Os juros da dívida portuguesa no mercado secundário têm vindo a subir ligeiramente desde o anúncio dos entraves do Tribunal alemão ao programa de compra de dívida do Banco Central Europeu, embora tenham estabilizado, pelo que o impacto para os custos de financiamento de Portugal nesta quarta-feira deverá ser residual, segundo o analista da corretora Infinox, Pedro Amorim.
O IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública realiza um leilão de Obrigações do Tesouro com maturidade em outubro de 2025 e outubro de 2030, com um montante indicativo global de 1.250 milhões de euros.
“As taxas de juro têm-se mantido estáveis desde o início de abril. Deveremos ter uma emissão a 10 anos perto dos 0,95% de cupão e a cinco anos deverá emitir ligeiramente acima dos 0,3%, registando assim uma ligeira descida em relação à ultima emissão”, antecipa Pedro Amorim.
No último leilão comparável de emissão a dez anos, a 22 de abril, Portugal emitiu 598 milhões de euros com uma taxa de alocação de 1,194%, tendo a procura superado a oferta em 1,68 vezes. Já na última colocação a cinco anos, a 11 de março, o Tesouro pagou uma taxa de 0,059%, tendo a procura superado a oferta em 1,63 vezes.
O analista da Infinox considera que “em termos de procura vai ser o tradicional: a procura acima da oferta”, realçando que “para a categoria de risco a taxa de juro está apetecível aos olhos dos institucionais”.
Na semana passada, o Tribunal Constitucional alemão ter considerado que partes do programa lançado por Mario Draghi em 2015 iam contra as regras, dando três meses à instituição de Frankfurt para fazer alterações, o BCE disse ter “tomado nota” da decisão, mas a presidente do banco central reiterou a independência da insitituição, enquanto a Comissão Europeia anunciou estar a ponderar colocar um processo de infração à Alemanha.
Pedro Amorim diz que “a decisão do tribunal alemão não irá afetar em nada” o leilão de dívida portuguesa nesta quarta-feira. “O mercado já assume este tipo de decisões “locais” como não elegíveis para decisões centrais. Estamos a falar de uma medida desfavorável para a Alemanha, mas a decisão central é soberana”, frisou. Apesar de admitir que “haverá obviamente algumas contrapartidas que irão beneficiar a Alemanha, mas nada materialmente relevante”.
“As taxas de juro [no mercado secundário] estão estáveis desde o grande aumento que tivemos no pico da pandemia na zona euro, sendo que o mercado estará a aguardar pela decisão final do BCE e comissão europeia para o plano europeu. As dívidas periféricas serão as mais afetadas, onde Portugal se encontra, obviamente o mercado secundário reagirá”, disse.
Esta terça-feira, os juros da dívida portuguesa a 10 anos negociavam nos 0,912% (cerca das 16h30) e a cinco anos nos 0,319%.
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