Sei de fonte segura (que não posso revelar) porque se passou toda esta confusão com o Infarmed: foi mais uma consequência da situação na Catalunha. Sim, a tentativa de levar o Infarmed para o Porto não foi mais que um reflexo do receio do Governo que o episódio da Catalunha se arraste para Portugal e o autarca do Porto comece a gritar por um Norte independente. É que da Madeira declarar a independência ninguém tem medo, que os madeirenses são os primeiros a não querer, Alberto João à cabeça, agora o Porto é outra história. E as consequências seriam terríveis: a linha do Norte a acabar em Aveiro? A maior autoestrada ser a que vai ao Algarve? O Benfica-FC Porto só acontecer na Champions ou na Liga Europa? Vade retro, Satanás, que não queremos ter que andar a comer tripas à moda de Leiria nem mandar pastéis de Belém para Valongo como produto de exportação.
Com uma perspetiva tão tenebrosa, o Governo imaginou uma solução ousada: mandar os lisboetas para o Norte e trazer a malta do Porto e arredores para Lisboa. Este grande movimento migratório cortaria rente os ímpetos separatistas no nosso retângulo. Como é que um portista que se preza podia querer separar-se do Porto? Claro que seria necessário tratar de alguns detalhes, mas nada seria inultrapassável: por exemplo, quem ficaria com o estádio do Dragão, o Benfica ou o Sporting? Nada mais fácil, tirava-se à sorte, que o outro ficava com o Bessa. Já agora, o Pinto da Costa teria que ficar no Porto, que Lisboa é pequena de mais para ele e Rui Rio. O Cristo Rei era desmontado e ia pedra por pedra para Matosinhos, e as pontes de D. Maria e D. Luís eram postas uma a seguir à outra, a atravessar o Tejo. Os lisboetas também podiam levar o papagaio da Serafina, se quisessem.
Mas a engenhosidade da solução vai para além do que a vista alcança. O Puigdemont, que o Governo, avisado pelas secretas, já sabia que queria vir para Portugal para ficar mais perto da Catalunha sem ser preso, ficaria baralhado, sem saber se havia de escolher Lisboa ou o Porto. E isto explica também a candidatura do ministro das Finanças à presidência do Eurogrupo. É mais uma jogada do Governo: enquanto andar entretido com os amiguinhos europeus, nem nota o custo disto tudo. Só faltava o Ministro da Saúde mandar tudo abaixo, porque não soube explicar a história do Infarmed. Ele, que foi escolhido para isto por ser professor! Consta que vai ter um castigo exemplar: vai para o Porto, mas fica o Ministério todo cá em baixo. Infarmed incluído.