[weglot_switcher]

Taxas de crescimento dizem pouco nesta fase

Economistas consultados pelo Jornal Económico dizem que dado o efeito base do ano afetado pela pandemia será mais útil olhar para os valores absolutos e distância relativamente aos níveis pré-covid.
31 Outubro 2021, 15h00

O profundo impacto da pandemia que conduziu Portugal à maior recessão de sempre condiciona a percepção de crescimento económico se olharmos de forma isolada para as taxas de crescimento este ano e para o próximo. Os economistas ouvidos pelo Jornal Económico defendem que a fotografia sobre a evolução da economia será mais nítida se se atender aos crescimentos acumulados no período entre 2020-2022 ou 2020-23 ou fazer a comparação com o ano de 2019.

“Nesta fase de recuperação depois da queda tão acentuada em 2020 e atendendo à heterogeneidade da crise nos vários países, deverá atender-se sobretudo aos crescimentos acumulados, abarcando o período 20-22 ou 20-23”, diz Paula Gonçalves Carvalho, economista-chefe do BPI, apontando ainda como alternativa olhar para os valores absolutos e distância relativamente aos níveis pré-covid.

A opinião é partilhada por João Borges de Assunção, coordenador do Católica Lisbon Forecasting Lab (NECEP), que considera que “nesta altura parece-me mais informativo evitar sobreanalizar as variações entre 2021 e 2020 ou mesmo entre 2022 e 2021”.

“O melhor, parece-me é, na maioria dos dados económicos, fazer a análise em nível ou comparando com o período pré-pandemia. Isto é o ano de 2019 ou o último trimestre de 2019”, realça. O economista realça que esse é o método que o NECEP tem utilizado para analisar a evolução da economia.
“Penso que o Instituto Nacional de Estatística (INE) e o Banco de Portugal, bem como o Governo, deveriam fazer o mesmo durante algum tempo. Na nossa estimativa o PIB no terceiro trimestre de 2021 deverá ter ficado a 95,6% do quarto trimestre de 2019, o último sem efeitos da pandemia e dos confinamentos”, defende.

Até, porque, como Paula Gonçalves Carvalho assinala “as taxas de crescimento anuais são informações complementares mas por si só, nesta fase, indicam pouco”.

O economista-chefe do Montepio, Rui Bernardes Serra, realça que as taxas de crescimento este ano e no próximo beneficiam do facto de estar a comparar com os baixos níveis de atividade observados durante os períodos de confinamento, quer de 2020, quer de 2021. “O facto de a economia crescer este ano entre 4% e 5%, claramente acima do potencial de crescimento, não deve ser motivo de especial regozijo, uma vez que o PIB de 2021 ainda vai ficar bem aquém do PIB de 2019 (mais de 4% abaixo)”, frisa.
No entanto, chamam à atenção que este cenário é transversal à generalidade das economias desenvolvidas (zona euro, Reino Unido, Japão), “sendo a exceção os EUA, em que o PIB de 2021 será superior ao de 2019”.
Questionado sobre o impacto para o cenário macroeconómico da revisão pelo INE de que a recessão do ano passado foi mais profunda do que o inicialmente estimado, João Borges de Assunção argumenta que “a revisão dos dados das contas nacionais e do PIB pelo INE significa que estamos mais longe de recuperar os níveis de atividade económica de 2019”, considerando que “as consequências dessa revisão para o cenário macro de 2022 são ambíguas. Em traços gerais parece-me que o mais inequívoco é que demoraremos mais tempo a regressar aos níveis económicos pré-pandemia”.

No entanto, a opinião não é unânime. Paula Gonçalves Carvalho considera que a revisão do INE apenas tem impacto no momento esperado da recuperação, “adiada para o segundo semestre de 2022 quando antes se pensou que poderia ocorrer mais cedo”. Ainda assim, diz que “não tem implicações nas perspetivas futuras”.
Para o Montepio a revisão do PIB de 2020 “não foi determinante” para a revisão em alta da previsão do Governo. “A revisão em alta da previsão do Governo deverá estar a refletir, sobretudo, o facto do PIB do segundo trimestre ter crescido mais do que o que se esperava inicialmente, sendo que, comparativamente às nossas previsões, o Governo está a antecipar um crescimento um pouco mais forte no segundo semestre”, explica o economista do banco.

 

Investimento e exportações impulsionam crescimento
no terceiro trimestre
Os economistas consultados pelo Jornal Económico destacam o investimento e as exportações como fatores de impulso à economia no terceiro trimestre.

“Em cadeia, o principais fatores serão um crescimento do investimento e das exportações, nomeadamente das exportações de turismo, sendo que também se antecipa um crescimento do consumo privado, mas em marcada desaceleração, quer pelo facto de o crescimento do segundo trimestre ter beneficiado dos efeitos de base da comparação com o primeiro trimestre”, refere Rui Bernardes Serra.

Paula Gonçalves Carvalho adverte, no entanto, que em sentido negativo “podem começar a pesar as restrições pelo lado da oferta, mais visíveis em países onde a manufatura tem mais peso, mas que também já se fazem sentir em Portugal”, exemplificando com o caso da produção industrial, que se encontra distante dos níveis pré-pandemia.

Também João Borges de Assunção alerta para “as dificuldades das cadeias de abastecimento começaram a travar a economia no final do trimestre e a aumentar os custos de diversas atividades. Os aumentos de preços podem ainda estar a travar o crescimento real da economia”.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.