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Telecomunicações no ponto de viragem? Disrupção precisa-se

Nos últimos anos, o mercado e as tendências das telecomunicações têm vindo a alterar-se em resposta à globalização e desenvolvimento tecnológico, que obrigaram a agilizar a transformação da oferta.
13 Fevereiro 2018, 12h30

O setor das telecomunicações está cada vez mais focado na adequação das suas soluções às diferentes necessidades de consumo, tendo vivido, até agora, de uma “fórmula de sucesso” que passou pela redução de custos e pela definição de novas variantes de oferta com base nos serviços tradicionais de telecomunicações.

No entanto, segundo a análise da consultora PwC, a dificuldade em replicar este modelo numa indústria cada vez mais madura tem sido crescente, para além de ter dado margem à entrada de novos players no mercado, como é o caso das OTTs (over-the-top). O setor das telecomunicações encontra-se, de acordo com a PwC, num ponto em que “ou consegue adotar um modelo disruptivo e encontrar novas alternativas de negócio, ou enfrentará a forte pressão de outros players mais competitivos por beneficiarem de menores custos de estrutura e da mesma capacidade de interação direta com os clientes finais”.

Atendendo à leitura das necessidades do setor do comércio e serviços, ainda somos levados a constatar as diferentes velocidades a que segue o país. As empresas procuram especificamente pacotes de serviços com soluções de software. É este o feedback que a CCP – Confederação do Comércio e Serviços de Portugal tem do seu setor, e não deixa de frisar que o país continua a não ser uniforme em termos de redes e de acessos. “Ainda existem algumas áreas no nosso país com uma cobertura de rede insuficiente para as necessidades, sobretudo no interior do país, pelo que é importante garantir a melhoria da cobertura de rede nessas áreas, de forma a melhorar a qualidade dos serviços às empresas”, ressalva Ana Vieira, secretária-geral da confederação.

O digital e a sua transformação estão no centro da estratégia das empresas, quer seja na indústria, saúde, banca e transportes, quer na energia ou telecomunicações. “É uma realidade e representa uma oportunidade”, defende Alexandre Ruas, diretor de Telecom & Media da Altran Portugal. Na sua opinião, o mercado empresarial global tem procurado, “criteriosamente, ecossistemas específicos e favoráveis ao seu desenvolvimento”, sendo que a maior disrupção “será, porventura, o modelo de decisão para implementação de centros empresariais. A prioridade deixa de ser escolher países de mão de obra indiferenciada e barata, para selecionar países capazes de disponibilizarem infraestruturas e recursos tecnológicos inovadores”.

As novas soluções, com recurso a automação, inteligência artificial ou machine learning, juntamente com um ecossistema social, económico e geopolítico estável, vão fazer a diferença na hora da decisão de investir num país. Na perspetiva da consultora, Portugal, com quadros técnicos e superiores especializados, reconhecidos e com planos de requalificação em marcha para os perfis não tecnológicos, surge na linha da frente para receber e dar resposta a estas novas necessidades.

A esta análise, a Altran acrescenta como grandes desafios que se colocam ao setor a capacidade de acompanhar as tendências tecnológicas, ao mesmo tempo que o país responde estrategicamente à crescente procura sem criar uma bolha laboral. Para isso, considera “fundamental um alinhamento entre Governo, instituições de ensino e empresas tecnológicas, protegendo quem investe na formação e no país. Certamente iremos atrair grandes grupos para Portugal via disrupção digital”.

Novo paradigma, nova batalha

Para as operadoras, o futuro próximo do setor será ditado pelo novo tipo de concorrência, capacidade de investimento em redes e infraestruturas; parcerias estratégicas; retenção e captação de talento, tendo como fio condutor a satisfação do cliente que procurou soluções adequadas e ajustadas ao seu tipo de necessidades, bem como garantir, a 100%, a segurança do armazenamento, transporte e tratamento de informação. Estas premissas são partilhadas por protagonistas deste universo como a AR Tdlecom e a Nowo, empresas que também destacam a importância da implementação do Novo Regulamento da Proteção de Dados (RGPD) até 25 de maio.

Para a Altice Portugal não restam dúvidas de que a concorrência “mudou muito”. E elege como principais concorrentes no mercado português os chamados OTT (over the top) como o WhatsApp ou o Messenger). “A concorrência deixou de ser local, para passar a ser global. Essa é, aliás, uma das consequências da transformação tecnológica: a globalização digital. Mas ao contrário destes, players digitais como a Altice Portugal têm a hipótese de chegar junto do cliente e de perceber as suas necessidades concretas, ajudando-o em função do seu negócio”. Outra das preocupações da empresa passa pelo recrutamento de talentos para as tecnológicas.

Para Tiago Ribeiro, responsável de desenvolvimento de negócio Corporate da NOS, a resposta a este grande desafio passa igualmente por um “investimento contínuo em plataformas, alicerces fundamentais para propostas de valor mais sofisticadas e robustas”. A somar à criação de um ecossistema de parcerias estratégicas, abordagens e ofertas inovadoras.

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