A Economia é uma ciência cheia de incertezas. Pela sua natureza humana e social, não podia ser de outra forma. Nós, economistas, tentamos controlar alguma desta incerteza construindo modelos econométricos mais ou menos complexos que nos permitam fazer previsões com relativo grau de confiança.
Mas este tempo que vivemos agora é para a ciência e os cientistas particularmente frustrante. Com novos e inesperados fatores em jogo (nomeadamente a pandemia e a guerra) o aumento do grau de incerteza tem sido uma constante, tornando muito mais complicado qualquer forma de previsão. E a dificuldade de fazer previsões torna difícil definir políticas, uma vez que os cenários onde estas políticas podem impactar aumentam e se tornam mais difusos.
Uma das variáveis que nos últimos 20 anos não representava grande fonte de preocupação nas modelizações e previsões, era a inflação. Passamos as últimas décadas com uma inflação baixa (às vezes até baixa de mais) que parecia mais ou menos resistente, mesmo no contexto de políticas monetárias expansionistas.
De repente, uma tempestade perfeita descontrolou o nível geral de preços. A pandemia, a disrupção nas cadeias de abastecimento, a guerra, o preço das matérias-primas e cereais, o preço da energia, e a manutenção de taxas de juro baixas (e não estou a criticar), resultaram numa inflação que chegou a dois dígitos em alguns países europeus.
Um dos problemas da inflação é que altera as expetativas dos agentes. Ao fazê-lo altera comportamentos, o que interfere com o funcionamento da Economia e complica ainda mais a construção de cenários.
Perante este contexto, um dos fatores para a definição de políticas é se esta inflação é mais conjuntural ou mais estrutural. Uma parte dela, pequena, é controlada pelos decisores políticos através da agressividade da política monetária e da velocidade a que fazem subir a taxa de juro. Mas o resto é um exercício complicado de adivinhação, para o qual só temos o histórico e algum conhecimento do comportamento humano e das sociedades.
Eu acredito que esta inflação poderá ser conjuntural se a guerra terminar sem um novo clima de guerra fria (ou que pelo menos não seja exacerbado), se se desbloquearem os cereais presos na Ucrânia, se se conseguir, a uma velocidade maior do que tem vindo a acontecer, uma transição energética para uma menor dependência do gás e petróleo, e se a política monetária for inteligente, bem calibrada e eficaz.
São muitos “ses”, alguns deles bem pouco prováveis… Mas estes são os novos tempos de incerteza!
Este artigo é publicado no âmbito da rubrica “Barómetro”, do Boletim Económico de Verão do JE, parte integrante da edição impressa de dia 22 de julho.