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Tempestade perfeita

Espero estar enganado, mas há evidências que se tornam cada vez mais óbvias de que o mundo pode submergir num tsunami de fenómenos que sejam geradores de um período alargado de estagflação.
8 Março 2021, 07h15

A tempestade perfeita é algo que se pode estar a desenhar nos céus da economia mundial e que pode desabar na terra da vida das pessoas este ano.

As taxas de inflação mais altas podem regressar por conta da conjugação de diminuição da produção de bens e serviços, do aumento dos preços das matérias-primas, e do enorme aumento das bases monetárias.

Os crashes nas bolsas podem surgir por conta das valorizações que têm acontecido nos últimos anos até ao ponto de o indicador Buffett ter o valor mais alto de sempre.

O Médio Oriente é um barril de pólvora que pode explodir de forma descontrolada. Iémen, Iraque e Síria são tabuleiros de jogos de guerra de Arábia Saudita, EUA, Irão, Israel, Rússia e Turquia, que podem escalar repentinamente.

Cada vez há mais empresários desesperados por 1 ano de quedas significativas nas receitas, que estão prestes a declarar falência por inviabilização económica das suas empresas dada a insustentabilidade de um período tão prolongado sem, ou com pouca, atividade.

Cada vez há mais trabalhadores e famílias desesperadas por 1 ano de confinamento e desemprego ou lay off. Também há cada vez mais trabalhadores que preferem ficar em lay off do que trabalhar.

As moratórias, que não são uma solução, mas apenas um adiamento, não vão durar para sempre, não evitando um aumento significativo do crédito malparado.

As taxas de juro historicamente baixas também não vão durar para sempre. Algumas taxas de juro já começaram a subir, e outras seguirão o mesmo caminho nos próximos anos.

Cada um dos fenómenos acima descritos é negativo para a economia. Todos em simultâneo são uma tempestade perfeita. Quais são os instrumentos à disposição para evitar essa tempestade perfeita? Baixar taxas de juro? Já estão baixas e são inadequadas em cenários de aumento inflacionário. Endividamento? Os estados, as empresas e as famílias já estão sobre endividadas e as taxas de juro vão subir. Não há grandes instrumentos disponíveis para amenizar a tempestade perfeita.

O que fazer? Poupe. Restrinja as suas despesas ao essencial para ter uma vida saudável e minimamente confortável. Trabalhe. Procure alternativas noutras áreas laborais, noutras paragens geográficas, crie a sua própria empresa, reinvente-se. Não se acomode com lay offs nem subsídios, pois quando quiser voltar ao trabalho ativo o seu posto de trabalho poderá já não existir. Eduque-se. Aumente a sua escolaridade e formação profissional, faça cursos práticos, aprenda uma língua. O grau de exigência no mercado de trabalho tende a aumentar, não a manter-se estagnado.

Espero estar enganado, mas há evidências que se tornam cada vez mais óbvias de que o mundo pode submergir num tsunami de fenómenos que sejam geradores de um período alargado de estagflação. O crash de 1929 foi um fenómeno que não só causou falências em massa, desemprego em massa e recessão prolongada, como ainda as condições de desequilíbrio que desencadearam a Segunda Guerra Mundial. As vésperas do crash de 1929 têm demasiadas similaridades com a atualidade económico-financeira mundial.

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