Na semana passada vi, numa rotunda no Porto, um cartaz que dizia “Ciência não é Ideologia”. Intrigou-me e tentei ler mais de perto e a mensagem continuava “deixem os nossos filhos em paz”. Percebi depois que o cartaz era da Alternativa Democrática Nacional. Percebi também, depois de alguma pesquisa, que a ideologia a que se referem é a chamada “ideologia de género”.

É certo que ciência não é ideologia, é ciência. E também é certo que ideologia não é ciência, é ideologia. Mas Valores, são Valores! Se há coisas que são do domínio da Ciência — por exemplo se o aparelho reprodutor é masculino ou feminino ou até hermafrodita, ou seja, o sexo com que cada indivíduo nasce —, já a orientação sexual ou a identidade de género, que dizem respeito apenas a cada um, não sendo ciência, não são certamente ideologia.

Vivemos num mundo em permanente mudança pelo que as relações sociais e a individualidade humana estão em constante evolução. Há por isso, muitas vezes, a necessidade de promover a aceitação de novas formas de estar, de viver, de nos relacionarmos. Esta aceitação exige de muitos de nós algum esforço, é certo. Mas a dificuldade de compreensão não é desculpa para a intolerância. Assim foi na história em relação ao racismo, em relação à igualdade de género, ou, há mais anos, em relação a quem não tinha religião ou tinha uma religião diferente. Cabe a todos a promoção permanente dos valores civilizacionais de tolerância e liberdade individual.

Confesso a minha incompreensão perante esta atitude, em particular no contexto da escola. Os programas são definidos tendo em conta determinados objetivos de aprendizagem, mas também com a missão de gerar jovens tolerantes, com comportamentos cívicos e adequados ao contexto atual. Não concordo com todas as opções programáticas, mas não me passaria pela cabeça recusar que os meus filhos seguissem o currículo oficial ou o fizessem de forma menos séria ou empenhada.

Se há algo que lhes é dito ou ensinado na escola com o qual, nós pais, discordamos, de novo, é conversando com eles que isso se resolve ou esclarece. A família tem uma importância fundamental na formação dos jovens pelo que, conversar e discutir, em casa, os temas mais controversos, é muito mais útil do que censurá-los.

Qual é o medo destas pessoas?  Será que temem que os filhos ao ouvirem falar de outras formas de sexualidade, ou de identificação de género, possam ser “contaminados”? Ou será antes a esperança de que se estes assuntos não forem discutidos na escola sob o desígnio da tolerância, do respeito e da liberdade individual, os filhos nunca irão ouvir falar deles?

Não promover a tolerância, é errado e pernicioso… Está demonstrado que quanto mais tolerantes e abertas forem as sociedades melhor funcionam. Que todas as formas de intolerância —misoginia, racismo, homofobia ou qualquer outra fobia preconceituosa—, geram conflitos e levam a uma sociedade menos desenvolvida e mais pobre.

A história mostra-nos que o tempo tende a resolver (ou atenuar) formas de discriminação e intolerância, o que é bom. A minha esperança é que no que diz respeito à (erradamente) chamada “ideologia de género” o faça de forma rápida e contundente para bem, precisamente, dos nossos filhos.