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Tecnologia pode ser “alavanca” às exportações, mas aliada à inovação

Portugal é ainda deficitário em imagem de marca. Inovação e tecnologia podem ser chave como elemento diferenciador nas exportações lusas.
21 Novembro 2020, 16h00

A importância da internacionalização é cada vez mais reconhecida pela maioria das empresas portuguesas, depois da boa experiência exportadora nacional que permitiu ao país uma recuperação económica nos últimos anos, mas, em muitos casos, falta ainda capacidade de projeção internacional.

Neste sentido, e num mundo cada vez mais digital e com uma transição cada vez mais célere para este novo paradigma, a tecnologia será crucial nestes esforços. Isso mesmo já começaram a identificar as empresas portuguesas, que, segundo o estudo da Associação Economia Digital (ACEPI) sobre economia digital em Portugal, reportam em 75% dos casos ter já uma estratégia de transformação digital planeada ou em curso.

Contudo, e segundo o mesmo relatório, apenas 52% das grandes empresas portuguesas vende online, sendo que a percentagem baixa para os 27% considerando o total do tecido empresarial. Por aqui se constata que há ainda muito espaço para desenvolvimento.

Para Luís Fernandes, fundador da Decskill, a tecnologia terá de funcionar ao longo de três eixos: atração, conquista e fidelização dos clientes. O primeiro aspeto, explica, prende-se com a exposição. “A tecnologia permite, hoje em dia, chegar ao nosso destinatário da melhor forma possível. Conseguimos ter uma relação de maior proximidade com os potenciais clientes para os atrair, para verem os nossos produtos”, explica.

De seguida, o processo de conquista beneficia da possibilidade de fornecer experiências diferenciadas aos clientes, com a tecnologia a aprimorar esta vertente, ao “transformar as experiências de venda como se fosse numa loja real”, continua Luís Fernandes.

E todo o processo deverá culminar na fidelização deste cliente, em que se torna chave “criar processos e procedimentos de relação com o cliente o mais próximo possível”, algo que a tecnologia facilita, especialmente na parte de apoio ao cliente ou logística.

O mesmo defende José Ramos, o presidente executivo da Portugal Export, que acrescenta a importância da inovação. Para um dos fundadores desta plataforma online de exportação, a inovação aliada à tecnologia é determinante para as empresas nacionais conseguirem “fugir ao passado da mão de obra e recursos baratos”.
“A tecnologia aliada à inovação poderá ser a grande alavanca em termos de exportações sustentáveis”, afirma José Ramos. “Quando conseguimos criar mais valias tecnológicas, de inovação e de imagem criamos exportações sustentadas.” E é precisamente na imagem e projeção da marca que, para o empresário, as empresas portuguesas mais falham.

“Portugal, ao longo dos anos, permitiu que países que não produzem, não acrescentam mais-valias a não ser a marca e imagem, conseguissem ganhar o mercado. Temos produtos bons, com qualidade, mas nalgumas áreas não nos conseguimos afirmar no mercado. Portugal é ainda muito deficitário em imagem de marca”, conclui.

Ainda assim, são vários os setores que já dão cartas lá fora, com a ajuda das novas tecnologias. Nuno Sanfins Milagres, vice-presidente da ACEPI, destaca várias vertentes da indústria nacional, como a “de materiais, automóvel, têxtil e moda e de equipamentos”.

“A intensidade tecnológica é maior na indústria automóvel, onde a produção dos materiais, componentes para o setor e a própria montagem dos veículos é necessariamente tecnológica (informática e robótica), dado que estas indústrias competem no cenário internacional, onde preço e qualidade exigem processos muito otimizados que só com o recurso a tecnologia é possível atingir”, sublinha.

Mas há áreas onde é possível crescer. Desde logo, o setor agroalimentar, mas também a construção e comércio, como identifica o vice-presidente da ACEPI. Especialmente “no caso da construção, o desenvolvimento prevê-se exponencial uma vez que os processos produtivos são ainda muito artesanais e com recurso a mão de obra intensiva, já hoje podemos assistir ao crescente recurso à pré-fabricação e até à impressão 3D de edifícios completos”, explica.
Um dos bons exemplos de uma internacionalização forte vem da Spotfokus, empresa de desenvolvimento de software e aplicações móveis. Como narra Miguel Braga da Costa, a empresa conseguiu expandir-se e assegurar contas em meios tão diversos como os táxis no Luxemburgo, para quem desenvolveu uma solução onboard de publicidade, ou pela solução para a gestão de provas de canoagem que os levou a trabalhar com o Campeonato Europeu da modalidade.

“A tecnologia permite-nos provar que somos bons sem termos qualquer barreira territorial. Podemos exportar sem grandes complicações de transporte ou logística”, destaca um dos fundadores da empresa, que realça ainda que “em Portugal somos muito competentes a desenvolver software”.

Outro fator animador para o futuro vem da ACEPI, que salienta que três quartos das 35 mil empresas exportadoras nacionais operam em áreas onde a Covid-19 teve um impacto “médio ou baixo”. Assim, e aliando esta visão internacional às diretrizes e apoios da Comissão Europeia para a transição digital, a tecnologia e a inovação terão de ser, para o tecido empresarial português, o grande motor da sua projeção internacional.

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