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Terrenos da Lisnave: o maior negócio do século na Grande Lisboa

Após décadas, vai avançar a venda dos terrenos da Margueira, com 630 mil metros quadrados de construção prevista para diversos usos e concessões de marina e terminal fluvial. Há grupos interessados de vários continentes.
25 Maio 2019, 10h00

Arranca para a semana, na próxima terça-feira, dia 14 de maio, aquele que deverá ser o maior negócio imobiliário do século em Portugal e um dos maiores em toda a Europa, com a realização da sessão pública de apresentação do projeto da “Cidade da Água”, que será implantado nos antigos terrenos da Lisnave nos próximos dez a 15 anos.

Estamos a falar de um total de 53 hectares, com a previsão de venda de 630 mil metros quadrados de terrenos para diversos usos: hotéis, escritórios, comércio, áreas culturais, atividades náuticas e outros serviços. Associado à venda dos terrenos, o processo engloba também o lançamento de dois concursos de concessão, um para um terminal fluvial de passageiros, e outro para a construção e gestão de uma marina. O projeto é da autoria dos arquitetos Richard Rogers & Santa-Rita Associados.

Nos últimos anos, os responsáveis da Baía do Tejo, empresa detida pela holding estatal Parpública e responsável pela gestão destes terrenos na Margueira, concelho de Almada, avançaram com estimativas de investimento neste projeto imobiliário na ordem dos mil a 1,5 mil milhões de euros. As últimas projeções já avançavam para o patamar dos dois mil milhões de euros.

Para se ter uma noção da dimensão deste empreendimento, basta dizer que no ano passado, de grande ‘aquecimento’ no setor imobiliário em Portugal, de acordo com a consultora CBRE, as cinco maiores transações no setor ascenderam a um montante de cerca de 1,6 mil milhões de euros. Ainda em fevereiro, um estudo da revista “Forbes” apresentava a cidade de Lisboa como um dos cinco mercados imobiliários emergentes mais apetecíveis para os próximos anos na Europa, destacando o papel dos vistos gold para atrair investidores da África do Sul, Alemanha, China, França, Canadá, Estados Unidos, Brasil e Itália, em particular em produtos imobiliários de luxo.

“Os terrenos a alienar encontram-se abrangidos pelo Plano de Urbanização de Almada Nascente e contemplam uma área prevista de construção de 630.246 metros quadrados destinada a diversos usos (…)”, adianta um comunicado da Baía do Tejo, avisando sobre a intenção de venda desta vasta área que na segunda metade do século XX albergou um dos maiores estaleiros mundiais de construção naval. “Com o objetivo de dar a conhecer a intenção da Baía do Tejo, S. A, a nível nacional e internacional, convidam-se todos os operadores económicos a participar em sessão de apresentação e, caso pretendido, em reuniões individuais com representantes da Baía do Tejo, S.A”, esclarece o referido comunicado. Essas reuniões individuais terão lugar nos dias 15 ou 16 de maio (quarta e quinta-feira próximas).

O Jornal Económico apurou que, nos últimos anos, a Baía do Tejo recebeu diversas manifestações de interesse neste negócio por parte de grupos estrangeiros de várias partes do mundo, desde a Rússia à China, dos Estados Unidos à Coreia do Sul, do Golfo Pérsico ao Brasil, sem esquecer a Europa, o que explica que a empresa tenha decidido anunciar esta sessão de apresentação na imprensa internacional, com destaque para o “Financial Times”.

Com uma vista ímpar sobre a baixa de Lisboa, a oito minutos do centro da capital por barco, a 12 quilómetros da cidade por automóvel, a 18 quilómetros do aeroporto por rodovia e com possibilidades de transporte por barco, autocarro, metro e automóvel, a “Cidade da Água” apresenta vantagens consideráveis em termos de localização.

O processo de venda dos terrenos da antiga Lisnave já vem de longa data e tem sofrido diversas peripécias. Um dos últimos passos neste sentido foi a extinção, no ano passado, da Margueira – SGFII (sociedade gestora do fundo de investimento imobiliário), que, por sua vez, levou à extinção do Fundo Margueira, cuja gestão constituía o seu único objeto. Esta decisão levou a que os acionistas, entre os quais a Parpública, que detinha 51% do capital, “tivessem decidido a sua liquidação, processo que foi conduzido em termos que permitiram a adequada transferência das responsabilidades e posições contratuais relacionadas com a gestão do património imobiliário anteriormente pertencente ao Fundo, e o encerramento da liquidação da sociedade ainda em 2018”, conforme destaca o relatório da holding estatal referente ao exercício de 2018.

O mesmo documento sublinha que “a Baía do Tejo, por seu lado, tem a responsabilidade pela montagem do processo que visa a alienação do território, processo que se tem revestido de bastante complexidade dados os requisitos prévios que houve que garantir, nomeadamente os relacionados com a situação registral do património, processo que decorreu durante 2018 e foi concluído com sucesso”.

“Paralelamente, a Baía do Tejo assegurou a realização dos estudos prévios ao lançamento do procedimento de venda – como seja a realização das necessárias avaliações e a definição do modelo financeiro e jurídico que irá enquadrar a transação – de Objetivos de Gestão e Plano de Atividades e Orçamento e Relatório de Gestão 2018, de modo a que a venda possa ser colocada no mercado. Todo este processo, embora da responsabilidade direta da Baía do Tejo, foi acompanhado de perto pela acionista, nomeadamente no que respeita à indispensável articulação com diferentes entidades com competências sobre o território e à necessidade de compatibilizar diversas perspetivas de interesse público”, assinala o referido documento da Parpública.

Contactado pelo Jornal Económico, Miguel Paiva Couceiro, diretor de promoção da CBRE, acredita que “este é um dos projetos mais relevantes e estruturantes para Lisboa e Portugal”. O responsável da consultora imobiliária não tem dúvidas de que, “nos próximos anos, iremos assistir a uma expansão da cidade de Almada e a uma fixação de empresas”, sublinhando que “o terminal fluvial terá um grande impacto em Lisboa”. Um projeto que, na opinião do diretor de promoção da CBRE, irá permitir uma “comutação das redes de transportes”, nomeadamente, do metro de superfície de Cacilhas com o comboio da rede Fertagus, que atravessa a ponte 25 de Abril. Questionado sobre o facto de haver consórcios portugueses interessados neste projeto e se seria positivo o mesmo ser atribuído a um grupo português, Miguel Paiva Couceiro, diz não estar “surpreendido pelo interesse português no negócio e que “os investidores estrangeiros surgem em Portugal sempre acompanhados por parceiros portugueses”.

Artigo publicado na edição nº1988, de 10 de maio do Jornal Económico

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