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Têxteis são 56% das insolvências na indústria do Norte

A AEP considera “preocupantes” as insolvências no Norte no terceiro trimestre, num contexto de incerteza global, mas espera “resiliência” da indústria. Mais de 20% dos novos casos na região são nos têxteis. Representante do setor estima perda de 600 a 700 empregos no trimestre.
21 Novembro 2025, 06h43

Há pelo menos uma década que o Norte não pesava tanto nos novos processos de falência em Portugal. A região, que habitualmente já tem preponderância neste capítulo, acumulou entre julho e setembro 55% de todas as insolvências declaradas, de acordo com os dados atualizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). O Norte esteve em claro contraciclo: subiu 10,8% face aos três meses anteriores (para 256 empresas) e 5,8% na comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto viu o país divergir, com uma queda em cadeia de 0,9% e homóloga de 6,9% (para 459 insolvências empresariais).
Mas o que justifica estes movimentos opostos? E pode este último trimestre dar-nos sinais de uma nova tendência? Uma parte importante da explicação está nas fábricas. Enquanto setores como a construção e o comércio acompanharam a trajetória do país (menos 20 insolvências decretadas na região no conjunto das duas atividades face ao trimestre anterior), a indústria transformadora teve mais 12 casos (apesar de uma queda homóloga), o mesmo acréscimo que as atividades administrativas e serviços de apoio.
Ainda que o número de novas insolvências decretadas no Norte (e do país) esteja a um nível baixo quando comparado com outros períodos, nomeadamente da Troika ou da pandemia, o presidente do Conselho de Administração da AEP, Luís Miguel Ribeiro, mostra-se apreensivo com a subida das insolvências na região, e “em particular da indústria transformadora”.
Em respostas ao Jornal Económico (JE), o responsável nota que o Norte “é muito importante para a economia portuguesa”, porque tem maior especialização industrial e excedentes comerciais de bens, concentrando ao mesmo tempo metade das empresas da indústria transformadora e mais de um terço da construção.
Estes setores, porém, são “caracterizados por uma estrutura de custos relativamente elevados, alguns com elevada abertura ao mercado externo” o que traz desafios neste período para a indústria transformadora, afirma. É que “as empresas portuguesas estão a encontrar maiores dificuldades quer pelo aumento da concorrência, em particular de empresas asiáticas, quer pela maior instabilidade no comércio internacional como consequência das tensões geopolíticas”.
Estando o Norte do país mais sujeito aos efeitos desse enquadramento internacional, “pode traduzir-se num maior risco de insolvência”, argumenta o líder da AEP, considerando que “este fenómeno não é meramente circunstancial nem deve ser entendido como sinal de crise específica da região”. Depende do contexto internacional.
“É justificável, em parte, que o Norte contribua de forma expressiva para as insolvências a nível nacional e que, em determinados momentos, essa proporção se amplifique, nomeadamente num clima de incerteza global como o atual que afeta em primeira instância setores de bens transacionáveis”, defende. No entanto, o presidente do Conselho de Administração da AEP reconhece que “o aumento no número de falências na região e, em particular, na indústria transformadora não deixa de ser preocupante”.

Mais de 600 no desemprego
Os dados do INE não permitem perceber, dentro da indústria transformadora, quais são os subsetores que mais contribuem para as insolvências, mas os anúncios do site Citius consultados pelo Jornal Económico mostram que houve 56 empresas de têxteis e vestuário a entrarem em processo de falência no terceiro trimestre (ver caixa), o que significa 21,9% dos casos do Norte.
Dessas 56 insolvências, 9 dizem respeito ao comércio de têxteis e vestuário e 47 ao fabrico — e estas empresas representam 58,8% de todas as falências da indústria transformadora no Norte — ou 56% em toda a indústria (incluindo a extractiva).
Em declarações ao Jornal Económico, Ricardo Silva, presidente da Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal (ATP), aponta para a “descida do consumo global”, que está a afetar as exportações do setor. Em julho e agosto “já se notou uma redução de 1% a 2% das exportações”, revela. “E as empresas mais afetadas logo à partida são as subcontratadas”.
“Temos um setor muito fragmentado, especialmente na área do corte e costura, ou seja, a confeção”, justifica o representante dos têxteis e do vestuário, indicando que a maioria das empresas insolventes terão menos de 10 trabalhadores. São “mais frágeis por natureza” e “as primeiras a ficar sem trabalho”, afirma. “Tão rápido se levantam empresas como têm problemas na linha da frente”.
Ricardo Silva estima que neste terceiro trimestre tenham perdido emprego, “provavelmente, 600 a 700 pessoas”, num universo superior a 70 mil pessoas em Portugal. “Não considero que seja alarmante nesta fase. Se persistisse por mais um ano, já seria”, acrescenta.
Já Ramiro Brito, presidente da Associação Empresarial do Minho (AEMinho), justifica o impacto com “a maior exposição à conjuntura mundial”, mas também critica “a arbitrariedade da Autoridade Tributária”, por aplicar a lei do IVA nas exportações de forma diferente da generalidade dos estados-membros. É uma dificuldade acrescida para um setor “vulnerável”, aponta.
E será que a situação se vai manter durante mais tempo? O presidente da ATP acredita que, enquanto houver instabilidade no consumo, há “pequenas empresas que podem não resistir”, enquanto outras, “mais robustas”, devem “conseguir manter a atividade”. Por outro lado, o presidente da AEMinho considera que se está a viver uma “revolução industrial silenciosa”, que “tem um custo” — “há empresas que não vão resisitir”. Contudo, passada esta fase, “até ao final do primeiro trimestre”, acredita que o setor vai “reinventar-se e encontrar o seu lugar competitivo”. Avisa, no entanto, para a necessidade de haver fusões, para que as empresas ganhem escala.


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