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Teletrabalho promete mudar a forma como se compra casa

Especialistas acreditam que a massificação do teletrabalho vai ter impacto no imobiliário, pois muitas pessoas passam a poder viver longe das grandes cidades, sem desistir da carreira. Zonas com bons serviços e escolas também serão mais procuradas.
31 Maio 2020, 10h00

“As pessoas já olham para o local onde vivem não apenas como um ‘dormitório’, mas como o sítio onde pretendem viver”, a afirmação é de Patrícia Barão, Head of Residential da consultora JLL, ao Jornal Económico. A explicação para este novo cenário está no teletrabalho, situação em que se encontraram muitos portugueses nos últimos dois meses, devido à pandemia de Covid-19.

“O facto de poderem passar mais tempo em casa faz com que as pessoas procurem bairros mais consolidados, onde tenham uma padaria ou supermercado. O que quer dizer que começa a haver uma maior procura por zonas que já têm alguns serviços associados”.

Outro factor destacado pela consultora para esta opção é de que “existem pessoas que querem viver em zonas mais próximas da praia, ou de zonas verdes e distantes de Lisboa que oferecem casas com valores mais atrativos e uma qualidade de vida superior a um apartamento no centro de Lisboa. Como têm a possibilidade de estar em teletrabalho podem ter essa opção de vida, porque efetivamente vão passar menos horas no trânsito ou poupar nos combustíveis”, explica.

Poderá este panorama de afastamento dos centros urbanos ser também aplicado às empresas?
Duarte Cardoso Ferreira, Building Consultancy da consultora CBRE, realça que “a maior parte das empresas mais inovadoras e disruptivas, com menos amarras a uma determinada forma de estar, já tinham o trabalho remoto completamente instalado”, acrescentando que “o que aconteceu agora com a Covid-19 é que aquilo que poderia vir a acontecer nos próximos cinco anos, que era um aumento da utilização do trabalho remoto, de repente acelerou imenso para uma situação que é completamente atípica”. Perante isso, o consultor salienta que, “quem tinha algumas resistências ao trabalho remoto, percebeu rapidamente que é possível manter as equipas com um determinado tipo de acompanhamento, objetivos claros e altos níveis de produtividade, sem que exista uma proximidade entre o management e as equipas de uma forma física”.

Para o responsável da CBRE, “o importante é criar uma enorme flexibilidade dentro das empresas para que as pessoas possam trabalhar ao seu estilo”, e sublinha que “a criatividade e a inovação vão estar sempre associadas a elevados níveis de colaboração e com as equipas muito juntas, mesmo que isso não implique estarem cinco dias por semana no escritório”.

Duarte Cardoso Ferreira acredita que devido à forma como o teletrabalho se institucionalizou como prática comum, as empresas que trabalham em escritórios vão desempenhar um papel “fundamental para que, dando a liberdade às pessoas para trabalhar em casa, garantam que elas vão mesmo querer ir ao escritório”.

 

Comprar casa: visitas presenciais vão continuar a ser “obrigatórias”
A compra de casa ficou condicionada pela pandemia, o que obrigou muitas das consultoras e agências imobiliárias a recorrer às visitas virtuais para conseguirem fazer negócios. Patrícia Barão refere que este modelo foi utilizado sobretudo por clientes estrangeiros por uma razão: vistos gold. “Temos clientes na Ásia que querem comprar as casas para obter vistos gold e, para eles, o que importa é que a casa tenha determinadas características, que é um bom investimento e que vão conseguir arrendá-la por um determinado valor por mês. O grande objetivo e motivação para investir no imobiliário é para obter o referido visto de residência.

A responsável salienta que apesar da pandemia as transações não pararam. “A necessidade de comprar ou arrendar casas manteve-se. Quer os cartórios, quer os notários sempre estiveram a funcionar, por isso todo o negócio continuou”.

No entanto, a responsável da JLL questiona: “será esta a forma ideal de fazer negócio?” A resposta é ‘não’, dado que “as pessoas preferem fazer as transações visitando a casa, mas estas visitas virtuais vão continuar”, destacando o mercado estrangeiro (Ásia e Brasil) para as zonas de Lisboa, Cascais e Porto, em imóveis do segmento médio-alto.
Por sua vez, Duarte Cardoso Ferreira afirma que “as visitas a um imóvel têm um fim muitíssimo específico para um investidor, que é mitigar o risco” e, como tal, “por muita tecnologia que possamos desenvolver e pôr em prática, e que vai ajudar de certeza absoluta, as visitas presenciais vão continuar a ser absolutamente obrigatórias”. Isto porque, “quando vou ver um imóvel, vou ver uma série de coisas que não consigo ver de outra forma e que me possibilitam ganhar dados para construir o meu business plan e, provavelmente, baixar o risco da iniciativa em que estou envolvido”, explica.

Para o responsável da consultora CBRE, um “reflexo disso é precisamente o fecho das fronteiras e não haver a possibilidade de fazer viagens, o que tem naturalmente um impacto na capacidade de gerar investimento”, conclui.

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