Volvidos sete anos sobre a mais intensa tragédia que Portugal viveu neste século, entendeu o Presidente da República voltar ao epicentro da tragédia para, no dia de Portugal, celebrar Portugal “Todo, uno, na sua diversidade”.

Além de uma justa homenagem aos cidadãos de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, este foi um Dia de Portugal que suscitou uma discursiva unanimidade sobre a necessidade de dar outras oportunidades aos territórios do interior e a quem lá vive.

Convirá, no entanto, que entre as paisagens deslumbrantes, as tradições culturais quase esquecidas ou as marcas de modernidade que os municípios vão deixando, convirá, dizia, que não olvidemos o essencial. E o essencial é saber se todos os cidadãos portugueses têm os mesmos direitos e as mesmas possibilidades de desenvolvimento das suas capacidades individuais e de concretização dos seus sonhos, independentemente do local onde nascem ou vivem.

O Estado foi melhorando acessibilidades, construindo escolas ou centros de saúde.

Os municípios foram desenhando estratégias de desenvolvimento para os seus territórios, dando-lhes infra-estruturas essenciais, apostando em atrair novos investimentos e novos habitantes.

Sendo certo que estas políticas públicas levam a que, nesses territórios, a qualidade de vida seja hoje muito superior à que conhecemos há, ainda, poucas décadas, não o é menos que falta percorrer um longo caminho para que a igualdade de oportunidades entre todos os cidadãos, independentemente dos territórios onde nasçam, seja uma realidade.

E nestes territórios, dominados pela floresta e por uma agricultura pobre, as desigualdades ganham uma outra dimensão.

Muitos destes territórios vão-se, compreensivelmente, terciarizando, em busca de melhores e mais estáveis rendimentos.

Acontece que a floresta lá se mantém, só que em explorações sem dimensão, com a população que dela cuida cada vez mais envelhecida e mais escassa e com rentabilidades que são sobretudo reconhecidas nas contas das indústrias transformadoras, em detrimento da justa remuneração dos produtores.

Independentemente do simbólico dos discursos e da sua unanimidade, a manter-se este caminho a tragédia do fogo repetir-se-á, a igualdade não se afirmará e a coesão dos territórios continuará a ser uma miragem.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.