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Todos temos um lugar e podemos ser!

Nos anos setenta recordo-me do chavão: “ o teatro é uma arma e como tal tem que ser utilizado…”. Claro que o teatro é uma arma; é um meio de atingir vários objetivos, se for bem utilizado. Aproveitado para boas causas, não só artísticas como também culturais e mesmo recreativas, que possam dignificar o indivíduo como cidadão do mundo, o dos dias de hoje, onde habitamos de forma tão intensa, à velocidade de um simples toque, será um verdadeiro escudo.
12 Fevereiro 2018, 07h15

Fevereiro, tempo de inverno, princípio de mês. Um janeiro cheio de atividade artística onde eu não prescindi de assistir a alguns eventos que me fizeram sentir novamente deslumbrado com o caminho possível que as artes nos diversos projetos culturais possam verdadeiramente estar a encontrar. Um horizonte e um socorro sustentável para um porvir mais acertado para os que aqui, na ilha, se afirmam numa profissão artística. Após uma luta de mais de quarenta anos, a arte do teatro que eu elegi, como forma de estar nesta nossa sociedade não só como um indivíduo predisposto a expor-se nas mais variadas narrativas, como também intervir em diversos e variados factores sociais, que afligem o nosso quotidiano ilhéu, tornou-me ainda mais consciente do meu papel como ator (mesmo sem o “c”).

Nos anos setenta recordo-me do chavão: “ o teatro é uma arma e como tal tem que ser utilizado…”. Claro que o teatro é uma arma; é um meio de atingir vários objetivos, se for bem utilizado. Aproveitado para boas causas, não só artísticas como também culturais e mesmo recreativas, que possam dignificar o indivíduo como cidadão do mundo, o dos dias de hoje, onde habitamos de forma tão intensa, à velocidade de um simples toque, será um verdadeiro escudo.

O teatro, como arte, tem o seu próprio fascínio pelo que de belo as palavras podem envolver no seu contexto onírico; utópico no seu quê de poético, político, cultural e social. Costumo sempre pensar que cada espetáculo que enceno ou que participo como ator é sempre o último pois que, mesmo imaginando um próximo nunca saberei se conseguirei edificá-lo. Contudo, vivo-o e sempre com fé acredito que poderei fazer nascer outro e continuar a dar o meu contributo como homem de teatro.

Quando me sento numa sala de espetáculos e me sinto tocado pelo movimento dos corpos, das palavras que brotam da boca dos atores e pelas sonoridades extraídas de outros instrumentos musicais, acredito que valeu a pena muito do trabalho artístico que muitos de nós, jovens entusiastas pós abril, desenvolvemos ao longo destes últimos quarenta e tantos anos e que acabaram por sensibilizar, mesmo que não o considerem, tantos outros jovens promissores em tantas áreas da vida cultural e artística no nosso espaço, rodeado pelo mar, no meio deste grande oceano que nos envolve neste perpétuo; infindável nevoeiro.

Todo este enorme discurso somente para vos chamar a atenção para os diversos trabalhos que, como queiram “apelidar”, com amadores, semiprofissionais, profissionais, estudantes das diversas artes, durante o mês de janeiro e continuam por este e mais meses, deram e continuarão a dar vida com o seu talento, enchendo-nos a alma de beleza e consciência em vários espaços culturais. Poderia mencionar um a um os seus atores, mas aí demoraria páginas sem fim para poder revalidar os muitos valores que calcorreiam dia após dia os nossos palcos, (talvez um dia, à minha maneira, o faça) e que têm com a maior das urgências ser ainda mais acarinhados, valorizados e definitivamente apoiados para que não se possam perder no adormecimento da motivação, como já aconteceu tantas vezes em todos estes anos.

Nada melhor para vos dar a conhecer as palavras de Frederico Garcia Lorca: “O teatro é um dos mais expressivos e úteis instrumentos para a edificação de um país e o barómetro que marca a sua grandeza ou a sua decadência (…) Um povo que não ajuda e não fomenta o seu teatro, se não está morto, está moribundo; como o teatro que não recolhe a pulsação social, a pulsação histórica, o drama das suas gentes e a cor genuína da sua paisagem e do seu espírito, com riso ou com lágrimas, não tem o direito de chamar-se teatro, mas sala de jogo ou sítio para essa coisa horrível que se chama matar o tempo.”

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