A um mês do fim do ano, é tempo do looking forward. As coisas mudam depressa: o Covid está contido, o receio de saída do quantitative easing em recessão está temperado, a bolha imobiliária chinesa não rebentou, o preço do petróleo não subiu à estratosfera. Parece que toda a Gália está dominada. Mas não.
Três preocupações principais estão pela frente. A primeira, as eleições americanas daqui a um ano. Se Trump ganha vai ser a subida do protecionismo, atentados ao ambiente, a NATO a tratar de jardins e a Rússia de mãos livres na Europa. Junte-se uma cruzada de vingança pessoal e só falta auto-indultar-se. Só mesmo Liz Truss deseja o seu regresso, no “Wall Street Journal”.
Infelizmente, Trump está mais perto da casa Branca depois de R. F. Kennedy Jr. ter anunciado a 9 de outubro ser candidato independente. Normalmente os independentes são ruído, mas numa sondagem de Harvard ele tem 57% de opiniões favoráveis e 27% desfavoráveis, enquanto Trump regista 51-44 e Biden 46-49. Numa sondagem a três no início do mês Biden ganha com 39%, Trump tem 36%, mas Kennedy alcança 22%, melhor que os 19% de Perot em 1992. Se não desiste, pode desviar votos de Biden para Trump.
Outra é a situação sociopolítica. O populismo está em alta, num mundo em que não se dá respostas aos cidadãos. Depois de Meloni na Itália e Wilders nos Países Baixos, é Milei na Argentina, país onde a inflação ultrapassa 140%, com promessas de “dolarizar” a economia e fechar o banco central, tratar a administração pública a motosserra e privatizar. A probabilidade de sucesso é baixa – se o bloco conservador tem 132 deputados dos 257 do Congresso, do partido de Milei são só 35, mas a confusão vai ser muita. Isto enquanto Farage anda na selva (literalmente) a preparar o regresso.
Um tema crítico vai ser a imigração: ainda no Reino Unido, atingiu 606 mil em 2022 e prevê-se 700 mil em 2023. A Migration Watch UK estima que a este ritmo a população passa de 68 milhões a 87 milhões em 2046, 15 novas Birmingham. Veremos como se traduz em tensões sociais.
Finalmente, a inflação está em queda: 3,2% nos EUA, 2,9% na Eurolândia e 4,7% no Reino Unido. Mas não está vencida. Grande parte da queda não está no controlo das autoridades: v. g. o preço das commodities caiu 30% em ano e meio. Bailey dizia em Westminster que os salários aumentam a 7,9%. A economia americana continua dopada em défice orçamental insustentável. Se se soltam os travões muito cedo, ela pode ressuscitar, talvez não ao terceiro dia, mas ao terceiro mês.