Como é ser uma mulher no meio dos vinhos? E ainda por cima bonita. No início terá sentido anticorpos que agora, calculo, estejam ultrapassados.
Hoje em dia é muito natural, mas em 1999 quando comecei a trabalhar foi mais difícil a integração e aceitação por ser mulher e também por ter estado ligada ao mundo da Moda. Mas nunca vi isso como um problema, mas sim como um desafio. E acho que por existirem cada vez mais mulheres no mundo dos vinhos em diversas áreas, desde enologia, área comercial, marketing, sommeliers, jornalismo, etc, este sector tornou-se mais dinâmico, mais “descomplicado” e com maior capacidade para atrair novos consumidores.
Qual é o seu papel na Quinta de Chocapalha, que é dos seus pais?
A Quinta de Chocapalha foi comprada pelos meus pais em 1987, com o sonho de criarem um projecto em família envolvendo-nos a todos nas várias actividades. É uma quinta lindíssima, com muita história e com enorme capacidade para produzir grandes vinhos brancos, tintos e rosés. A nossa maior produção é vinho mas também temos pêra rocha. Eu sou enóloga e como tal responsável pela produção dos vinhos da Quinta de Chocapalha, juntamente com o enólogo Miguel Cavaco, que já trabalha connosco desde 2013.
Quais os atuais desafios que a Wine&Soul atravessa?
A Wine&Soul é a empresa que criei com o meu marido, Jorge Serôdio Borges, em 2001 com o intuito de produzir vinhos diferenciadores a partir de vinhas velhas do Douro, que são autênticas relíquias com uma enorme diversidade de castas que nos permitem criar vinhos únicos. Atualmente um dos maiores desafios que enfrentamos é a falta de mão de obra qualificada que queira se fixar no Douro. Trabalhamos de uma forma muito tradicional com pouca mecanização nas vinhas e enfrentamos diariamente uma enorme dificuldade de recrutar pessoal para o trabalho agrícola e não só.
Trabalhar com o seu marido implica alguns desafios para a relação? Conseguem separar o marido e a mulher e os sócios?
Foi sempre o nosso sonho trabalharmos juntos e criarmos um projeto em família e que possamos deixar um legado e património aos nossos filhos. Temos uma forma de trabalhar muito semelhante mas em algumas áreas complementamo-nos, o que nos torna mais fortes e resilientes e apoiamo-nos mutuamente em alturas mais desafiantes. Apesar de ser difícil separar o lado empresarial do familiar, tentamos que haja momentos do dia, em especial durante as refeições em família e durante as férias, em que não falemos de vinhos.
Como foi receber a distinção de uma das Melhores Enólogas do Mundo pelo Financial Times?
Foi uma enorme surpresa e um grande orgulho em especial vindo de Jancis Robinson, uma senhora que admiro imenso por tudo o que que tem feito no sector dos vinhos.
Não tinha ligação ao Douro e apaixonou-se por ele. Pode falar-nos sobre essa paixão?
Sim, vim fazer um estágio de vindima ao Douro em 1999 na Quinta Vale D. Maria , pois não conhecia a região, e fiquei completamente apaixonada e fascinada pelo enorme potencial para fazer grandes vinhos, bem como pelas pessoas e tradições. Hoje em dia, o Douro faz parte de mim, tenho um enorme amor pelas vinhas, pela terra e muitos sonhos que espero ainda conseguir concretizar.
Os seus filhos já se interessam pelo mundos dos vinhos?
Os nossos filhos nasceram neste mundo e convivem diariamente com os nossos sonhos, angústias e desafios. Apesar de muito diferentes, os três interessam-se muito pelo que estamos a fazer, acompanham muitos dos trabalhos e durante a vindima adoram ajudar e participar. O mais importante para nós é que criem raízes na terra e uma ligação forte ao projeto, terão que fazer cada um o seu percurso e perceberem qual o seu caminho, se desejarem juntar-se a nós, será uma alegria, mas não queremos de forma alguma que sintam qualquer pressão. Pois foi assim que os nossos pais também fizeram comigo e com o Jorge.
Quando se trata da Sandra consumidora de vinhos, quais são as suas castas preferidas?
É muito difícil mencionar castas pois adoro blends, mas em vinhos monovarietais a minha casta branca preferida é sem dúvida o Arinto e tinta a Touriga Nacional.
Qual é, para si, o menu ideal de Natal?
A ceia de Natal no dia 24 é muito tradicional com bacalhau cozido, couves, cenouras, nabo e batatas que plantamos na Quinta da Manoella, bem regado com o nosso Azeite Pintas servido com o nosso Guru Douro Branco. No dia 25 é o famoso peru bem recheado, uma receita muito antiga da minha avó Joana, que a minha mãe faz deliciosamente, acompanhado com Chocapalha Reserva Branco e CH Branco e CH Tinto e, claro, um bom Vinho do Porto.
Qual é a sua viagem de sonho?
Desde criança que tenho um fascínio enorme pela Austrália que nunca tive oportunidade de visitar, espero em breve realizar esse sonho! Mas tenho tantos destinos que gostaria de conhecer, como Índia, Perú, Islândia, São Tomé e Príncipe….
Descreva-me um dia típico seu… Que idade têm os seus filhos?
O meu filho Francisco tem 15 anos e depois temos gémeos, a Maria e o António com 11 anos. Na realidade não tenho muitas rotinas, a não ser de manhã despachar os três e levá-los ao colégio, no caso dos gémeos, o Francisco vai a pé para o liceu… e depois o meu dia é uma roda-viva… desde provas de lotes de manhã, visita às vinhas, receber visitas ou clientes, realizar provas de vinhos para clientes ou consumidores… e muitas viagens de promoção dos nossos vinhos, em Portugal e agora, finalmente, começam as viagens internacionais.
Como se idealiza, à sua vida, daqui a 10 anos?
Espero que um pouco mais tranquila, com mais tempo para mim e para gozarmos mais aquilo que criámos e conquistámos.
Imagina-se alguma vez “reformada” do mundo dos vinhos?
Acho que nunca nos vamos reformar, é impossível, vamos sempre ter sonhos e isso nos manterá vivos e com energia…. Mas espero que consigamos delegar mais para termos mais tempo para outras coisas, nomeadamente viajarmos juntos.
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