Fevereiro, tempo de inverno, princípio de mês. Um janeiro cheio de atividade artística onde eu não prescindi de assistir a alguns eventos que me fizeram sentir novamente deslumbrado com o caminho possível que as artes nos diversos projetos culturais possam verdadeiramente estar a encontrar. Um horizonte e um socorro sustentável para um porvir mais acertado para os que aqui, na ilha, se afirmam numa profissão artística. Após uma luta de mais de quarenta anos, a arte do teatro que eu elegi, como forma de estar nesta nossa sociedade não só como um indivíduo predisposto a expor-se nas mais variadas narrativas, como também intervir em diversos e variados factores sociais, que afligem o nosso quotidiano ilhéu, tornou-me ainda mais consciente do meu papel como ator (mesmo sem o “c”).
Nos anos setenta recordo-me do chavão: “ o teatro é uma arma e como tal tem que ser utilizado…”. Claro que o teatro é uma arma; é um meio de atingir vários objetivos, se for bem utilizado. Aproveitado para boas causas, não só artísticas como também culturais e mesmo recreativas, que possam dignificar o indivíduo como cidadão do mundo, o dos dias de hoje, onde habitamos de forma tão intensa, à velocidade de um simples toque, será um verdadeiro escudo.
O teatro, como arte, tem o seu próprio fascínio pelo que de belo as palavras podem envolver no seu contexto onírico; utópico no seu quê de poético, político, cultural e social. Costumo sempre pensar que cada espetáculo que enceno ou que participo como ator é sempre o último pois que, mesmo imaginando um próximo nunca saberei se conseguirei edificá-lo. Contudo, vivo-o e sempre com fé acredito que poderei fazer nascer outro e continuar a dar o meu contributo como homem de teatro.
Quando me sento numa sala de espetáculos e me sinto tocado pelo movimento dos corpos, das palavras que brotam da boca dos atores e pelas sonoridades extraídas de outros instrumentos musicais, acredito que valeu a pena muito do trabalho artístico que muitos de nós, jovens entusiastas pós abril, desenvolvemos ao longo destes últimos quarenta e tantos anos e que acabaram por sensibilizar, mesmo que não o considerem, tantos outros jovens promissores em tantas áreas da vida cultural e artística no nosso espaço, rodeado pelo mar, no meio deste grande oceano que nos envolve neste perpétuo; infindável nevoeiro.
Todo este enorme discurso somente para vos chamar a atenção para os diversos trabalhos que, como queiram “apelidar”, com amadores, semiprofissionais, profissionais, estudantes das diversas artes, durante o mês de janeiro e continuam por este e mais meses, deram e continuarão a dar vida com o seu talento, enchendo-nos a alma de beleza e consciência em vários espaços culturais. Poderia mencionar um a um os seus atores, mas aí demoraria páginas sem fim para poder revalidar os muitos valores que calcorreiam dia após dia os nossos palcos, (talvez um dia, à minha maneira, o faça) e que têm com a maior das urgências ser ainda mais acarinhados, valorizados e definitivamente apoiados para que não se possam perder no adormecimento da motivação, como já aconteceu tantas vezes em todos estes anos.
Nada melhor para vos dar a conhecer as palavras de Frederico Garcia Lorca: “O teatro é um dos mais expressivos e úteis instrumentos para a edificação de um país e o barómetro que marca a sua grandeza ou a sua decadência (…) Um povo que não ajuda e não fomenta o seu teatro, se não está morto, está moribundo; como o teatro que não recolhe a pulsação social, a pulsação histórica, o drama das suas gentes e a cor genuína da sua paisagem e do seu espírito, com riso ou com lágrimas, não tem o direito de chamar-se teatro, mas sala de jogo ou sítio para essa coisa horrível que se chama matar o tempo.”
Taguspark
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