte-americanas vindas da China (500 mil milhões de dólares em 2017). Não sendo possível uma resposta simétrica, as retaliações poderão vir de outros campos, embora não seja fácil antecipar quais as “munições” a eleger.

Como uma das maiores detentoras de obrigações do tesouro norte-americanas, a China pode usar a sua alavancagem, vendendo posições para forçar uma alta dos títulos, o que faria aumentar os custos de empréstimo do governo dos EUA. No entanto, a medida teria impacto na desaceleração da economia norte-americana, com uma redução da procura e logo das exportações – também das chinesas.

A desvalorização do renminbi (RMB) pode ser outro caminho, mas os períodos de maior fraqueza da moeda chinesa têm estado associados à retirada de capitais do país, pelo que o banco central (PBoC) não estará interessado em perigar a estabilidade da sua moeda.

Penalização para empresas americanas e não só

O caminho que parece restar passa pela penalização das empresas estrangeiras que operam em território chinês e que, podendo ou não ser americanas, tenham relações estratégicas com os EUA. Esta não seria uma arma inédita e já foi usada, por exemplo, com a cadeia de supermercados do grupo nipónico-sul-coreano Lotte que, após ter cedido o terreno para a instalação do sistema antimísseis THAAD na Coreia do Sul, foi obrigada a instalar nos seus supermercados na China um sistema de prevenção de incêndio tão exigente que 87 dos seus 99 pontos de venda foram encerrados por violarem a regulamentação de segurança.

Aconselha-se, por isso, atenção redobrada às empresas norte-americanas com operações na China. E, neste âmbito, importa recordar que, desde 1990, só em termos de investimento norte-americano direto na China se contabilizam nada menos que 265,5 mil milhões de dólares, mais de 70% direcionados à instalação de novas operações. Só para focar três exemplos: a Apple gera perto de 20% das suas vendas globais na China, a Nike 15% e a Boeing 12%.

A resposta pode ainda passar pela combinação de várias das medidas disponíveis. Qualquer que seja a fórmula encontrada, uma coisa é certa: os efeitos vão certamente extrapolar as fronteiras dos dois gigantes, até porque muitos dos componentes integrados em produtos chineses exportados para os EUA têm origem noutros países.

Olhando para dados da OCDE e mais precisamente para o valor acrescentado oriundo das trocas comerciais (TiVA), o Japão encabeça a lista dos potencialmente mais afetados entre os países desenvolvidos, embora numa percentagem do PIB pouco nefasta (0,65%), enquanto nas economias emergentes, Malásia, Taiwan, Singapura e Coreia surgem entre os mais vulneráveis.