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Theresa May em Bruxelas sem nada para negociar

O que a primeira-ministra quer negociar não é negociável para a União. O encontro será, no mínimo, penoso. Entretanto, já há uma lista de candidatos ao inferno, como Donald Tusk sugeriu.
7 Fevereiro 2019, 07h40

Esta quinta-feira, a primeira-ministra britânica regressa a Bruxelas para tentar renegociar o acordo do Brexit, num encontro que todos os envolvidos preveem ser uma pura formalidade sem qualquer sentido prático. Theresa May leva na mala a oposição do Parlamento britânico ao mecanismo de salvaguarda para Irlanda do Norte e pela frente terá uma União Europeia que em bloco recusa qualquer renegociação sobre a matéria.

Na passada terça-feira, Theresa May visitou Belfast, capital da Irlanda do Norte, onde disse que o seu compromisso para evitar o regresso das fronteiras entre as duas Irlandas é inabalável. O problema é que a União Europeia não quer saber desse compromisso para nada, e não está disponível para voltar à mesa das negociações.

Arlene Foster, líder dos unionistas do DUP, que apoiam o governo, disse que “é bom que a primeira-ministra viaje para Bruxelas para encontrar soluções, mas ela deve concentrar-se nos compromissos que assumiu com a Câmara dos Comuns. Esse é o seu mandato e é isso que eu espero. Um recuo iria minar a integridade económica e constitucional do Reino Unido”.

Ou seja: as duas partes estão irredutíveis, e o mais certo, como afirmam todos os analistas, é que não seja possível chegar-se a um acordo. Como a emenda que foi votada no Parlamento na mesma altura, segundo a qual um Brexit sem acordo não é possível, não tem força de lei, o pior está a um passo: o não acordo.

A única hipótese de o regresso de Theresa May a Bruxelas ser mais eficaz que o desastre que se prevê é a primeira-ministra ter na sua posse uma outra ideia para propor à União. Ora, para haver uma ideia, qualquer que ela fosse, teria que ter passado pela Câmara dos Comuns – e como isso não sucedeu, May não está sequer mandatada para debater o que quer que seja.

Entretanto, os britânicos – ou os jornais britânicos – mostravam-se ontem estarrecidos com uma espécie de desabafo de Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, que disse publicamente qualquer coisa próxima de esperar que haja um lugar reservado no inferno para quem decidiu o Brexit sem pensar em todas as suas consequências: “ao menos um esboço do plano”, disse.

O jornal ‘The Guardian’ chegou mesmo a avançar com uma lista de elegíveis para rumarem ao inferno: David Davis, Boris Johnson, Michael Gove, Liam Fox, Daniel Hannan e Nigel Farage compõem a lista de pecadores.

E os pecados não são menores: Davis, ex-ministro do Brexit, ignorava o funcionamento da União; Johnson, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, dizia que os custos do Brexit seria praticamente nulos; Gove, ex-secretário de Estado, achava que os ingleses podiam escolher o Brexit que muito bem quisessem; Fox, outro ex-secretário de Estado, considerava que o acordo de livre comércio pós-Brexit entre o Reino Unido e a União seria “o mais fácil da história”; o deputado europeu Daniel  Hannan chegou a afirmar que, no pós-Brexit, os impostos municipais iriam descer 60%; e Farage, ex-líder da ultra-direita do UKIP, disse que “o referendo foi a nossa oportunidade de ouro”.

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