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Tempo de Silêncio: Um escritor em recolhimento

O inglês Patrick Leigh Fermor é conhecido sobretudo por dois feitos extraordinários: uma viagem a pé de perto de Roterdão, na Holanda, até Istambul, e a captura de um general alemão, em Creta, durante a Segunda Guerra Mundial.
26 Maio 2018, 11h00

Comecemos pela mítica viagem. Em dezembro de 1933, com apenas 18 anos, Paddy, como era conhecido, decidiu que, em vez de ir para a universidade, iria empreender uma longa caminhada até Constantinopla, como insistia em chamar a Istambul. Levava uma mochila, cadernos e canetas para escrever, e, sobretudo, um conhecimento profundo de latim e de História, uma tremenda queda para línguas estrangeiras, uma curiosidade insaciável e um temperamento particularmente afável e cativante.

Não tinha pressa, tinha todo o tempo do mundo. Dirigindo-se a sudeste, pelos campos cobertos de neve, chegou à Alemanha. Depois, andou ao longo do Reno e, indo para leste, desceu o Danúbio. Na Hungria pediu um cavalo emprestado e seguiu pela Transilvânia. Da Roménia passou à Bulgária e, no Ano Novo de 1935, passou a fronteira turca em Adrianópolis (hoje, Edirne). Os livros em que descreve a viagem são considerados um clássico do género.

Em 1941, Leigh Fermor foi encarregado de coordenar a ação da resistência grega na ilha de Creta, ocupada pelos alemães. Aí, em 1944, viria a raptar o General Heinrich Kreipe, responsável pelos ocupantes nazis. O grupo teve de dormir em grutas durante um mês até que fosse seguro levar Kreipe para o Egito. Um dia, para passar o tempo, o general alemão começou a recitar uma ode de Horácio, no original, em latim. Quando parou, Patrick Leigh Fermor continuou a récita. Mais tarde, afirmaria que “por acaso, era uma das que sabia de cor; depois disso, demo-nos muito melhor”. Como alguém afirmou, Paddy era uma perigosa mistura de sofisticação com imprudência.

Em meados dos anos 1950, alojou-se num mosteiro beneditino na Normandia com o objetivo de escrever o primeiro dos seus dois livros sobre a Grécia (“Mani” e “Roumeli”), mas acabaria por escrever sobre o próprio mosteiro, os monges e o seu quotidiano. Publicado originalmente em 1957, o livro junta três relatos, sendo os dois primeiros sobre o tempo em que permaneceu em três mosteiros – a Abadia de Saint Wandrille de Fontanelle, Solesmes (onde só ficou duas semanas) e a Abadia cisterciense de la Trappe – e o terceiro sobre uma visita aos mosteiros na rocha, na Capadócia.

Agora em português, numa edição da Tinta da China, “Tempo de Silêncio” narra com extrema candura as semanas que passou entre monges enclausurados.

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